Antes das 57 mortes em Altamira, familiares pediram a transferência de presos rivais

Governo se recusou a remover internos de facções inimigas; órgão informou que não havia "informações" sobre o ataque

Imagem: Reprodução Pixabay.

Por Igor Carvalho.

Dois meses atrás, no dia 20 de maio, uma manifestação de familiares de presos, na frente do Centro de Recuperação Regional de Altamira, no Pará, alertava para os riscos de um possível confronto entre integrantes de facções rivais, o Comando Classe A (CCA) e o Comando Vermelho (CV), que tentam controlar o presídio. Na manhã desta segunda-feira (29), 57 presos morreram, 16 deles decapitados, após uma rebelião na unidade prisional.

Questionada, a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe) afirmou, em nota, que possui “protocolos para a maioria dos casos, mas neste específico, não tínhamos informações sobre um ataque dessa magnitude”.

Porém, em maio de 2019, a própria Susipe reconheceu que recebeu dos familiares um pedido de transferência dos presos de facções rivais.  O órgão se recusou a atender a demanda.

“Devido a divisão e dos internos, controle das ações e ações para prevenir atos de violência dentro do cárcere, a Susipe não visa – a priori – execução de transferências. A superintendência está acompanhando em tempo real todo o movimento da massa carcerária”, informou a Superintendência em seu site.

Em nota, Susipe reconhece a demanda dos familiares em 20 de maio. Porém, ignora os pedidos de transferência

Agora sim, presos serão transferidos

De acordo com relatório do Conselho Nacional de Justiça, divulgado na tarde desta segunda-feira (29), o Centro de Recuperação Regional de Altamira abrigava 343 presos, mas tinha capacidade para apenas 163. O órgão qualifica como “péssima” a condição da unidade.

A Susipe informa que, por volta das 7h, presos da CCA, que estavam no Bloco A, invadiram o anexo vizinho, onde estavam internos do CV. Ato contínuo, as celas foram trancadas e incendiadas, provocando a morte por asfixia de parte das 57 vítimas. O órgão ainda não concluiu a perícia no local para precisar a cronologia dos fatos e nem mesmo a identificação dos cadáveres.

“Foi um ato dirigido. Os presos chegaram a fazer dois agentes reféns, mas logo foram libertados, porque o objetivo era mostrar que se tratava de um acerto de contas entre as duas facções, e não um protesto ou rebelião dirigido ao sistema prisional”, afirmou Jarbas Vasconcelos, secretário de Segurança Pública do Pará.

Em seu site, a Susipe informa que o governador Helder Barbalho (MDB) e Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, que os presos identificados como responsáveis pelo confronto serão transferidos para presídios federais.

A cúpula da Segurança Pública do Pará está em Altamira para acompanhar a situação no Centro de Recuperação Regional.

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