Editorial: Bolsonaro entre a monarquia e a república

Leitores e leitoras do Portal Desacato e audiência do JTT Agora, bom dia.

Ontem, quarta-feira, dia 18 de junho, Jair Bolsonaro emplacou outra frase que não ajuda ao frágil processo democrático do Brasil. O presidente disse, no que pode ser lido como ameaça, que “está chegando a hora de tudo ser colocado no lugar”, referindo-se às ações do STF que atingiram parlamentares da sua base de apoio mais beligerante.

Em seu linguajar de arquibancada, ele agregou que não vai chutar o pau da barraca, mas afirmou que o Supremo Tribunal Federal abusa contra seus aliados e tietes. Referia-se à decisão do Supremo de quebrar o sigilo bancário de parlamentares bolsonaristas, dentre eles da deputada federal catarinense Caroline de Toni. Acontece que o Supremo os investiga para conferir se tiveram participação nos atos antidemocráticos que se registraram dias atrás. Para o presidente, essa ação do STF, atenta contra a democracia e ele não poderia assistir calado.

É diáfano que Jair Bolsonaro tem uma ideia muito peculiar e muito própria do que seja democracia. Nas versões e acepções decorrentes do presidente, democracia é um bem ativo de uso e interpretação pessoal que não inclui outros poderes. Segundo suas práticas e convicções, o ex-capitão foi eleito para decidir como se deve aplicar a lei, a quem, quando e quais riscos corre quem quiser exercer a justiça levando em consideração que ninguém está acima da lei, nem o presidente nem sua corte.

O presidente do Brasil muda ministros, muda diretores de polícia, muda o que for preciso para executar sua versão de democracia e justiça, porém aquela história de freios e contrapesos não lhe permite mudar as ações de outro poder, ou não deveria. De tal modo, Bolsonaro se vê obrigado a convocar seu glossário de imprecações, ameaças e autoafirmações de liderança para exercer seu governo monocrático, onde só seu Deus está acima de tudo, e no lugar imediato vem ele próprio, como garantia da verdade e da vida dele, seus filhos, seus aliados e amigos.

Bolsonaro julga que jamais a história viu o que aconteceu na terça-feira aos seus parlamentares amigos. O conceito de história do presidente é muito singular. Brasil nunca teve uma vida republicana calma e de absoluta transparência no exercício da coisa pública que permitisse não investigar, ano trás ano, a conduta dos que deveriam representar à população que os elegeu. A democracia brasileira sempre viveu períodos muito conturbados. Talvez nenhum tão complexo como este pelo desconhecimento que o presidente da república tem do que seja o exercício da democracia e o equilíbrio entre os poderes que devem de observar o Congresso da Nação, o Poder Judiciário e o Poder Executivo Nacional.

O presidente Bolsonaro ainda está na fase de estudos da transição da monarquia à república e com muitas dificuldades de aprendizado, tanto nas provas teóricas como nas práticas.

Editorial do dia 18 de junho de 2020.

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