México: Prefeito coordenava cartel que atacou estudantes

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O procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, afirmou nesta quarta-feira (22/10) que o prefeito de Iguala, José Luis Abarca Velázquez, e a primeira-dama, María de los Ángeles Pineda Villa, eram os principais operadores do grupo narcotraficante Guerreros Unidos, acusado do desaprecimento de 43 estudantes em 26 de setembro deste ano.

De acordo com o jornal La Jornada, Velázquez financiava o grupo mediante um pagamento mensal entre 2 e 3 milhões de pesos mexicanos (entre R$ 367 mil e R$ 551 mil) ao grupo criminoso. Pelo menos 600 mil pesos (R$ 111 mil) eram destinados ao pagamento de policiais de Iguala, município a 200 km da Cidade do México.

Além disso, Karam acusou Velázquez, María de los Ángeles, o diretor da polícia do município, Felipe Flores Vázquez, e um integrante do grupo de serem os “autores intelectuais” da ação contra os estudantes.

Com base nas declarações de 52 pessoas presas, a agressão, detenção e posterior desaparecimento dos estudantes tiveram como objetivo evitar que eles pudessem supostamente sabotar um evento promovido pela primeira-dama na cidade, tal como ocorreu em junho de 2013. María de los Ángeles, parente de dois operadores do cartel, era a responsável pela distribuição do dinheiro e contava com a conivência do marido e do secretário de Segurança Pública, Felipe Flores Velázquez, como informou Karam. Todos receberam ordem de prisão.

Na última sexta-feira (17/10), Velázquez foi afastado do cargo.

Desaparecimento

De acordo com a promotoria, no dia 26 de setembro, às 18 horas, os estudantes partiram da escola onde estudavam em direção a Iguala a bordo de dois caminhões. Às 21 horas, chegaram ao destino, onde entraram nos ônibus.

Ao tomar conhecimento da chegada dos estudantes à cidade, o grupo narcotraficante considerou que a ação tinha como objetivo repetir os eventos de 2013 e, por isso, pediu apoio à polícia de Cocula, cidade vizinha. De acordo com o relato de Marco Antonio Ríos, integrante do Guerreros Unidos à promotoria, a ordem de enfrentar os estudantes veio do prefeito de Iguala.

As polícias de Iguala e Cocula, então, bloquearam a estrada e evitaram que os ônibus seguissem e um dos jovens foi morto, fazendo com que alguns dos estudantes saíssem em fuga. Os policiais, então, começaram a perseguir o veículo. Em meio à confusão, no entanto, eles detiveram e alvejaram um terceiro ônibus, com membros da equipe de futebol Los Avispones de Chilpancigo.

Após perceberem o erro, libertaram os esportistas e foram atrás novamente dos estudantes. Quando os encontraram, os levaram para a central de polícia de Iguala. Na sequência, afirma o promotor, os jovens foram conduzidos por policiais de Cocula, que, por sua vez, os transportaram para Pueblo Viejo, onde os entregaram aos narcotraficantes do Guerreros Unidos na presença dos oficiais de Iguala.

Na região, foram encontradas valas comuns com corpos de 30 pessoas – mas, de acordo com exames de DNA,nenhuma deles corresponde aos desaparecidos. Novos exames serão realizados.

Manifestações

Nesta quinta-feira (23/10), centenas de estudantes declararam greve para que pudessem se unir às manifestações que estão sendo realizadas no país. Na noite desta quarta (22/10), cerca de 25 mil mexicanos participaram da manifestação realizada na Cidade do México, considerada uma das maiores realizadas nos últimos anos no país.

O caso dos 43 estudantes abre novamente a discussão em torno dos desaparecimentos no país, questão que se arrasta há anos sem que o governo tome medidas eficazes sobre o caso. Pais dos jovens desaparecidos, em conjunto com os manifestantes, pediram a renúncia do governador de Guerrero (onde fica Iguala), Ángel Aguirre Rivero, a solução do caso e respostas efetivas por parte do governo. “Damos dois dias ou vamos tomar outro tipo de medidas. Que atentem às consequências”, disse um dos representantes dos pais ao La Jornada.

Foram realizados atos em 18 estados mexicanos. A mobilização ganhou repercussão mundial. Diversas pessoas no Rio de Janeiro, Buenos Aires, Santiago, La Paz, Bogotá, Barcelona (Espanha), Madri, Paris, Helsinki, Copenhague, Florença (Itália) e Londres expressaram, com fotografias dos jovens e cartazes, indignação diante do desaparecimento dos estudantes.

Foto: Agência Efe

Fonte: Opera Mundi

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