Após chamado de Lula, países do G7 se comprometem a combater a insegurança alimentar

Texto assinado por 14 nações foi negociado pelo Brasil para buscar efetividade

Lula cobrou medidas mais efetivas no combate as mudanças climáticas com investimentos de países mais ricos – Foto: Ricardo Stuckert

Por Camila Salmazio, Brasil de Fato.

Após o primeiro discurso do presidente Lula na Cúpula do G7, evento realizado em Hiroshima, no Japão, uma declaração com ações para garantir a segurança alimentar em escala global foi assinada por 14 nações participantes, entre elas Estados Unidos, França e Brasil – convidado do bloco para esta reunião.

Os líderes se comprometeram a atuar “em cooperação com a comunidade internacional, para fortalecer a segurança alimentar e nutricional global”, com concentração especial de esforços no que chamaram de “crise imediata”, se referindo a guerra na Ucrânia. A exportação de grãos da Rússia e Ucrânia, o comércio internacional aberto e transparente e o apoio à cadeia de produção alimentar são algumas das medidas elencadas para serem realizadas em um curto prazo.

De acordo com as Nações Unidas, 828 milhões de pessoas estiveram em situação de fome em 2021. Os participantes da cúpula analisaram que a pandemia de covid-19, o preço dos alimentos, de fertilizantes e os impactos das mudanças climáticas agravaram a situação da fome em todo o mundo.

A médio prazo, os países pretendem criar mecanismos e se prepararem para prevenir e enfrentar futuras crises de segurança alimentar com medidas de cooperação para melhorar a transparência do mercado, ampliar a coleta e distribuição de dados e implementar estratégias conjuntas. “Reafirmar que o comércio agrícola deve ser baseado em regras, aberto, justo, transparente, previsível, inclusivo, não discriminatório e consistente com as regras da OMC”, diz a declaração.

Reforma no G7

Durante sua fala na primeira sessão “Trabalhando Juntos para Enfrentar Múltiplas Crises”, realizada na tarde de sábado (horário local do Japão), Lula criticou a formação de blocos que contemplam “apenas um número pequeno de países” e defendeu a reforma das instituições globais para permitir que a composição “dialogue com as demandas e interesses de todas as regiões do mundo”, com citação especial aos países africanos.

“Não faz sentido conclamar os países emergentes a contribuir para resolver as “crises múltiplas” que o mundo enfrenta sem que suas legítimas preocupações sejam atendidas, e sem que estejam adequadamente representados nos principais órgãos de governança global”, afirmou o representante do Brasil em seu discurso.

Membros do G7 e de países convidados se preparam para a foto oficial do encontro / Foto: Ricardo Stuckert

Já na segunda sessão de trabalho “Esforços compartilhados em prol de um planeta sustentável”, Lula lembrou que quando o G7 foi criado, a principal crise global girava em torno do petróleo e que 48 anos depois “o mundo ainda não conseguiu se livrar da sua dependência dos combustíveis fósseis”.

Ele alertou para a emergência de ações por conta do avanço de “uma crise climática sem precedentes” que está chegando a um “ponto irreversível” e que não afeta a todos em mesmo grau, nem no mesmo ritmo, se referindo aos impactos em pessoas com renda média e baixa em países emergentes.

A tecnologia foi citada por ele com uma aliada essencial, mas que não vai resolver sozinha a crise global: “O principal problema é político”, disse Lula.

O presidente agradeceu pelos aportes anunciados recentemente para o Fundo Amazônia e destacou que o bioma “é parte da solução”. “Os povos originários e aqueles que residem na região Amazônica serão os protagonistas da sua preservação. Os 50 milhões de sul-americanos que vivem na Amazônia têm de ser os primeiros parceiros, agentes e beneficiários de um modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável.”

Lula cobrou a promessa dos países ricos de alocarem 100 bilhões de dólares por ano contra as ações climáticas e destacou que outros esforços serão bem vindos, “mas não substituem o que foi acordado na COP de Copenhague. Não podemos permitir que essas Convenções sejam esvaziadas”, citou.

O presidente também destacou que o combate às mudanças climáticas passa por justiça social com a “transição ecológica e justa, que inclui industrialização e infraestruturas verdes, de forma a gerar empregos dignos e combater a pobreza, a fome e a desigualdade”.

Lula ainda participa da sessão “Rumo a um mundo pacífico, estável e próspero” na manhã de domingo, no horário local, além de uma série de encontros bilaterais com autoridades de vários países, entre eles o primeiro ministro do Vietnã, Pham Minh Chinh, e o presidente da União das Comores, Azali Assoumani.

Edição: José Eduardo Bernardes

 

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