Assessoria de Comunicação do Cimi.- A aldeia Catàmjê, do povo Krahô-Kanela, foi o espaço escolhido para a realização do Encontro de Formação Política, organizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Goiás/Tocantins, junto ao povo entre os dias 09 a 11 de setembro. O evento tornou-se um momento importante para fortalecer a cultura do povo Krahô-Kanela. Todos os dias teve cantoria e corrida de tora e flecha, momento que fortalece a identidade do povo e sua pertença à Mãe Terra.
Com o objetivo de aprofundar as questões indígenas e os desafios que os povos enfrentam no contexto nacional, o Encontro teve como tema “Direitos indígenas e a política indigenista no contexto das eleições”. Também, celebrou os 50 anos de fundação do Cimi, com cantoria e peixe assado no pátio, e desde o céu a lua acompanhava e iluminava o encontro com sua esplendorosa luz.
“O objetivo de aprofundar as questões indígenas e os desafios que os povos enfrentam no contexto nacional”
O calor intenso, fruto do desmatamento que cerca a aldeia Catàmjê, manteve crianças, adolescentes, jovens, adultos e anciões próximo à casa de reunião. Enfeitada com cofos, bordunas, flechas e colares coloridos lembrava a todo momento a beleza da cultura Krahô-Kanela, de onde vem a força para reafirmar sua identidade e fortalecer a luta.
A formação na comunidade, que está localizada no município de lago da Confusão, Tocantins, iniciou com relatos dos indígenas. Onde manifestaram a grande preocupação pelo contexto político que o brasil atravessa, as ameaças aos direitos indígenas, aos seus povos e territórios por parte do atual governo federal.
“Enfeitada com cofos, bordunas, flechas e colares coloridos lembrava a todo momento a beleza da cultura Krahô-Kanela, de onde vem a força para reafirmar sua identidade e fortalecer a luta”
Principalmente nos jovens, “se viu a preocupação pela atual conjuntura indigenista, que ameaça gravemente os territórios indígenas e seus direitos, como as invasões, ataques e violência sistemática”, destaca Eliane Marins, coordenadora do Cimi Regional GO/TO. “Lembraram dos ataques recentes aos povos Guarani Kaiowá, Pataxó e Guajajara, que por defender seus territórios sofreram ataques e mortes de lideranças”, completa.
Os indígenas Krahô-Kanela, da aldeia Catàmjê, relataram as ameaças de pescadores ilegais, “entram para pescar no território”, afirmam. E por outro lado, são pressionados pelo agronegócio para que arrendem seu território para o plantio de soja, mesmo assim, o povo resiste as investidas dos fazendeiros. As terras indígenas são de usufruto exclusivo dos povos indígenas, logo é inconstitucional arrendar as terras indígenas.
“Os indígenas Krahô-Kanela relataram as ameaças de pescadores ilegais, entram para pescar no território”
A comunidade da aldeia Catàmjê, continua firme e manifestou muita preocupação e indignação com o governo Bolsonaro, de incentivar no Congresso Nacional a políticos da bancada ruralista e de outros setores a favorecer a flexibilização e enfraquecimento dos direitos indígenas por meio das propostas de lei e emendas à Constituição que de forma aberta, quer favorecer a entrada de projetos de mineração, extração de madeira, agronegócio, ecoturismo e outros, descreve a coordenadora do Cimi Regional GO/TO.
Os indígenas ainda listaram Projetos de Lei (PL) e Propostas de Emenda à Constituição (PEC), como o PL 490, PL 191 e a PEC 215, entre outras propostas legislativas que se somam na estratégia anti-indígena para desterritorialização dos povos indígenas, a fragilização dos direitos e a ocupação e roubo das terras indígenas. A comunidade também manifestou preocupação com a paralização do julgamento sobre a demarcação das terras indígenas que em análise no Supremo Tribunal Federal (STF) e teve sua repercussão geral reconhecida pela Corte.
“A comunidade Catàmjê manifesta muita preocupação e indignação com o governo Bolsonaro e sua policia anti-indígena”
“Estamos prontos para ir a Brasília na proteção de nossos territórios e de nosso direito. Seguiremos atentos e não vamos deixar que o agronegócio destrua nossos direitos. As lideranças também se pronunciaram: “O STF tem que votar a favor da Constituição e a favor de nossos direitos, pois o Marco Temporal é inconstitucional”, destacam os Krahô-Kanela.
Na oportunidade, os indígenas denunciaram de forma veemente as ameaças, e tentativas sistemáticas, feitas por produtores rurais da região, que buscam minar a essência dos povos indígenas que é a dimensão coletiva da terra. E reafirmaram, “queremos uma sustentabilidade tradicional, que respeita a cultura, a vida e organização social dos povos indígenas, e que respeite a natureza”.
