Lula lá na ONU: Romper com a nova dependência. Por Marcio Pochmann

Foto: Ricardo Stuckert

Por Marcio Pochmann.

Em discurso arrebatador na ONU, o presidente Lula reafirmou: “O Brasil está de volta”. Após ter visitado 21 países em menos de 9 meses, o Brasil ascendeu ao plano internacional.

Ao mesmo tempo, busca se reconectar internamente consigo mesmo e, externamente, com o continente americano e com o mundo.

Certamente, uma nova posição desafiadora, justamente no mundo que se reconfigura diante da profunda transformação digital e seus impactos na Divisão Internacional do Trabalho.

No final dos anos de 1960, a teoria da dependência se tornou relevante aos países periféricos da época ao revelar a permanência de traços mais sofisticados do subdesenvolvimento, não obstante o salto modernizante ocorrido na transição do longevo agrarismo para a nova sociedade urbana e industrial.

O Brasil havia montado o exitoso padrão de colaboração entre o Estado, capital nacional e estrangeiro na periferia do capitalismo mundial, embora a fonte chave da vantagem comparativa, especialmente tecnológica, seguia centrada em corporações transnacionais.

Na tentativa de reverter o real processo da dependência externa, o governo civil-militar implementou a política de informática com reserva de mercado para empresas nacionais e incorporação de mão de obra qualificada.

Entre 1979 e 1983, em plena recessão econômica, as empresas brasileiras saltaram de 23% para 46% de todas as vendas de computadores no país, ao mesmo tempo em que permitiu formandos das áreas de exatas deixassem de ser vendedores nas empresas estrangeiras, como IBM e Burroughs, instaladas desde 1924 no Brasil, para assumirem postos de relevância nas empresas nacionais (cobra, Itaú-Tec e outras).

O ingresso passivo e subordinado na globalização a partir de 1990 jogou fora a estratégia soberana brasileira do desenvolvimento tecnológico, o que o tornou cada vez mais um país exportador de produtos primários e depende, crescentemente, da importação de bens e serviços digitais.

Em pleno processo de digitalização da economia brasileira, a mudança tecnológica reafirma as suas condições de aprofundamento da dependência econômica nacional.

Por isso, a dependência digital por ser ainda mais sofisticada assume simultaneamente uma possibilidade de superação quanto a reprodução do subdesenvolvimento, cujas consequências principais se expressam nas várias formas de desigualdades.

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