José Antonio Kast e a nostalgia pela ditadura

José Antonio Kast se encontrou com Jair Bolsonaro em 2018 no Rio de Janeiro (@joseantoniokast).

Defensor do regime de Pinochet, filho de um ex-oficial nazista e apoiador da “mão dura”, o candidato de extrema direita José Antonio Kast aspira à presidência chilena nas eleições de 19 de dezembro.

Kast, indicado pela Frente Social Cristã, venceu o primeiro turno das eleições de 21 de novembro com 27,91% dos votos, apenas dois pontos acima de seu rival, Gabriel Boric, da coalizão de esquerda Apruebo Dignididad (Aprovo Dignidade) que chegou a 25,83%.

O advogado e político chileno de 55 anos assumiu seu primeiro cargo público em 1996 como vereador na prefeitura de Buin, no sul da Região Metropolitana de Santiago, e atuou como deputado por quatro mandatos consecutivos de 2002 a 2018 pelo partido Unión Demócrata Independiente (União Democrática Independente) de direita.

Convencido de que suas ambições presidenciais não teriam sucesso na UDI, ele se separou dessa organização para concorrer como candidato independente à presidência em 2017, quando ficou em quarto lugar com 7% dos votos.

Em 2018, fundou o movimento Ação Republicana, transformado em 2020 em Partido Republicano, e no ano seguinte registrou sua candidatura ao Palácio de La Moneda por essa formação, apoiada pelo Partido Conservador Cristão.

Kast tem estado no centro da polêmica nos últimos dias após as revelações do jornalista Mauricio Weibel de que seu pai, Michael Kast, aderiu voluntariamente ao partido nazista de Adolf Hitler em 1942.

Uma carteira de identidade publicada nas redes sociais contradiz as afirmações do candidato à presidência, que sempre garantiu que seu pai havia lutado na guerra como simples recruta para o serviço militar obrigatório.

“Quando há uma guerra e há um alistamento obrigatório, um jovem de 17 ou 18 anos não tem a opção de dizer que não vou porque está sendo julgado pelos militares e fuzilado no dia seguinte”, disse Kast em uma ocasião.

Para o jornalista Weibel, Kast mentiu conscientemente e é muito importante que em meio à campanha eleitoral o público saiba se seus candidatos estão falando a verdade ou não.

Kast também é muito criticado por apoiar a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), negar as violações de direitos humanos cometidas por aquele regime e favorecer o perdão aos repressores.

“Se Pinochet estivesse vivo, votaria em mim”, disse o candidato à presidência, ativista e entusiasta do “sim” no referendo de 1988 para decidir se o ditador continuava no poder, consulta em que ganhou o “não”.

Às vésperas da votação, quando as cinco pesquisas aqui publicadas o colocam em desvantagem em relação a Boric, o representante da extrema direita teve que ajustar seu programa de governo para ganhar o voto de outros setores.

Kast reverteu sua proposta de abolir o Ministério da Mulher e até pediu desculpas às mulheres. Também eliminou a ideia de revogar a lei do aborto que permite a interrupção da gravidez em caso de risco vital para a mãe, inviabilidade fetal e estupro.

A oposição explícita à lei do casamento igualitário, recentemente aprovada pelo Congresso Nacional e promulgada pelo presidente Sebastián Piñera, foi retirada de seu plano.

“Dissemos que o programa não estava gravado na pedra”, disse Kast ao apresentar a nova versão, onde mantém a intenção de abrir uma vala na fronteira para impedir a passagem de migrantes, semelhante à promovida pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump na área de fronteira com o México.

Também confirma a intenção de encolher o Estado e fundir ministérios, sem oferecer números, dar continuidade ao sistema previdenciário vigente durante a ditadura e reduzir a carga tributária das grandes empresas, embora tenha prometido fazê-lo de forma gradativa.

O candidato de extrema direita mantém seu compromisso com a recuperação da “paz e da ordem”, defende a detenção de pessoas em outras áreas que não as prisões, como fez Pinochet, e apoia a militarização na chamada macrozona sul, onde vive o povo mapuche.

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