Sindicatos franceses esperam grandes manifestações no país neste 1º de maio

A Festa do Trabalho, como é chamado o 1° de maio na França, será marcada por protestos que vão muito além da indignação com o aumento da idade de aposentadoria para 64 anos.

Texto: Rádio França Internacional – RFI.

Os tradicionais cortejos e protestos que geralmente marcam o dia do Trabalho na França devem ser particularmente robustos neste ano, de acordo com dirigentes sindicais e políticos da oposição. Eles esperam uma grande mobilização nesta segunda-feira (1°) em todo o país, tendo como destaque a rejeição à reforma da Previdência.

“Este Primeiro de Maio será um dos maiores Primeiros de Maio sobre a questão social dos últimos 30 ou 40 anos”, disse Laurent Berger, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), em entrevista neste domingo (30) às emissoras RTL e LCI. “Amanhã, acho que teremos centenas de milhares de manifestantes, talvez um ou 1,5 milhão. Há muita raiva social no país. É profundo”, acrescentou.

No dia seguinte à manifestação, terça-feira (2), os diversos sindicatos devem se reunir para fazer um balanço da mobilização. Os sindicalistas também devem decidir sobre as condições para uma nova reunião com a primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne.

Laurent Berger disse estar pronto para discutir se o governo convidar os sindicatos, acrescentando que as organizações tinham interesse em continuar trabalhando juntas nessa questão.

A Festa do Trabalho, como é chamado o 1° de maio na França, será marcada por protestos que vão muito além da indignação com o aumento da idade de aposentadoria para 64 anos. A guerra na Ucrânia continua gerando uma explosão no custo de vida que exaspera cada vez mais a população e corrói o poder de compra dos salários.

Sophie Binet, a nova secretária-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), explicou que além da rejeição à reforma das aposentadorias, os manifestantes irão às ruas pedir aumentos salariais e respostas à crise ambiental. “Agora é a hora de sentir a nossa força”, disse em entrevista ao canal França 3.

Entretanto, ela disse ter ficado “chocada” pela tentativa do governo de impedir recentes protestos, especialmente durante a final da Copa da França, na noite de sábado (29). “Eu fico inquieta ao ouvir sobre o anúncio do uso de drones na segurança do cortejo de 1° de maio”, completou Binet.

Sem confusão na final da Copa da França

Os excessos dos manifestantes que eram temidos pelas autoridades francesas acabaram não acontecendo na noite de sábado, quando o esporte prevaleceu sobre o contexto político e social na final da Copa da França, no Stade de France.

O Toulouse goleou o Nantes por 5 a 1 e o presidente Emmanuel Macron renunciou à tradição de descer ao gramado para cumprimentar os jogadores da partida, a fim de evitar mais protestos. No entanto, ele saudou os finalistas no corredor que levava ao gramado. Sua imagem também não apareceu nos telões em nenhum momento da partida nem da celebração.

“Grande momento de ruptura”

A próxima semana pode ser decisiva em relação a esse tema que dominou todos os debates no país, durante vários meses. Na quarta-feira (3), o Conselho Constitucional deve dar seu parecer sobre o segundo projeto de lei apresentado pela frente de esquerda Nupes para organizar um referendo de iniciativa compartilhada (RIP) sobre a reforma da Previdência. O primeiro pedido foi rejeitado.

“Estamos trazendo 2023 para a história social do nosso país, como um grande momento de ruptura”, estimou neste domingo, em entrevista à BFMTV, o deputado do partido A França Insubmissa (LFI), François Ruffin. Ele considera que “a batalha ainda está em curso”, pela reforma da Previdência. “Convido todos os franceses e francesas a irem (1º de maio) tomar um banho de sol, se bronzear empurrando os carrinhos de bebê nas ruas de Paris e de todo o país”, exortou o deputado, considerando que “cada panela ou cartão vermelho tem o mesmo resultado”, de demonstrar insatisfação.

Mesmo reservado quanto à hipótese de sucesso do referendo de iniciativa partilhada (RIP), sobre o qual o Conselho Constitucional se pronunciará na quarta-feira, o parlamentar disse estar “confiante” quanto à votação de um projeto de lei para revogar a reforma, a ser debatido no dia 8 de junho, na Assembleia Nacional.

Na sexta-feira (28), o gabinete da primeira-ministra Élisabeth Borne anunciou que enviará convites aos sindicatos, nessa semana, para tentar renovar o diálogo.

“A CFDT vai discutir, assim como um sindicato numa empresa vai discutir com o seu patrão, mesmo quando o patrão, algum tempo antes, lhe fez uma sacanagem”, comparou Berger, julgando que “é o papel dos sindicalistas discutir”.

Impacto sobre os transportes

Na véspera de mais um dia de manifestações na França, havia previsão de vários voos anulados neste 1° de maio. Cerca de 33% dos voos devem ser cancelados no aeroporto de Orly e 25% em Roissy Charles de Gaulle. Outros aeroportos franceses também poderão ter seu movimento alterado.

Já a circulação dos trens era prevista como normal nesta segunda-feira na maioria da rede pública de transportes. De acordo com a empresa SNCF, o serviço não deve sofrer grande perturbação e os trens devem circular como previsto. Os sindicatos da categoria, contudo, convocam os trabalhadores a demonstrarem sua insatisfação nas ruas.

(Com informações de agências)

 

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