Humanidade precisa mudar ‘rumo’ da gestão da água para sobreviver, alerta secretário-geral da ONU

Em 2015, o Acordo de Paris estabeleceu que, para 2030, a população do planeta deveria ter acesso aos serviços de água e saneamento, mas os últimos relatórios indicam que o mundo ainda está muito longe disso.

Foto: JON WARREN / World Vision

Texto de Rádio França Internacional – RFI.

A humanidade depende de “um novo rumo” na gestão da água, alertou, nesta sexta-feira (24), o secretário-geral da ONU, António Guterres, no encerramento da Conferência sobre a Água, na sede das Nações Unidas, em Nova York. Diante do risco iminente de uma crise hídrica mundial, “todas as esperanças de futuro da humanidade dependem […] de que se trace um novo rumo baseado na ciência para dar vida à agenda de ação pela água”, enfatizou Guterres.

“A água deve estar no centro da agenda política”, continuou ele, repetindo em seu discurso os muitos apelos pela nomeação de um enviado especial sobre este recurso, que não apresenta uma agência dedicada à sua defesa no sistema ONU.

A conferência, a primeira desde 1977 e que teve a presença de 10 mil participantes em três dias, revelou uma “verdade central”, de acordo com o secretário-geral: a água é o “bem comum mais precioso que une a todos nós”.

Guterres destacou o papel-chave da água na saúde, no saneamento, na higiene, na prevenção de doenças, na paz, no desenvolvimento sustentável, no combate à pobreza, na alimentação, no trabalho e na prosperidade.

“Nossas esperanças dependem de compromissos inovadores, inclusivos e orientados à ação para tornar a água e o saneamento seguros, sustentáveis e geridos de forma inteligente, ao alcance de todos no planeta”, ele acrescentou.

“Não pode haver desenvolvimento sustentável sem água”, argumentou, antes de concluir: “Agora é a hora de agir.”

Restauração de rios degradados

ONGs, governos e o setor privado apresentaram quase 700 compromissos antes e durante os três dias do encontro da ONU. As promessas variavam desde a construção de banheiros até a restauração de 300 mil km de rios degradados e de grandes áreas alagadas.

Este programa, no entanto, não é vinculante para fazer frente a um problema global cada vez mais urgente, agravado pela mudança climática, pelo uso insustentável deste recurso vital e pela poluição.

De acordo com o relatório de especialistas do clima da ONU (IPCC, na sigla em inglês) publicado na segunda-feira (20), “cerca de metade da população mundial” sofre “grave” escassez de água durante pelo menos uma parte do ano.

Mais de 2,3 bilhões de pessoas vivem em países com estresse hídrico. Em 2020, aproximadamente 2 bilhões de pessoas precisavam de acesso à água potável, cerca de 3,6 bilhões não tinham instalações sanitárias e 2,3 bilhões não tinham como lavar as mãos em casa.

“Primeiro passo é o mais difícil”

“[A conferência] Pode parecer um resultado um pouco modesto”, declarou um membro da delegação espanhola, que pediu anonimato. “Mas é preciso considerar que o primeiro passo é o mais difícil”, acrescentou. Ele também destacou a importância da cooperação internacional para atacar um problema que “não é horizontal”, pois não se pode abordar separadamente a parte econômica, a social ou a ambiental, lembrou.

Embora “nem tudo seja rosa”, e que “alguns compromissos não sejam tão fortes” como se espera, estou “agradavelmente surpreso”, revelou Stuart Orr, da ONG WWF. “Muitas vezes, neste tipo de conferência, há muitas promessas […] aqui tenho a impressão de que é diferente”, acrescentou.

“O problema não vai desaparecer, vai piorar. Acredito que é por isso que muita gente começa a pensar que é hora de fazer algo”, enfatizou Orr.

Em 2015, o Acordo de Paris estabeleceu que, para 2030, a população do planeta deveria ter acesso aos serviços de água e saneamento, mas os últimos relatórios indicam que o mundo ainda está muito longe disso.

A jovem holandesa Anniek Moonen, do movimento de jovens pelo clima, levou uma reflexão à conferência, como se estivéssemos 27 anos no futuro, para lembrar que este evento poderia representar um ponto de inflexão para a gestão mundial da água, que “deve se adaptar para se tornar mais sustentável e justa”.

“O futuro está falando com vocês, não se esqueçam de ouvir”, aconselhou Moonen aos delegados.

(Com informações da AFP)

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