Por Kathleen Exposti – Crise Crônica.
Atualmente, o território da Guiana Francesa, localizado na divisa com o estado brasileiro do Amapá, é considerada um departamento ultramarino da França, o que é um nome pomposo para uma colônia que está totalmente subjugada pelo governo francês.
Embora Macron e os antigos presidentes da França se coloquem como defensores da democracia, a existência de uma colônia no século 21 demonstra que o imperialismo e a sede de exploração fazem parte das diretrizes deste e de outros governos de ‘primeiro mundo’.
Isso não é uma característica do povo francês que, assim como a classe trabalhadora brasileira e mundial, também é continuamente explorado. No entanto, esse pequeno grupo de burgueses que detém o poder econômico, e por consequência político, tem como objetivo supremo enriquecer a qualquer custo – seja o custo de vida humanas, da guerra, da fome.
Assim, a Guiana Francesa torna-se o exemplo mais claro que temos na América Latina dos usos e abusos cometidos contra todos nós.
Essa colônia vizinha, a última desde o processo de libertação dos países que se iniciou no século 19, é extremamente pobre, com altíssima taxa de desemprego, que não possui qualquer nível de autodeterminação, ou seja, independência, liberdade e o direito de organização, assim como seus direitos são escassos perto do que qualquer Estado minimamente democrático e soberano.
A maioria da população não tem água encanada ou eletricidade, o desemprego se tornou comum, atingindo até 50% da população jovem e o índice de homicídios está entre os maiores das colônias francesas. Sua participação no parlamento francês é mínima e os movimentos da França em relação ao seu ‘departamento ultramarino’ têm características ditatoriais que limitam o crescimento econômico, social e político, enquanto a capital a quem a Guiana Francesa se dirige possui um dos mais altos Índices de Desenvolvimento Humano, ocupando a 14ª posição global, o que garante uma das melhores qualidades do mundo de vida a sua população.
Além disso, dados e informações detalhados a respeito das condições sociais, políticas, econômicas entre outros, são pouquíssimos divulgados já que estão sob o domínio político francês. Dessa maneira, a Guiana Francesa permanece isolada, silenciada e desconhecida para a América e para o mundo. E sendo uma ocupação militar francesa pelo seu status de colônia, a Guiana Francesa possui um alto nível de proteção em suas fronteiras, que continuamente impedem o trânsito de brasileiros (por meio de um altíssimo imposto de entrada), ao mesmo tempo que cidadãos europeus transitam pela fronteira Brasil-Guiana para exploração sexual de mulheres, adolescente e crianças brasileiras e criam como uma rota para o tráfico de pessoas para a Europa. Estranhamente, não se precisa de visto para ir a França, mas precisa-se de visto para entrar na Guiana Francesa. Também é relevante retomar que o nível de segurança aplicado nas fronteiras não se reflete nas cidades, onde a população padece com o crime.
Assim, grande parte do processo de imigração para a Guiana se dá de maneira ilegal, por pessoas em situação de pobreza que buscam, ilusoriamente, enriquecimento por meio da mineração de ouro. Essas pessoas passam a viver de maneira clandestina, por vezes em situações de trabalho análogas à escravidão, por meses, até que sejam deportadas. E em tempos de proteção ambiental, a França se gaba por reduzir suas taxas de mineração e demandar que países subdesenvolvidos e periféricos façam o mesmo. No entanto, a situação da Guiana Francesa traz a luz do dia a hipocrisia do governo francês, que continua a liberar autorizações para mineração nessa região amazônica, sem estudo prévio e sem consultar a população da Guiana. Faça o que eu digo, mas não o que faço.
Em 2023, houve uma grande paralisação comandada por líderes sindicais que acusavam Paris de ignorar os problemas da região, que oficialmente é uma porta de entrada da OTAN (uma organização militar) e seus interesses no continente americano.
E com essa construção do cenário histórico, econômico e político da Guiana Francesa precisamos ressaltar o contínuo interesse do imperialismo francês na região, que é militar e exploratório acima de tudo.
A França procura apresentar a versão de que a Guiana Francesa não oferece os lucros que as colônias africanas ofereciam; mas por que então o interesse para ampliar a presença na região amazônica como um todo – Brasil, Peru, Colômbia e Venezuela? Uma região riquíssima ambiental e mineralmente, e que abre portas para a recolonização dos países da América do Sul.
Acrescenta-se o fato de que, na década de 70, foi construído nessa colônia uma base de lançamento de foguetes. Sua localização privilegiada permite uma facilidade maior de tempo, espaço e gasto com combustível para colocar satélites em órbita. O exército francês tem um reduto militar gigante no nosso continente.
Satélites que podem coletar informações, espionar e até mesmo incrementar estratégias militares contra a soberania dos países vizinhos, sendo base até mesmo para um sistema de defesa aeroespacial similar ao de Israel. O subdesenvolvimento, a exploração, a miséria, a limitação do crescimento industrial e tecnológico, a falta de condições básicas: água, eletricidade, educação, saúde e segurança são características fundamentais de qualquer região explorada. Seja na América do Sul, na África ou no Oriente Médio, uma colônia nunca sairá dessa miséria já que seu povo nunca terá poder político para ser soberano de si mesmo.
É preciso denunciar essa barbaridade! É preciso defender o direito dos povos à sua autodeterminação! O imperialismo francês deve ser expulso da Guiana pela mobilização dos trabalhadores e oprimidos!