Que a luz de Jesus ilumine a todos os cristãos. Por Jair de Souza.

Por Jair de Souza.

Nesta segunda-feira, amanhecemos sendo expostos às imagens por fotos ou vídeos com crianças palestinas despedaçadas, com os restos de seus corpos encharcados de sangue. Tinham sido destroçadas pelas bombas de um dos mais poderosos exércitos do planeta. Estamos falando, evidentemente, das forças militares do sionista Estado de Israel. Sem exagero, eram cenas de uma monstruosidade digna de causar inveja ao mais inveterado nazista. No entanto, o mais estarrecedor foi constatar que por aqui também podemos encontrar gente que busca justificar, e até mesmo apoiar, o que está sendo feito contra essas crianças indefesas.

Além do mais, é assombroso saber que boa parte dessas pessoas que se mostram condizentes com a chacina em curso está vinculada a instituições religiosas que se dizem cristãs. Como aceitar que um seguidor de Jesus possa ser desprovido de qualquer sensibilidade com o sofrimento alheio e ser capaz de permanecer indiferente diante de crimes tão abomináveis. No entanto, por incrível que possa parecer, esta é a triste realidade.

Em primeiro lugar, é preciso deixar evidente que a principal obrigação de um cristão é se esforçar para ver o mundo com os olhos de Jesus. Não é uma tarefa fácil, convenhamos, devido à magnanimidade do sentido de bondade e justiça por ele impartido. Para conhecer um pouquinho do significado da figura de Jesus, basta folhear os relatos de sua vida nos Evangelhos, independentemente de qualquer posicionamento religioso. Vemos ali que em nenhum momento Jesus adotou ideias ou praticou ações que visassem eliminar a vida de outros seres humanos, muito menos das crianças, às quais ele demonstrava ter todo afeto e amor possíveis.

Na verdade, o que Jesus nos revela é que ele preferiu entregar sua própria vida em defesa dos direitos por justiça e solidariedade aos mais necessitados. É certo que Jesus nunca se acovardou diante das ameaças dos poderosos e sempre os enfrentou com altivez e determinação, mas, por outro lado, jamais tomou qualquer iniciativa que pudesse causar mal a seu povo. E quando dizemos o povo de Jesus, falamos fundamentalmente do povo trabalhador e necessitado, e não dos ricos e abastados.

No entanto, nestas horas em que somos tomados pelo horror de tantas mortes indiscriminadas, vemos como certos líderes religiosos procuram se apropriar do nome de Jesus na tentativa de justificar atrocidades abomináveis que, seguramente, Jesus nunca aprovaria. Não é admissível que, perante o assassinato de todas essas crianças palestinas, alguém que diga levar Jesus no coração não sinta que o próprio Jesus também está sendo assassinado.

Em outros momentos históricos, vimos como representantes de igrejas evangélicas e católica se deixaram equivocar e, com isso, induziram seus seguidores a erros imperdoáveis. Foi assim na primeira etapa do nazismo alemão, quando, devemos recordar, a maioria das igrejas cristãs se alinharam com as políticas hitleristas. Quando se deram conta de seu erro, milhões de seres humanos já tinham pagado com sua vida por isso.

Os que insistem em prestar apoio ao Estado de Israel apesar de sua prática genocida alegam que tudo isto está previsto na Bíblia e, portanto, corresponderia à vontade de Deus, uma vez que o reinado de Jesus seria instalado após o extermínio do povo palestino. Considero uma verdadeira agressão ao legado de Jesus acreditar que ele admitiria que seu Reino pudesse ser edificado por cima dos cadáveres de crianças destroçadas, regado pelo sangue de tanta gente indefesa e sobre as terras usurpadas de seus habitantes anteriores. Seus ensinamentos só poderiam nos transmitir a certeza de que seu novo mundo deveria estar fundamentado no amor, na tolerância, na bondade e na justiça.

Dentro de sua compreensão de que um Deus justo e bondoso jamais orientaria seu povo para a prática de maldades, Jesus não vacilou em rejeitar aqueles trechos do Velho Testamento que ele considerava que precisavam ser retificados. Todos podemos nos lembrar de várias instâncias em que Jesus se recusa a seguir algum ordenamento com o qual ele discordava tão somente por estar escrito. Foi assim em relação a qual seria o povo escolhido de Deus, quando Jesus deixou mais do que patente que seu povo seria aquele que seguisse o caminho do bem que ele nos estava indicando, e não em função de uma condição fortuita de nascimento.

Seria preciso ir inteiramente contra o espírito de Jesus para aceitar que o massacre do povo palestino está ocorrendo em conformidade com seus desígnios. É uma afronta à memória de sua dedicação e entrega em prol da solidariedade e fraternidade ficar impassível diante do martírio imposto a crianças e mulheres para que sejam trucidadas em nome da construção de seu futuro reino. Afinal, trata-se do Reino de Jesus, e não o de Satanás.

Para um cristão sincero, jamais poderia haver a mais mínima dúvida: nenhuma interpretação de passagens bíblicas pode se sobrepor aos ensinamentos ministrados em vida pelo próprio Jesus. E Jesus teve grandeza suficiente para fazer-nos entender que a bondade está acima de tudo. Um Deus justo e bondoso nunca ordenaria ou aceitaria o sofrimento de tantas crianças para viabilizar a construção de seu reinado e muito menos para garantir riqueza de outros. Um deus que assim agisse não se diferenciaria em nada do diabo.

O vídeo deste enlace (https://www.dailymotion.com/video/x8smcck), vai nos ajudar a entender de onde advém a interpretação errônea que está levando muitos cristãos a tomarem posicionamentos que se chocam com o esperado de quem pretende viver em sintonia com os ensinamentos de Jesus.

Por iso, em nome da grandiosidade de Jesus, ajudemos a pôr fim ao massacre das crianças e do povo palestino.

Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.

A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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