Por Claudia Weinman, para Desacato. info.
Enquanto o governo do estado de Santa Catarina atua na contramão da vida e do que recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS), a igreja católica do estado diz não as medidas do atual governo e coloca como princípio de solidariedade a garantia do isolamento social, não abrindo as portas das igrejas neste momento de pandemia. O estado já contabiliza mais de 1400 casos do novo coronavírus, o covid-19 e 44 mortes, até o fechamento desta matéria, na noite de terça-feira, 28 de abril.
Em entrevista com o Bispo de Caçador e presidente da regional Sul da CNBB, Dom Frei Severino Clasen, ele explicou que foi feita uma tentativa de diálogo com o governador de SC, Carlos Moisés (PSL), já que, até então, a recomendação do estado era de se manter o isolamento social e a não reabertura de vários serviços. Severino Clasen explica que o governador não dialogou com os bispos e que no dia 21 de abril decretou a reabertura e funcionamento de, entre outros serviços, da realização das atividades religiosas. Foi então, segundo Clasen, que a regional Sul 4 reuniu-se para deliberar as ações em defesa do isolamento social.
“Não queremos ficar enterrando gente, queremos estar com as pessoas fazendo festa, que seus direitos sejam reconhecidos. Queremos a valorização da vida, de uma espiritualidade libertadora. O governador no início tinha considerações coerentes para não liberar as aglomerações. Tentamos um diálogo, mas ele não aceitou conversar conosco e depois descobrimos o porquê, que foi o decreto onde tudo o que ele havia dito anteriormente foi colocado fora”, explicou.
Clasen salienta ainda que a Igreja Católica possui uma experiência milenar na superação de pandemias e o isolamento social é uma das formas mais eficazes para evitar a contaminação em larga escala. Outro elemento destacado por ele é a estiagem que também está, além do vírus, fazendo com que a agricultura familiar tenha perdas terríveis. “Quem está falando sobre isso? Que ações concretas vemos em torno da agricultura familiar? E os povos indígenas? Tem muitos grupos safados torcendo para que morram, para invadir e roubar as terras. Então nós enquanto Igreja temos que levantar a nossa voz. Ou nós gritamos ou as pedras que gritarão por nós. É uma vergonha para humanidade se nos mantermos calados”, enfatizou.
Para Clasen, mesmo em quarentena e mantendo os cuidados necessários é preciso que as ações de solidariedade aconteçam. “Aquele pobre que bateu em nossa porta nós temos que fazer alguma coisa, ter solidariedade, saber cuidar, fazer levantamentos na região, promover a higienização e os cuidados necessários. Que sejamos participantes desse momento frágil, protagonistas para enaltecer a vida dos mais carentes e necessitados. Não podemos ficar parados”.
Entrevista completa:
Confira a carta da CNBB – Regional Sul 4.
CARTA DE AMOR E SOLIDARIEDADE DAS CEBS: ORIENTAÇÕES E COMPROMISSO PARA CUIDAR DO POVO DE DEUS EM SANTA CATARINA
“Solidariedade é a praça de encontro de todos, iguais, para respeitar a dignidade humana, superar os vergonhosos cenários de pobreza e exclusão, a trilha única dos lúcidos e servidores em busca do reencontro de uma ordem nova, social, política e econômica, fazendo valer a vida como dom e compromisso de cada um! Seja solidário, é inteligente, é desenvolvimento integral, é o selo de autenticidade da fé professada, é a nova cidadania”.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo – Presidente da CNBB
Às CEBs e GBRF de Santa Catarina,
Reunida no dia 14 de abril, através de videoconferência, a Coordenação Estadual das CEBs e GBRF, apresenta algumas considerações e encaminhamentos para a Agenda deste ano de 2020:
- Considerando que há uma pandemia do coronavírus (Covid 19) e que, no Brasil, está aumentando significativamente o número dos casos;
- Considerando que em vista da defesa e preservação da vida devemos seguir as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), do Ministério da Saúde e da CNBB Nacional e o Regional Sul 4, que é a de manter o distanciamento social e de evitar todo tipo de aglomeração;
- Considerando que o nosso Encontro Estadual das CEBs está agendado para os dias 25 e 26 de julho de 2020 e que o mesmo deve ser uma consequência do processo preparatório;
- Considerando que estamos vivendo uma crise planetária e que suas consequências já são visíveis em diversos aspectos;
- Considerando a incerteza do término desta pandemia e que o mundo e o Brasil apresentarão um outro cenário, com seus desafios, e que precisarão ser incorporados à nossa reflexão sobre o tema e o lema propostos para o Encontro Estadual;
A Coordenação Regional deu os seguintes ENCAMINHAMENTOS, para os quais pedimos compreensão e empenho:
- Suspender temporariamente o Encontro Estadual das CEBs previsto para os dias 25 e 26 de julho de 2020, em Canoinhas – Diocese de Caçador, ficando suspensas também as Rodas de Conversas, os Momentos Diocesanos…;
- Suspender as atividades presenciais das CEBs e GBRF nas Dioceses, sendo que algumas atividades podem ser realizadas virtualmente;
- Repensar o formato do Encontro Estadual, atentos “aos sinais dos tempos” e às consequências desta pandemia na vida das pessoas e das comunidades;
- Reelaborar a Proposta Metodológica, bem como as Rodas de Conversa, para refletir sobre as causas e os efeitos desta pandemia na vida das comunidades e das populações, em vista do Bem Viver e da nossa relação com a Casa Comum;
- Manter, por enquanto, a data da reunião da Ampliada Estadual prevista para os dias 16 a 18 de outubro de 2020, em Rio do Sul – SC; porém, devemos ficar atentos à possibilidade de mudanças, conforme o desdobramento da pandemia e das suas consequências para o País, a Igreja e para as CEBs;
- Animar as CEBs e os GBRF para que, na medida do possível, articulem ações de solidariedade junto às famílias, imigrantes, desempregados, diferentes grupos em vulnerabilidade social, a partir dos questionamentos: “Como ser CEBs neste momento e neste contexto? Que ações solidárias de cuidado podemos fazer? Como ir ao encontro das pessoas que mais precisam? Como somar-se a outros grupos que já desenvolvem ações de solidariedade para diminuir o sofrimento dos mais empobrecidos?”
- Assumir a Ação Solidária Emergencial da Igreja no Brasil lançada pela CNBB no último domingo, que tem como lema: “É tempo de Cuidar”, estimulando a solidariedade, por meio de gestos concretos, como a arrecadação de alimentos, produtos de higiene e limpeza, além do cuidado no campo religioso, humano e emocional.
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE (CEBs)
GRUPOS DE REFLEXÃO E FAMÍLIA
Fiquemos com a bênção do Papa Francisco para continuar a ESPERANÇAR…
Diante da perplexidade do que temos visto, ouvido e vivido, muitas dúvidas e questionamentos nos vêm. O Papa Francisco, talvez no maior gesto profético destes tempos, na bênção extraordinária Urbi et Orbi, alertou-nos: “A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?’ Nesta tarde, Senhor, a tua Palavra atinge e toca-nos a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente.”
Por isso, é urgente que espalhemos as sementes de esperança de um Bem Viver e Bem Conviver com nossa Mãe Terra!
Abril de 2020
Coordenação Regional das CEBs e GBRF- Regional Sul 4