Aperitivo indigesto: argentinos podem optar por valor de transportes sem ajuda do Estado

Contra agenda privatista de Javier Milei e Patricia Bullrich, governo lança mecanismo para argentinos optarem por pagar ‘preço cheio’ no transporte coletivo como amostra do que é, na prática, a redução do Estado

Por Felipe Bianchi, de Buenos Aires (Argentina), para a ComunicaSul*

A polêmica recente em torno do Sistema Único de Bilhete Eletrônico (Sube), serviço de pagamento unificado dos serviços de ônibus, trem e metrô na Argentina, escancara uma das batalhas centrais nas eleições que se iniciam no domingo (22): o papel do Estado na economia do país.

A corrida presidencial opõe três candidatos favoritos na disputa por um lugar no segundo turno – é preciso 45% dos votos ou 40% e uma diferença de 10 pontos percentuais em relação aos demais candidatos para liquidar o pleito já no domingo, cenário improvável segundo todas as pesquisas divulgadas até a publicação desta reportagem. A candidatura de Sérgio Massa, ministro da Economia e candidato do campo progressista pela chapa Unión por la Pátria, é a única que tem a centralidade do Estado como bandeira.

Para demonstrar na prática o que significa a agenda privatista de Patricia Bullrich (Juntos por el Cambio) e, em especial, o “plano motosserra” de Javier Milei (Alianza Liberal), o governo argentino anunciou uma medida pedagógica e inusitada: a partir do dia 20 de outubro, a população terá a opção de abrir mão do subsídio estatal nas passagens de transporte.

Página do serviço SUBE traz a novidade estampada em sua capa. Imagem: captura de tela

Em números, isso significa que tíquetes de ônibus que custam 60 pesos saltariam para cerca de 700 pesos (algo como sair de R$ 0,90 para R$ 10). Já bilhetes de trem que hoje valem 90 pesos passariam a custar ao redor de 1.100 pesos (de R$ 1,30 a quase R$ 16).

 

“Se você é contra os subsídios estatais, como Milei e Bullrich, basta renunciar ao preço garantido pelo Estado”, argumenta Diego Giuliano, ministro dos Transportes. “Isso não é mera questão de campanha, mas de esclarecimento sobre a crença de que tudo deve ser decidido exclusivamente pelo mercado”.

Segundo o presidenciável Sérgio Massa, o que fez o ministério dos Transportes é didático. “Não entendo por que se ofenderam tanto. Simplesmente contamos à população o custo das propostas de Bullrich e Milei. Apenas a verdade”, afirma.

A reação imediata de Milei foi dobrar a aposta: privatização total. “O melhor momento do nosso sistema ferroviário ocorreu quando era inglês”, defendeu o candidato da ultradireita. “O Estado deve se retirar do meio, porque a realidade é que quando o setor privado toma conta, faz muito melhor”, disse, repetindo mantras privatistas sem aprofundar ou fundamentar sua proposta.

De acordo com Massa, as reações enervadas de Milei e de Bullrich, que respondeu à novidade chamando o atual ministro da Economia de “burro”, se dão por conta de que a novidade desnuda, para a classe trabalhadora e para os aposentados, qual será o custo do transporte se vence, nas urnas, as propostas de Milei e Bullrich.

* Com informações de Página12

A Agência ComunicaSul está cobrindo as eleições de 2023 na Argentina graças ao apoio das seguintes entidades: jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais, Agência Sindical, Viomundo, Asociación Judicial Bonaerense, Unión de Personal Superior y Profesional de Empresas Aerocomerciales (UPSA), Federação dos Trabalhadores em Instituições Financeiras do RS (Fetrafi-RS); Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe-RS); Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos; Federação dos Comerciários de Santa Catarina; Confederação Equatoriana de Organizações Sindicais Livres (CEOSL); Sindicato dos Comerciários do Espírito Santo; Sindicato dos Hoteleiros do Amazonas; Sindicato dos Trabalhadores das Áreas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisa, e de Fundações Públicas do Rio Grande do Sul (Semapi-RS); Federação dos Empregados e Empregadas no Comércio e Serviços do Estado do Ceará (Fetrace); Federação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT Rio Grande do Sul (Fetracs-RS); Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR); Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (AASPTJ-SP), Federação dos/as Trabalhadores/as em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-PR), Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema-SP); Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina  (Sintaema-SC), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Estado do Paraná (Sintrapav-PR), Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste-Centro), Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc-SC); Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (Sinjusc-SC), Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal em Pernambuco (Sintrajuf-PE), mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS) e dezenas de contribuições individuais.

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