Cem anos de Seu Macimino menino

Por Roberto Liebgott.

Macimino menino do Araçá’i, terra originária, das ancestralidades, de Ñhanderu, dos que ainda persistem, resistem e lutam.

Macimino menino, quando moço foi arrancado do solo sagrado e depois, de sequestrado, deportado para outro território, dos Kaingang de Nonoai.

Macimino menino do Araçá’i, terra invadida, ocupada, loteada, colonizada por estrangeiros, que rejeitam, desprezam, repudiam as lembranças do passado, pois há nelas memórias atormentadas das maldades impostas aos Guarani.

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Macimino menino de cem anos percorridos em caminhos que não eram os seus, lhe tiraram o direito de escolha, impuseram a força e a exclusão, lançando-o nas incertezas, numa longa e árdua espera pelo retorno ao berço natural, o seu Araçá’i.

Macimino menino, já homem feito, pai, avô, também liderança formada e orientada por outro homem menino, o Seu Clementimo, tronco velho, sábio, espiritualizado, um Karai, que liderou a volta do povo pro Araçá’i, retomando o colo da Mãe Terra, pra nele se aconchegar e sonhar.

Macimino e Clementino, ambos meninos de Ñhanderu, conseguiram fazer com que a Funai demarcasse os limites do Tekoa, mas não chegou a ser concluido e o passado de barbárie recolocou-se pela frente e, de novo, expulsos, obrigados a viverem exilados, na terra dos Kaingang do Toldo Chimbangue.

Clementino homem menino, cumpriu sua zelosa trajetória mantendo os seus filhos e filhas unidos, num só grupo e numa só força pela garantia da terra.

Mas Ñhanderu o chamou ao descanso eterno e entregou, ao seu Macimino, a missão de seguir alimentando as lutas, pois chegará o dia em que todos irão se assentar no chão da vida daqueles que já se foram, dos que permanecem e dos que ainda virão.

Macimino menino, cem anos de sabedoria, inspiração e devoção à terra, nesse seu centenário Ñhanderu lhe concedará saúde, paz e energia para continuar, junto aos netos, filhos, sobrinhos, parentes, contrapondo-se à todas as formas de violência, discriminação e opressão.

Salve, Salve Seu Macimino menino, todos juntos vamos conclamar: Araçá’i, da terra sem males, demarcação Já!

Roberto Antônio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.
A opinião do/a/s autor/a/s não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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