Os impactos do agronegócio, no entorno da terra indígena, vêm se acentuando ano a ano provocando as mudanças climáticas, interferindo no fluxo dos rios e na biodiversidade local. Com destaque para o desmatamento, a pulverização de grandes quantidades de agrotóxicos, a irrigação desenfreada que suga sem piedade os rios da região, principalmente o rio Formoso e o envenenamento da água, da terra e do vento. Atividades que se revelam mortais a natureza e os povos.
“Os impactos do agronegócio vêm se acentuando, provocando as mudanças climáticas, interferindo no fluxo dos rios e na biodiversidade local”
A participação e luta dos povos indígenas para garantir na Constituição Federal de 1988 o Art. 231 e 232, que valoriza a diversidade cultural dos povos indígenas e reconhece o direito originário dos povos indígenas, que assegura aos povos indígenas o usufruto exclusivo de suas terras, também foi debatido durante a formação. Assim como, análise da atual conjuntura política nos revela dois projetos em disputa na luta pela terra, um representa a morte e destruição dos direitos indígenas e dos pobres, e o projeto de vida ancorado no Bem Viver dos povos, onde ninguém pode ser excluído.
Os indígenas manifestaram indignação com a atuação da Fundação Nacional do Índio (Funai), que mesmo sendo vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, “Bolsonaro consegui que os ruralistas fossem favorecidos, pois com as nomeações militarizou a Funai, passou a liberar as terras indígenas para o agronegócio e grandes projetos de mineração. Com os cortes de orçamento gradativo, paralisou a fiscalização e proteção das terras indígenas. E o que foi pior, a própria Funai foi cumplice para anão demarcar nenhum centímetro de terra indígena, provocando o aumento de conflitos que acenderam a violência sistêmica e genocida do governo Bolsonaro”, denunciam os Krahô-Kanela.
“Bolsonaro consegui que os ruralistas fossem favorecidos, militarizou a Funai e passou a liberar as terras indígenas para o agronegócio e mineração”
Eleições e os povos indígenas
A democracia e o Estado de Direito estão ameaçados, com as inúmeras ações antidemocráticas do atual governo. Medidas que favorecem a fome de mais de 33 milhões de pessoas, a destruição da natureza com a liberação do pacote do veneno, com a liberação de armas, com a privatização de empresas brasileiras, das mortes por Covid-19 e tantos males, alimentados pelo ódio e pela enxurrada de Fake News contra o povo pobre e excluído, provoca morte e desesperança, lembra Eliane.
Sendo assim, fundamental o debate sobre as eleições e o valor do voto neste contexto desafiante. A importância de unir todas as forças democráticas para o resgate da vida e das instituições. “O voto é a uma forma importante e fundamental para que o povo brasileiro possa vencer o ódio sistêmico, para reconstruir o Brasil na defesa do bem comum, como fundamento para a justiça social e a justiça ambiental”, reforçou a coordenadora do Cimi Regional GO/TO.
“A democracia e o Estado de Direito estão ameaçados, com as inúmeras ações antidemocráticas do atual governo”
As lideranças trouxeram à roda de conversa a importância de votar em pessoas que defendam os direitos indígenas e da Mãe Natureza, que tenha interesse pela garantia da demarcação das terras indígenas, valorize a diversidade cultural, promova a paz social, e favoreça a vida dos pobres.
Para fechar a temática das eleições como exercício de cidadania, foi feita uma oficina sobre o ato de votar, analise dos candidatos, os perigos das Fake News e os crimes eleitorais. Além, da importância da urna eletrônica e a defesa dela como instrumento seguro de eleições livres e democráticas. ´R importante lembrar que o voto é um direito de todos e deve ser exercido de forma livre, sem medo, democrática e sem violência. E que o resultado deve ser respeitado por todos e que ninguém, nem o presidente da República está por cima da Lei Maior, reforça Eliane.
“As lideranças trouxeram à roda de conversa a importância de votar em pessoas que defendam os direitos indígenas e da Mãe Natureza”
Assim, da mesma forma que cada bolinha de missanga, se une aos poucos para fazer um lindo colar ou enfeite, aos poucos vão se tecendo os sonhos para a defesa dos direitos indígenas e territórios, para a proteção do Bem Viver dos povos indígenas que é a proteção das terras indígenas e os seus direitos. Para viver em paz e harmonia com a natureza e com os outros povos, de forma coletiva, em reciprocidade com a Mãe Terra.
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