Retrospectiva Semanal: A “humanidade” do ser humano

Imagem: Pixabay.
#FiqueEmCasa
Você é capaz de sentir indignação e medo pelo próximo?

Por Claudia Baumgardt, para Desacato.info.

Hoje acordei pensando para onde vai à humanidade do “ser humano”, quando este é confrontado pela propriedade privada e os valores que a cercam. Nestes dias de pandemia, podemos observar diferentes tentativas de desmonte dos nossos direitos, mas especialmente as ações em defesa do capital, da propriedade privada e do funcionamento do sistema. É evidente que no capitalismo a vida do trabalhador nunca foi um objeto de preocupação, só ocupamos este espaço quando se trata da produção e circulação das mercadorias.

É necessário que a grande massa trabalhe? Sim, desde que seja alienada a condição a qual esta introduzida, desde que não saiba da mais-valia que o patrão ganha com o seu trabalho, que não seja capaz de compreender todo o processo de produção e, especialmente, que não conheça a sua condição de ser também uma mercadoria nesse processo.

Nossas vidas, alegrias, tristezas e dificuldades nunca importaram para o sistema capitalista, somente nossa capacidade de produção, daí sim, “todo boi de canga é bem alimentado”. O sistema nos ilude com a ideia de ter uma vida boa, lutamos por conforto, que não é errado, mas reproduzimos exatamente o que sistema pede.

Perceba: o sistema de produção capitalista exige produção em grande escala, despreocupado com as condições que terão de ser criadas (desenfreada exploração da mão de obra e das matérias-primas). Ele se reinventa ao longo dos anos, tornando ainda mais cruel esta relação com seus subordinados (nós pobres, classe trabalhadora explorada).

Irônico, há anos lutamos para ter acesso ao que é nosso por direito, entra e sai governante e incansavelmente buscamos construir as condições de uma vida melhor.  Engraçado, possibilitamos diariamente que o patrão tenha esta vida, e não reclamamos, direcionamos todo o nosso descontentamento insultando os que nem acesso a trabalho tem, os esquecidos, os vagabundos como gostam de chamar.

Triste, estamos tão afundados na lógica do sistema, tão individuais que se torna prazeroso mostrar quem “tem mais”, mesmo não tendo nada, a intenção nunca é transformar o sistema, quebrar ele, é somente reorganizar. E sem saber o trabalhador é uma peça essencial neste tabuleiro.

A mudança tem que germinar dessa grande massa adormecida em sua alienação, alimentada pelas grandes redes de comunicação e pelas estruturas sociais que disseminam os valores desde sistema perverso.

Em tempos de pandemia, conseguimos ver a singularidade das mentes, sejam as dos governadores, seja a dos seres humanos que necessitam do trabalho. Pegava-me analisando, estamos todas e todos em casa, “e devemos ficar!”. Nosso país não tem estrutura para salvar todos em um momento de colapso, e nosso presidente parece não ter a capacidade de pensar nem para montar uma frase coesa, quem dirá gerar condições para que sobrevivamos a este momento, nos resta o cuidado. E é aí que consigo ver esta consciência vendida que esta sendo cultivadas há anos pelo capital nas mentes das gentes do mundo.

Questiono-me: será que é tão poderoso o projeto do capital que ao longo dos anos o ser humano perdeu a capacidade de “ser” humano, de sentir indignação e medo pelo próximo?

Claudia Baumgardt, professora de história na rede municipal de Santana do Livramento – RS,  Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e da Pastoral da Juventude Rural (PJR), editora do JTT Indigenista.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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