Bolsonaro, ex-ministros militares e assessores são alvos de operação da PF

A lista inclui o ex-ministro da defesa, Braga Netto, do GSI, Augusto Heleno, e outros militares de alta patente; ao todo são 33 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão

Por Ueslei Marcelino/REUTERS

Por Clara Assunção

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seus ex-ministros militares e ex-assessores são alvos de operação da Polícia Federal nesta quinta-feira (8). Eles são investigados por suspeitas de formar uma organização criminosa que, de acordo com a PF, atuou na tentativa de golpe de Estado, com abolição do Estado Democrático de Direito para invalidar as eleições de 2022, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Estão sendo cumpridos, ao todo, 33 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão preventiva, além de 48 medidas cautelares que incluem a proibição de manter contato com outros investigados; a proibição de se ausentar do país, com entrega dos passaportes no prazo de 24 horas; e a suspensão do exercício de funções públicas.

Bolsonaro é um dos alvos das medidas restritivas e teve o passaporte apreendido. Mais cedo, em sua casa em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, a PF apreendeu o celular de um de seus assessores, Tercio Arnaud Thomaz. Ele também é considerado um dos pilares do chamado “gabinete do ódio”.

Intitulada Tempus Veritatis, a operação mira também o presidente do PL, o partido pelo qual Bolsonaro disputou a reeleição, Valdemar Costa Neto, que acabou preso na operação por posse ilegal de arma. A lista de busca inclui seu candidato a vice em 2022, o ex-ministro da Defesa, Braga Netto. A lista inclui ainda o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-comandante do Exército; o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante-geral da Marinha e o general Stevan Teófilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército.

Filipe Martins é preso

Até o momento, dois ex-assessores de Bolsonaro foram presos. É o caso do coronel do Exército, Marcelo Câmara. Ele é citado em outras investigações, como a dos presentes oficiais desviados e vendidos pelo governo do ex-presidente e a das supostas fraudes nos cartões de vacina da família Bolsonaro. O ex-assessor especial de assuntos internacionais, Filipe Martins, foi detido em Ponta Grossa, no Paraná, no apartamento de sua namorada.

Os mandados de prisão preventiva miram ainda o major das Forças Especiais do Exército, Rafael Martins, e o coronel do Exército, Bernardo Romão Corrêa Netto. A operação seria fruto da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e sequência de outras investigações. As medidas judiciais foram expedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). E estão sendo cumpridas no Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná e Goiás, além do Distrito Federal. O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados.

O que sabe a PF

Em nota, a PF afirmou que as apurações apontam que o “grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital”.

O primeiro eixo da atuação antidemocrática consistiu, de acordo com os agentes, na “construção e propagação da versão de fraude nas eleições de 2022”. O que ocorreu “por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022”, informou. Já o segundo eixo de atuação do grupo, de acordo com o comunicado, consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, por meio de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais em “ambiente politicamente sensível”.

Como nas investigações sobre os ataques no 8 de janeiro, a PF também destacou que os fatos investigados configuram crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

Lula vê envolvimento de Bolsonaro

Horas após a Polícia Federal deflagrar a operação, o presidente Lula, em entrevista a uma rádio de Minas Gerais, avaliou que o envolvimento de Bolsonaro é um “dado concreto”. Mas ponderou que é preciso garantir a presunção de inocência dos acusados.

“Eu, sinceramente, não tenho muitas condições de falar sobre uma ação da Polícia Federal porque isso é uma coisa sigilosa, é uma coisa da polícia, uma coisa da Justiça. E não cabe ao presidente da República ficar dando palpite numa atuação dessa”, declarou Lula.

“Obviamente que tem muita gente envolvida, eu acho que tem muita gente que vai ser investigada, porque o dado concreto é que houve uma tentativa de golpe, houve uma política de desrespeito à democracia, houve uma tentativa de destruir uma coisa que construímos há tantos anos, que é o processo democrático, e essa gente tem que ser investigada”, seguiu. “Eu não sei, eu acho que (a tentativa de golpe) não teria acontecido sem ele (Bolsonaro)”, observou o presidente.

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