Uma de animalzinhos

(Português/Español).

Por Julio Rudman.

Ela se chamava Norma Guimil. Como tinha casado com um senhor de sobrenome Plá, era conhecida como Norma Plá. Costume machista essa de abandonar sua própria identidade para assumir a do patermarido. A Gorodischer, a Bodoc, a Kirchner, são exemplos em âmbitos públicos. Em alguns casos por decisão pessoal e por razões artísticas, digamos. Em outros, por iniciativa coletiva.

Norma era aposentada quando, em 1991 ou 92, enfrentou ao então Ministro da Economia e o fez chorar. Ou isso pareceu. Domingo Cavallo (faça corninhos, vizinha) disse que seu pai também era aposentado e, biquinho mediante, caiu uma lagriminha. Não muito mais do que isso. Também reconheceu que seu salário de dez mil pesos (para essa data o equivalente a verdelincoln ou jefferson ou washington o custer ou algum outro prócer da falsa democracia do norte), às vezes, não davam para manter seu ritmo de despesas. Mentiu, bah, como de costume. “Não chore ministro”, pediu Norma ante as câmeras de televisão e foi acampar na Praça do Congresso Nacional, como reclamação e repúdio pelo congelamento das aposentadorias e pensões para poder cumprir com os organismos multilaterais de crédito, segundo consignava a excusa dos dá-de-presentepátria.

Norma morreu uns anos depois, tão pobre e digna como tinha vivido e protestado. Domingo segue dando palestras, tão rico e indigno como sempre. Já não chora, pelo menos em público. Mas já não enche o saco, pelo menos ao público.

Nestes dias euromortuórios vimos Elsa chorar. Elsa é Elsa Fornero, Ministra do Trabalho do govierno do que resta na Itália e que preside seu Monti. Banqueiros, ambos. Fornero é seu sobrenome de solteira, pelo menos isso diz o tio Google.

Estava para anunciar, ante as Câmaras e as câmeras, a desordem da ordem a seus compatriotas quando começou a chorar. Não conseguiu seguir. Mas fique tranquilo, vizinha, (não desfaça ainda os corninhos), vão baixar o pau do mesmo jeito, com ou sem lenços descartáveis para Elsa.

Os crocodilos são animalzinhos da classe reptilia, pouco amigáveis, aquáticos mas também terrenais, com mandíbulas tenebrosas, dentes que não precisam de colgate nem sensodyne e com uma cauda escamosa tão pouco amigável como o resto. Não são domesticáveis, embora a National Geographic queira lhe convencer do contrário.

Quando saem d’água, seus olhos produzem uma substância parecida com as lágrimas para conservar a umidade perdida. De aí vem a alusão às lágrimas de crocodilo, para destacar a falsidade, a hipocrisia de uma tristeza fingida.

Os joão-de-barro não choram. Os cavalos, também não. Nem em espanhol nem em italiano. Os crocodilos, parece, mas não, também não.

Não acredite neles nem se aproxime. Já falei para você, não são amigáveis.

 


Una de animalitos

Por Julio Rudman.

Ella se llamaba Norma Guimil. Como se había casado con un señor de apellido Plá, se la conocía como Norma Plá. Costumbre machista esa de abandonar su propia identidad para asumir la del patermarido. La Gorodischer, la Bodoc, la Kirchner, son ejemplos en ámbitos públicos. En algunos casos por decisión personal y por razones artísticas, digamos. En otros, por iniciativa colectiva.

Norma era jubilada cuando, en 1991 ó 92, enfrentó al entonces Ministro de Economía y lo hizo llorar. O eso pareció. Domingo Cavallo (haga cuernitos vecina) dijo que su papá también era jubilado y, puchero mediante, se le piantó un lagrimón. No mucho más. También reconoció que las diez lucas de su sueldo (para esa fecha el equivalente a verdelincoln o jefferson o washington o custer o algún otro prócer de la democracia trucha del norte), a veces, no le alcanzaban para mantener su ritmo de gastos. Mintió, bah, como de costumbre. “No llore ministro”, le pidió Norma ante las cámaras de televisión y se fue a acampar en la Plaza del Congreso Nacional, como reclamo y repudio por el congelamiento de los haberes jubilatorios para poder cumplir con los organismos multilaterales de crédito, según consignaba la excusa de los regalapatria.
Norma murió unos años después, tan pobre y digna como había vivido y protestado. Domingo sigue dando conferencias, tan rico e indigno como siempre. Ya no llora, al menos en público. Pero ya no jode, al menos al público.
En estos días euromortuorios hemos visto llorar a Elsa. Elsa es Elsa Fornero, Ministra de Trabajo del gobierno de lo que queda de Italia y que preside don Monti. Banqueros, ambos. Fornero es su apellido de soltera, al menos eso dice el tío Google. Estaba por anunciar, ante las Cámaras y las cámaras, el desbarajuste del ajuste a sus compatriotas cuando estalló en llanto. No pudo seguir. Pero tranquilícese vecina (no deshaga los cuernitos todavía), el guadañazo lo van a aplicar igual, con o sin pañuelos descartables para Elsa.
Los cocodrilos son animalitos de la clase reptilia, poco amigables, acuáticos pero también terrenales, con mandíbulas tenebrosas, dientes que no necesitan colgate ni sensodyne y con una cola escamosa tan poco amigable como el resto. No son domesticables, aunque la National Geographic quiera convencerte de lo contrario.
Cuando salen del agua, sus ojos producen una sustancia parecida a las lágrimas para conservar la humedad perdida. De ahí la alusión a las lágrimas de cocodrilo, para destacar la falsedad, el truchaje de una tristeza fingida.
Los horneros no lloran. Los caballos, tampoco. Ni en castellano ni en italiano. Los cocodrilos, parece pero no, tampoco.
No les crea y no se les acerque. Ya se lo dije, no son amigables.

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