O povo nas ruas e a pauta da esquerda

passecapa

Texto e fotos de Marcela Cornelli, para Desacato.info.

O problema não é as massas nas ruas. Isso é lindo! O problema é a direita fascista e a mídia burguesa se apropriarem da luta e pautarem movimento. Esta disputa ideológica das massas está acontecendo aqui em Florianópolis desde a última terça-feira quando iniciaram os protestos, somando-se aos demais estados do País. O primeiro protesto na terça-feira dia 18 reuniu milhares e foi chamado espontaneamente pelo facebook. Alguns militantes do MPL, sindicatos, partidos políticos e movimentos sociais acompanharam a massa, mas sem tomar à frente ou erguer bandeiras de lutas (alguns ergueram timidamente). Além disso, os partidos políticos foram impedidos de deixar as bandeiras aberta. Já o ato deste dia 20 de junho foi chamado pela Frente de Luta pelo Transporte Público, da qual o Movimento Passe Livre faz parte. Desta vez sim vimos PT, PCdoB, PSTU, PSOL, MST, MAS, movimento pela moradia, Ocupação Contestado, Brigadas Populares, sindicatos, movimento estudantil e militantes de diversos segmentos da luta social enlaçar literalmente os braços e pedir a união na luta em torno da pauta do MPL: tarifa zero já, mobilidade urbana, moradia digna, reforma agrária, 10% do PIB para educação, etc. Na grande massa pessoas com várias bandeiras contra a cura gay, pela saúde e contra a corrupção.

Ainda na saída da passeata em frente ao Ticen, com o bloco do MPL à frente, integrantes da direita fascista instigavam os estudantes e demais manifestantes – alguns ligados a partidos de direita suponho e mais convictos, mas na sua maioria somente massa de manobra que estava ali sem saber o porque da luta e entrando na onda do chamado do facebook (mídia interessante que não é que deu certo?!) – a gritarem: “sem partido, sem partido”. Esses mesmos impediram o carro de som dos sindicatos a entrar na passeata e queriam bater em todo militante de esquerda que ali estava, quase que sem diálogo. Aos poucos a passeata se dividiu. De um lado da rua e ainda em frente ao Ticen os que gritavam sem partido e do outro lado o bloco do MPL, movimento sindicais, estudantil, partidos e o movimento social organizado. Não era pra dividir, mas não tinha diálogo mesmo. Muitas foram as tentativas e a polícia formou um cordão que isolou as duas marchas. Sob a chuva gelada, veio o choro, pelos menos eu chorei. Chorei por ver aquela juventude toda com potencial de luta e indignação entrando na onda fascista de direita. Eles nem sabiam direito o que faziam. A polícia que tanto bate nos movimentos que lutam pelo povo, agora fazendo cordão para isolar os movimentos do povo? Algo está muito errado nisso. Sabemos que a PM está com ordens do governo do estado (também este fascista) de não encostar nos manifestantes, até porque a classe média está com suas bandeiras conservadoras nas ruas. Mas calma lá. Nosso lado deveria ser o do povo. Por que estamos nos separando deles? É pura alienação ou também falta de credibilidade nos partidos? Era para estarmos todos juntos. Foi então que os movimentos sindicais e partidários e o MPL – inclusive os líderes da Revolta da Catraca em 2005 – formaram um cordão e vieram pra frente abraçados, marchando. Entramos na “marcha da direita” ou no final dela. Mais conversas e tensão e muitos jovens, homens e mulheres começaram à aderir ao bloco do Passe Livre.

Dali a passeata liderada pelo Passe Livre seguiu para as pontes e mais tarde se unificaria com a marcha que seguiu pela Avenida Mauro Ramos. Foi duro ver a divisão da marcha, mas foi necessária naquele momento. Penso que esta massa de jovens e da população não é um fenômeno a ser ignorado e sim estudado, compreendido. Não adianta só criticar e deixar a massa sem causa nas ruas. Ir para casa e daí? Há que se perceber que os partidos de esquerda estão perdendo essa juventude para a direita. Como trazê-los para a luta verdadeira, pautada em outro modelo de sociedade? Dizer que não existe corrupção no país? Que não estão usando dinheiro público para fazer uma copa para o capital? Que não estão privatizando a saúde e precarizando a educação? É mentira. Então que os partidos que estão no governo façam uma reflexão sobre essa insatisfação do povo nas ruas. E que os partidos mais a esquerda façam uma reflexão do por que não conquistam as mentes e corações desta massa que está nas ruas. É uma luta ideológica, uma batalha árdua que é claro já vem sendo travada há tempos, mas, mais do que nunca está escancarada e em disputa nas ruas por todo o País.

Não sei como o MPL, movimentos e partidos de esquerda vão avaliar a noite desta quinta-feira. Acho que agora o mais importante é mostrar unidade em torno da pauta pela estatização do transporte e o passe livre, garantido à população o acesso à cidade. Algo novo está acontecendo e não se pode ignorar as ruas, nem sair delas acuados pela direita fascista. É uma boa hora pra fazermos a disputa de ideias.

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1 COMENTÁRIO

  1. “entrando na onda fascista de direita”…

    Se o cara não quer ficar conquistando votos pro seus partidos, ele é automaticamente chamado de fascista de direita??

    Se o cara só quer pedir por respeito dos governantes, independente do partido destes, ele é direitão?

    Se o cara não concorda contigo é um reacionário atrasado?

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