Sobre democracia, golpes e ditaduras na América Latina. Por Sebastião Costa

A burguesia poderia ter conversado com a FIESP sobre a vaquinha de 500 milhões remetidos ao bolso de deputados pra derrubar a presidenta Dilma.

 

Foto: Sérgio Lima/AFP.

Sobre Democracia, Golpes e Ditaduras na América Latina

Por Sebastião Costa.

E Lula foi, pra variar, apedrejado por ter recebido Maduro com a naturalidade de um chefe de Estado. Pedras atiradas pelas baleeiras da mídia corporativa, aquela mesma que em passado muito recente metralhou o governo Dilma ( a presidente mais honesta da história desse  país ) para  entregar a Eduardo – 17 processos – Cunha e aos abutres da Câmara Federal, o poder de interromper um mandato outorgado pela maioria do povo brasileiro.
De quebra, transformou o presidente mais bem avaliado da história em um grande corrupto. Mesmo que na ‘ficha policial’ do ex-presidente só existisse um triplex da OAS. É que a pedra no caminho dos interesses da Casa Grande precisava ser removida.

Da procuradora americana Karine Moreno-Taxman em palestra para agentes federais em Fortaleza: “o povo precisa detestar o rei”. Na plateia, o palestrante Sérgio Moro.
Matéria do respeitado jornal francês Le Monde aponta o dedo para os norte-americanos na condução das estratégias para redimensionar a geopolítica na América do Sul. “a maior operação contra a corrupção do mundo, degenerou para o maior escândalo judicial do planeta”.
“…o objetivo era minar a autonomia geopolítica brasileira e acabar com a ameaça representada pelo crescimento das empresas que colocariam em risco seus próprios interesses”.
Não custa lembrar que o PIB brasileiro naquele período ganhou medalha de ouro, quando saltou da 12% posição para empatar com  a Inglaterra e ficar entre as 06 maiores economias do mundo.

Corte para Venezuela de 2017

Do jornal mais influente do mundo, THE NEW YORK TIMES: “A derrubada do presidente  venezuelano Nicolás Maduro foi tema de reuniões secretas entre representantes do presidente dos EEUU  e militares dissidentes venezuelanos ao longo de 2017-2018”. A matéria expõe a franqueza e os objetivos de Trump: “temos opção militar para Venezuela”

Todos as confabulações para a derrubada de Maduro foram detalhadas pelo respeitado jornal Espanhol EL PAÍS: ” Com a pressão das ruas do lado oposicionista e uma saída forjada na Constituição a execução do plano era uma questão de dias.” “…de modo que na terça-feira quando Guaidó e López diante da base militar de La Carlota  pediram as pessoas para que saíssem às ruas e aos militares que participassem da ofensiva, a surpresa foi maiúscula”

Ainda segundo o jornal, os conspiradores, agentes de inteligência, haviam repassados  aos  golpistas informações distorcidas da disposição da cúpula do exército e da alta cúpula da administração do Estado para consolidar a derrubada de Maduro. E foi aí que o golpe pifou.
A matéria afirma ainda que López não teria dado um passo sem o consentimento da Administração de Trump

Um olhar mais atento na história política de nosso continente e vamos convir que esse  filme, rodado em terras venezuelanas é uma reprise, fartamente reprisada.
Na verdade, pura incompetência dos golpistas venezuelanos. Não tiveram sequer a inteligência de consultar seus colegas vizinhos.

A burguesia poderia ter conversado com a FIESP sobre a vaquinha de 500 milhões remetidos ao bolso de deputados pra derrubar a presidenta Dilma.

Custava uma conversada com o juiz e o procurador sobre o lawfare lavajatista? Podia também ter investigado um pouco o know how golpista da UDN do mineiro Magalhães Pinto, que em conluio com os militares e o devido suporte norte-americano mandaram João Goulart criar boi no Uruguai. E quem sabe, uma visita  aos túmulos de Roberto Marinho e do paraibano Assis Chateaubriand inspirassem os golpistas midiáticos daquele país aprenderem a ‘suicidar’ um presidente.

A burguesia venezuelana, se quiser um dia golpear Maduro pode muito bem conversar com os executivos da Monsanto, a rainha dos transgênicos ou com a gigante do alumínio, a anglo-australiana Rio Tinto, que lá em 2012 ‘convenceram’ os parlamentares paraguaios (24 horas durou o processo do golpe)a mandar o presidente Lugo pra casa.
Uma consulta ao sistema judiciário Hondurenho seria outro caminho pra tentar esse golpe contra Maduro. É que lá naquele país centro-americano, o presidente Zelaya cometeu o  ‘crime’ de tentar fazer um plebiscito sobre a possibilidade de introduzir na Constituição a alternativa da reeleição.

Uma grande besteira. De madrugada, o exército com uma ordem judicial deportou o presidente ( de pijama), eleito pelo povo hondurenho para a Costa Rica .

Tudo isso, sob a proteção e o estímulo da midiazona direitizada, com o devido manuseio dos inquilinos da Casa Grande. Não custa lembrar, que parcela importante dessa midiazona, em 2002 interrompeu toda a programação e passou  o dia inteiro convocando a população venezuelana a caminhar em busca do palácio Miraflores para derrubar o presidente Chavez.
Chavez foi aquele que inundou morros e favelas de postos de saúde, reduziu a mortalidade infantil e a Venezuela subiu vários batentes na escala do IDH, avaliado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento(PNUD). Impulsionando, lógico  a popularidade do presidente nas classes  que habitam a base da pirâmide social. Maduro seguiu os passos de seu padrinho político.

Há de se perguntar: Qual elite latino-americana suporta conviver com um presidente de esquerda com tanto prestígio e poder?

Moral da história:  Todo e qualquer debate que se pretenda focar democracia, golpes e ditaduras no contexto desse imenso, sofrido e injusto continente, é absolutamente indispensável dá  uma olhada no retrovisor da história política e social da América Latina.

Sebastião Costa é médico pneumologista e apresentador do programa Reflexões.

 

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