Matar é anúncio

Por Roberto Liebgott, para Desacato.info.

Invadem, saqueiam, depredam, contaminam, incendeiam, sequestraram, torturam, estupram e matam.

As terras indígenas, quilombolas e ribeirinhas são, na concepção do governo e suas milícias de garimpeiros, madeireiros, fazendeiros, grileiros, de milicos e políticos, objetos de exploração indiscriminadas, tornando-as lugares onde a lei e os direitos humanos não compõem o ambiente de se viver.

Eles todos, associados aos órgãos de estado, patrocinam o terror e a desconstrução dos ideais de convivência e de relação entre as pessoas, a natureza, a civilização e agridem como prática motora, portanto, como um propósito, para que tudo seja feito com brutalidade e violência extrema.

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Não fazem as escondidas, não buscam enganar ninguém e agem, irremediavelmente, para demonstrar que, agora, quem manda e dita as normas são eles, grupos de criminosos amparados pelo Estado e suas estruturas de governança, desde o executivo, passando pelo legislativo e aninhando-se em gabinetes do judiciário.

Quando há resistências dos sujeitos, daqueles que são as vítimas desse ambiente de extremismo brutal, matam para informar que as armas, os homens e as organizações de segurança e investigação estão com eles, portanto, a existência do outro que resiste, não compõe o lugar e assassinam-se todos, indistintamente.

Dragaram crianças Yanomami, dilaceram jovens Madiha e Kaingang, enforcaram mulheres Yanomami, alvejaram com armas de fogo homens Guarani-Kaiowá em Mato Grosso do Sul, e chacinaram Chiquitanos em Mato Grosso, balearam guardiões das florestas e quilombolas no Maranhão, envenenaram bebidas consumidas por indígenas no Paraná, ou seja, eles agem sem escrúpulos e organizadamente, em rede, de Norte a Sul do país.

O contexto de atrocidades é cotidiano, naturalizou-se e relativizou-se a premeditação e a prática dos crimes contra as pessoas e o meio ambiente, pois mata-se, a cada 17 minutos, um jovem no Brasil e devasta-se, por dia, milhares de hectares de florestas, mas nada é velado, tudo pragmaticamente pensado para ficar estampado à vista de todos e sob o silêncio mórbido da justiça.

Roberto Antônio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.
A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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