Quando o intolerável pode ser tolerado. Por Jair de Souza.

Por Jair de Souza.

Em fevereiro de 2022, aqui neste mesmo espaço (https://desacato.info/os-judeus-de-esquerda-a-luta-contra-o-antissemitismo-e-o-estado-de-israel-por-jair-de-souza/), eu publiquei um artigo no qual chamava a atenção para a manipulação que se fazia do antissemitismo com o propósito de proibir a externação de críticas às políticas de limpeza étnica praticadas pelo Estado de Israel contra o povo palestino. Modestamente, gostaria de recomendar sua releitura.

No entanto, nos dias atuais, o problema se agravou. Agora, o que se busca com a manipulação da expressão “combate ao antissemitismo” é não apenas bloquear a veiculação de vozes contrárias ao sionismo israelense, mas também, fundamentalmente, inviabilizar a luta daqueles que não desejam permitir que se consuma o monstruoso genocídio que está em flagrante curso.

Leia mais: Europa e Estado de Israel: irmanados pelo colonialismo.

Por isso, instituições umbilicalmente ligadas ao estado sionista estão agindo em nosso país contra cidadãos brasileiros, fazendo uso de seu imenso poderio (econômico, midiático, político, etc.) para tentar calar aqueles que ousam protestar contra o extermínio de crianças e mulheres e as demais atrocidades que estão vitimando o povo palestino em seu conjunto.

Para essas entidades que operam no Brasil como verdadeiras agências do Estado de Israel, a argumentação utilizada para buscar cercear as manifestações de repulsa a tantos crimes horrendos continua sendo a velha e surrada alegação de prática de antissemitismo por parte daqueles que não se conformam com essas matanças em escala industrial.

Não importa que quem esteja denunciando os crimes do sionismo seja ele próprio um judeu, alguém que tenha tido vários de seus familiares assassinados em campos de concentração nazistas. Se teve a ousadia de criticar o Estado de Israel, passa também a fazer parte do rol dos antissemitas. E, como tal, deve ser perseguido implacavelmente, por todos e quaisquer meios.

Em vista disto, precisamos reiterar o que já deveria ser um consenso: sionismo e judaísmo decididamente não significam a mesma coisa. Não à toa, os judeus humanistas são todos, sem nenhuma exceção, contrários à ideologia sionista. É importante deixar claro que, assim como nem todos os alemães eram nazistas, também não podemos aceitar as tentativas dos sionistas de estender o conceito de sionismo a todos os judeus.

Curiosamente, a maioria dos nazistas ou simpatizantes do nazismo na atualidade são admiradores das maneiras como o Estado de Israel lida com os problemas da população palestina. É muito difícil, por exemplo, deparar-se com um bolsonarista que não seja um entusiasta defensor dos métodos repressivos empregados para aniquilar a resistência dos palestinos e expulsá-los de suas terras. Por outro lado, ir em busca de um bolsonarista que se oponha ao estado sionista é uma tarefa tão difícil como a de encontrar uma agulha num palheiro.

E é bastante compreensível que assim seja. Qualquer que seja sua versão, o nazismo é, em última instância, a trincheira de resistência do grande capital nos momentos em que se vê acuado. Em tais circunstâncias, o imenso ódio gerado pelas condições deploráveis que o sistema engendra é canalizado contra aqueles grupos humanos que podem servir como boi de piranha para que se possa abrir caminho para a continuidade do sistema. Entretanto, como eu alertava em meu artigo já citado, nos tempos presentes, os grupos alvos para a canalização do ódio nazista estão longe de ser as comunidades judaicas, pelas várias razões que ali procurei expor. Como eu dizia, os judeus do momento são outros.

O que parece que está predominando na atualidade é uma forte adesão ao pragmatismo, tanto de parte dos nazistas como de parte dos sionistas. Tanto assim que, como já tínhamos ressaltado, os nazistas brasileiros (ou seja os bolsonaristas) são de modo geral simpatizantes do sionismo israelense e, por sua vez, a aceitação dos nazistas por parte dos sionistas vai se consolidando a passos largos. É isto o que poderemos constatar e comprovar ao assistir ao vídeo.

Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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