A dança como ferramenta de inclusão

Foto: Cristiano Prim

Por Luciana Moraes.

Falar sobre inclusão dos corpos por meio da dança também é objetivo do festival de dança Prêmio Desterro, que ocorre de 26 de janeiro a 5 de fevereiro, em Florianópolis. Além da diversidade artística que compõe a programação no palco do Teatro Ademir Rosa, anexo ao Centro Integrado de Cultura (CIC), os workshops e oficinas oferecem oportunidades para ampliar o repertório do movimento e sensibilidade corporal.

Entre as aulas voltadas para dançarinos, professores, educadores e interessados em geral, esta edição traz a Cia. Lápis de Seda para ministrar a oficina “Acessibilidade na Dança”. A aula ocorrerá neste sábado (28), das 15h30 às 17h30, no palco do Teatro Ademir Rosa. À frente do grupo formado por 10 bailarinos está a professora e coreógrafa Analu Ciscato.

“Dialogar com o público da arte e cultura é essencial. São pessoas que podem aplicar formas de inclusão em suas localidades, transformando comunidades. O nosso trabalho é replicável por essência, em qualquer área de trabalho. Se antes incluir era a grande novidade, agora é a grande necessidade. A sociedade, especialmente as novas gerações, traz demandas de diversidade, quer ver essa diversidade no seu dia a dia, quer ver essa revolução acontecer. E nós estaremos lá para isso: mostrar para todo mundo que inclusão é uma possibilidade e uma necessidade, com muito orgulho e muita alegria de conquistar cada novo espaço”, arremata Ana.

As inscrições para a oficina são gratuitas e devem ser feitas diretamente no local.

 Uma trajetória de 40 anos na dança 

Analu Ciscato nasceu na zona Sul de São Paulo. O contato com a dança aconteceu ainda na infância, e aos 16 anos Ana seguiu seu coração, o desejo do seu corpo. Começou os estudos aprendendo a técnica do balé clássico, passou pelas aulas de Carla Perotti, Yellê Bittencourt, Ady Addor e outras figuras importantes da dança brasileira.

“Comecei a me interessar pela dança contemporânea, por uma movimentação que dialoga mais com as pessoas, com um propósito mais humano, de incluir mais gente versus contribuir para um ambiente cada vez mais ‘exclusivo’”, recorda o momento.

Nos anos 1990, partiu para Cuba, e lá se aproximou de um trabalho voltado às pessoas com deficiência, conhecido como Psicoballet. “Senti alguma coisa se encaixar, senti que estava no lugar certo, na hora certa”. De volta a São Paulo, dividiu o conhecimento adquirido no projeto ABCDança, onde atendia crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, provenientes de regiões periféricas e favelas da cidade.

Com a mudança para Florianópolis, em 2001, Analu assumiu a direção artística do grupo de dança da Apae e, em 2012, aceitou o convite para ser uma das coreógrafas do espetáculo “BREATHE”, que abriu os Jogos Náuticos da Olimpíada de Londres. Retornou ao Brasil obstinada a levar a dança inclusiva para novos lugares. Toda a vivência serviu para a fundação da Lápis de Seda Cia. de Dança Inclusiva, em Florianópolis.

“A Cia. surgiu com o propósito de formar e profissionalizar bailarinos com deficiência, e quando a pessoa com deficiência decide sair desse lugar de cidadã de segunda classe, de codependência e submissão, para mim é uma coisa revolucionária! Essa população tem cada vez mais recursos para se colocar ativamente na sociedade, sem retrocessos.  A nossa proposta é ir na direção contrária do que vimos até aqui em relação às minorias: nós juntamos, unimos, somamos, agregamos, incluímos”, explica.

Autoconhecimento

Afinal, o que é normal? Um padrão definido pela sociedade que exclui as existências que não se encaixam no molde estabelecido. Analu defende o contrário: um ambiente inclusivo onde cada pessoa – com ou sem deficiência – pode explorar a sua individualidade e ocupar o seu lugar.

“Esse formato me atrai muito, porque fica evidente que todas as pessoas têm deficiências e habilidades, forças e fraquezas, talentos e vulnerabilidades. Quando aprendemos a apreciar o sabor que a inclusão dá ao caldo da dança, podemos observar como isso faz sentido na sociedade, como empodera todas as pessoas a mergulhar nessa jornada de autoconhecimento”, defende.

A experiência causa um impacto enorme no público e na sociedade. Também transforma o olhar das pessoas, a maneira como percebem o diferente, como se percebem. É sobre isso que trata a oficina ” Acessibilidade na Dança”, uma semente que será espalhada pelos corpos que dançam.

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