Documento revela planos do pai do sionismo para criar um ‘Estado judeu’ no Marrocos

Retrato de Theodor Herzl, fundador do sionismo, no Museu da Independência de Israel, residência em Tel Aviv onde David Ben-Gurion, primeiro premiê israelense, declarou a criação do estado sionista, há 70 anos atrás, em 3 de maio de 2018. Foto: Jack Guez/AFP/Getty Images

Um documento secreto enfim vazou ao público, concedendo detalhes de um plano esboçado por Theodor Herzl, fundador do sionismo político, para declarar o sul do Marrocos como “Estado judeu”, revelou o site de notícias marroquino Hespress.

Segundo a reportagem, o registro “retoma relações históricas entre judeus e Marrocos muito anteriores à retomada de relações oficiais entre Rabat e Tel Aviv”, em referência ao recente acordo de normalização entre a monarquia árabe e a ocupação israelense.

A proposta de assentar imigrantes judeus no território marroquino antecedeu a ideia de transferir colonos à Palestina histórica.

Segundo o jornal israelense Yedioth Ahronoth, Herzl “promoveu um documento secreto para instituir o Plano do Marrocos, muitos menos conhecido do que o Plano de Uganda, focado em assentar judeus russos em Wadi al-Hisan, no sudoeste do Marrocos”.

A ideia de transferir judeus estrangeiros à Uganda é parte do currículo escolar israelense, mas pouco se sabe do plano alternativo de Herzl para colonizar o sul do Marrocos.

O pai do sionismo político abordou este projeto em uma carta ambígua, escrita em 1903. Sua morte súbita, um ano depois, efetivamente engavetou o plano.

Yaakov Hagoel, presidente da Organização Sionista Mundial (OSM), comentou a proposta ao jornal israelense: “Havia uma grande concentração de judeus ali, seja no Marrocos ou Norte da África, em geral. É preciso saber que Herzl era um homem muito pragmático”.

Prosseguiu: “[Herzl] enxergou um problema com os judeus perseguidos por violência, sobretudo, na Europa Oriental, e viu que o Marrocos possuía uma comunidade judaica próspera, com centros judaicos ativos”.

Joseph Chetrit, professor do Departamento de Hebraico e Literatura Comparada da Universidade de Haifa, afirmou que o plano marroquino foi introduzido por Baruch e Yaakov Moshe Toledano, irmãos bastantes conhecidos no movimento sionista da época.

“Baruch falou com Herzl alguns meses antes deste morrer, então apelou ao rabino francês Vidal de Fez, próximo à monarquia marroquina, para estabelecer uma região independente para os judeus em Wadi al-Hisan”, relatou o acadêmico.

Chetrit destacou que Vidal de Fez, bastante versado na política do país norte-africano, percebeu que o plano era meramente uma peça de ficção, que não considerava até então a situação doméstica no Marrocos.

“Foi seu neto em Israel, que carrega seu nome, quem descobriu o documento e o publicou pela primeira vez”, concluiu o professor israelense.

 

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