Escravagista. Por Roberto Liebgott

Sobre a crueldade do trabalho escravo, promovido por grandes empresas, nos períodos das colheitas de maçãs e uvas na Serra Gaúcha.

Imagem: reporterbrasil.org.br

Por Roberto Liebgott.

Lugar de onde, em função da pele branca, se promove a escravidão, se cria, se busca e se estabelece vantagens e privilégios.

Lugar do opressor, daquele que não se importa com as outras e outros humanos, mas tão somente com a sua lucratividade criminosa.

Lugar do desprezível intolerante, que durante os dias, noites e, mesmo nos seus sonhos, exclue, persegue, agride, mutila e escraviza.

Lugar do racista, que discrimina e faz morrer a criança, o homem e a mulher preta, a quem, com extremo desprezo, trata como servos descartáveis.

Lugar de quem cultua a escravidão, porque dela se beneficia, assim como seus pais o fizeram no passado de colonização horrenda, através da qual deixaram os tentáculos da desumanização que aí está.

Lugar do ganancioso empresário, que contrata o trabalhador negro, indígena, nordestino, o migrante e nega-lhes a dignidade humana, o justo salário, a liberdade e a justiça.

Lugar de quem desmata, queima, expulsa e ocupa todos os espaços das filhas e filhos da Mãe Terra, tão somente para produzir riqueza banhada pelo suor e sangue dos escravizados.

Lugar do invasor, do mais vil perseguidor, que, por um vintém, nega compaixão, promove dor, tortura e assassina.

Escravagista, lugar do ser supremacista, do branco, que não sentiu e jamais sentirá – o corpo rasgado pela dor; nem sentirá a fome, porque se alimeta do trabalho escravo; jamais sentira o flagelo da intolerância racial, porque se sustenta nele.

Porto Alegre, 25 de fevereiro de 2023.

Roberto Liebgott é professor universitário, escritor, poeta e membro da Coordenação do CIMI/Sul.

 

 

 

 

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