Xª Edição das Jornadas Bolivarianas na UFSC: Pensamento crítico contra a resignação vigente.

Por Luís Felipe Aires Magalhães, para Desacato.info.

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Na manhã de hoje (09/04), ocorreu a abertura da Xª Edição das Jornadas Bolivarianas, no Auditório da Reitoria da UFSC. O seminário, organizado anualmente pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos, o IELA, tem como tema este ano “A América Latina e os 40 Anos da Teoria Marxista da Dependência”.

Como é de costume nas Jornadas, o auditório estava lotado para a cerimônia de abertura e a primeira conferência, “Origem e Desenvolvimento da Teoria Marxista da Dependência”, com Theotônio dos Santos e Gilberto Vasconcelos. Ao longo da manhã, temas tão cruciais quanto proscritos à Universidade e à reflexão crítica nacional foram debatidos. Questões como a vigência atual da teoria da dependência, a formação histórica do subdesenvolvimento e a fórmula, “impecável”, de André Gunder Frank, o desenvolvimento do subdesenvolvimento, foram apresentadas a jovens estudantes, alguns ainda surpresos com aquele espaço crítico de reflexão, infelizmente incomum nas Universidades brasileiras, particularmente na UFSC.

Por algumas horas, debateu-se a formação da Teoria Marxista da Dependência à luz das contradições econômicas e sociais latino-americanas que exigiam uma ruptura teórica e metodológica com os esquemas de interpretação dominantes – naquele ínterim e ainda atualmente. Theotônio e “Giba” destacaram que, no cerne desta nova interpretação, radicalmente distinta, estava o compromisso político militante em transformar o país e o continente, razão fundamental da marginalização e proscrição de suas principais figuras. Ruy Mauro Marini, André Gunder Frank, Vânia Bambirra e o próprio Theotônio dos Santos se transformaram em autores proibidos no conteúdo das disciplinas, nas linhas de pesquisa, nos programas de pós-graduação etc. O “poder da caneta”, ou seja, da gerência acadêmica no Brasil, permaneceu ignorando-os, o que revela que ao exílio político da ditadura seguiu-se e vigora ainda o exílio intelectual em “democracia”. Há 10 anos o IELA vem tentando romper este cerco, denunciar o projeto colonial reinante na ciências sociais brasileira. O principal instrumento desta tarefa são as Jornadas Bolivarianas, daí a importância dos debates que se iniciaram hoje e seguem até sexta-feira (11/04).

Ao longo de dez edições de Jornadas Bolivarianas, o IELA consolidou-se como referência nacional de estudos sobre a América Latina e a Teoria Marxista da Dependência, de modo que o tema desta edição serve a um balanço do trabalho nestes anos, em um momento fundamental no qual a Universidade e o noticiário, em geral, recém “descobrem” a América Latina. Aos estudantes que puderam participar desta trajetória, coube-lhes uma formação teórica e militante que lhes transformaram em algo radicalmente diferente do produto social de seus cursos: visão crítica da realidade, conhecimento das lutas sociais em curso no continente e compromisso político com a transformação social. Estudantes que, ao se deparar com uma Universidade prosaica, distanciada dos problemas nacionais e reprodutora de uma visão colonizada sobre o processo histórico e as possibilidades de futuro do país, tiveram à tarefa de fazer a Universidade adicionada a tarefa de mudar a Universidade. Se a conjuntura econômica e social do início do século passado transformou estudantes como estes em precursores da Reforma Universitária, na Argentina de Yrigoyen, e transformou-os, entre os anos 1960 e 1970, em militantes da esquerda revolucionária latino-americana, durante a Ditadura Civil-Militar no Brasil, os transformará em que sujeito social hoje? A resposta a esta pergunta está em definição – e em disputa – e é animador ver que o ímpeto militante e radical do IELA e das Jornadas Bolivarianas permanece forte e capaz de pautar o debate intelectual, de romper com a ideologia dominante em nosso país: a ideologia da resignação.

Foto: Reprodução/IELA.ufsc.br

 

 

1 COMENTÁRIO

  1. Muito bom este comentario! de fato, as jornadas são CRUCIAIS para o pensamento critico na universidade, na cidade e na AL, e seu formato- tempo longo para a s explanaçõe,s permanência dos participantes num verdadeiro dialogo e interlocução, e espaço ´para intervenções são muito distintos do que predomina no ethos acadêmico, hoje. Muito bom!

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