Otimista, ministra acredita que Congresso aprovará entrada do Brasil no maior centro científico do mundo

Depois de quatro anos sob ataques do governo de Jair Bolsonaro, a ciência voltou a ter o destaque que merece no Brasil. A ministra brasileira da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, conversou com a RFI sobre a visita que fez à Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), em Meyrin, na Suíça. O país pode em breve se tornar membro associado deste que é o mais importante laboratório de Física do mundo.

Foto: Assessoria da Ministra.

Por Valéria Maniero, correspondente da RFI em Genebra.

Segundo a ministra, para ser membro associado do CERN, é preciso pagar US$ 12 milhões por ano, mas haverá um “retorno de 70% dessa aplicação na nossa indústria”, ressaltou. Luciana Santos também explicou outros benefícios dessa integração ao Cern que melhorariam o dia a dia dos brasileiros, como o diagnóstico de doenças, tratamento de cânceres, produção de alimentos, “soluções que não seriam possíveis sem aquela ferramenta tecnológica”.

É no CERN que está o Grande Colisor de Hádrons (LHC, sigla em inglês), o maior acelerador de partículas do mundo. Com 27 km de diâmetro e passando pela França e pela Suíça, ele provoca pequenas explosões controladas, e já conseguiu simular o que os cientistas classificaram de “Big Bang em miniatura”.

Para Luciana Santos, há “uma troca de conhecimentos que seria impossível sem essa associação”. O custo-benefício vale a pena, segundo ela, “pelo que abre de possibilidades da inserção do país em cadeias muito mais dinâmicas e soluções para o dia a dia do povo brasileiro, de produção de alimentos a tratamentos de saúde”. “A gente exporta o minério, mas não produz as ligas que possibilitam os ímãs e os supercondutores.”

Os investimentos do CERN com contratos e encomendas junto à indústria alcançaram cerca de US$ 500 milhões nos últimos anos, segundo o ministério.

“Um dos grandes desafios brasileiros é nós nos inserirmos nas cadeias mais dinâmicas da economia. Nós não podemos ser eternamente exportadores de commodities. Nós temos minérios, por exemplo, nióbio, que é fundamental para o estudo da composição dos materiais. Nós vamos poder fazer as ligas, por exemplo, e ter essa transferência tecnológica que tem um uso vasto na indústria. Então, a gente abre um novo mercado para a indústria brasileira, se inserindo nas cadeias dinâmicas e, com isso, a gente entra em outro patamar”.

É no CERN que está o Grande Colisor de Hádrons (LHC, sigla em inglês), o maior acelerador de partículas do mundo. Com 27 km de diâmetro e passando pela França e pela Suíça, ele provoca pequenas explosões controladas, e já conseguiu simular o que os cientistas classificaram de “Big Bang em miniatura”.

Além da ministra, fazem parte da delegação brasileira na Suíça quatro deputados federais: Flávio Nogueira (PT/PI), vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara; Aliel Machado (PV/PR), Reimont (PT/RJ) e Josias da Vitória (PP/ES).

CERN pediu equipamentos ao Brasil

Antônio José Roque da Silva, diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), também integrante da comitiva brasileira, revelou à RFI um pedido que o CERN fez ao Brasil.

“Daqui a alguns anos, eles pretendem aumentar a luminosidade do acelerador. Esses projetos, em geral, são feitos em colaboração e diversos países fornecem possíveis equipamentos”, disse. Segundo ele, a Rússia havia se comprometido a desenvolver alguns desses equipamentos, mas a guerra na Ucrânia atrapalhou o processo.

“O CERN tem conversado com diversos países e buscado encontrar soluções para não comprometer o cronograma deles […] e chegou a conversar com o CNPEM, pelo conhecimento, experiência que tem no desenvolvimento de componentes para aceleradores”, destacou.

Segundo José Roque, eles entendem que existe essa competência no Brasil, mas é necessário que o país seja um membro associado para que isso possa, de fato, se concretizar. “São desenvolvimentos que, se eventualmente fossem fabricados no Brasil, envolveriam já empresas brasileiras. Então, você já poderia obter resultados dessa associação de maneira muito rápida, o que seria muito positivo”.

Oficialização do acordo

Em março de 2022, sob a gestão do então ministro da Ciência, Marcos Pontes, o Brasil assinou acordo para se tornar membro associado do CERN. Para oficializar o acordo, é preciso a aprovação do Congresso.

Luciana Santos está bastante otimista e acredita que a aprovação do acordo não será “contaminada pelo ambiente da disputa política”. Segundo ela, o Congresso “compreende o papel da ciência e da tecnologia”. A ministra pediu um prazo maior, até março de 2024, que foi aceito pelo CERN.  “Nós pretendemos até lá, finalmente, nos associarmos a esse equipamento que é singular no mundo e o Brasil vai poder estar em outro patamar de produção de conhecimento”, ressalta.

“Eu posso dizer que o Congresso brasileiro tem tido uma visão bastante elevada do papel da ciência. Até agora, está tramitando dentro de um fluxo de tempo normal. O Celso Russomano, que é o relator na Comissão de Relações Exteriores, já deu parecer favorável. Aprovado lá, vai tramitar em três comissões ao mesmo tempo, vai para o Senado depois e para o plenário e a gente aprova essa associação ao CERN. Eu sou muito otimista, acho que vai dar tudo certo porque o Congresso faz essa distinção da importância da ciência brasileira”, diz.

Se o acordo fot aprovado, o Brasil será o único país das Américas a se tornar membro do CERN, após mais de 30 anos colaborando com projetos dessa instituição, que é uma das principais organizações científicas do planeta. O centro conta com a participação de mais de 12 mil cientistas de mais de 100 nacionalidades.

Ser membro associado do CERN significa não ter direito de voto no conselho, como é o caso hoje de Croácia, Índia, Letônia, Lituânia, Paquistão, Turquia e Ucrânia. Atualmente, a organização conta com 23 membros: 21 países europeus e Israel.

O Brasil de volta 

Luciana Santos, fazendo coro com os outros ministros que estiveram recentemente na Suíça, lembrou que o Brasil “está de volta”.

“Esse é o espírito que tem movido o presidente Lula. O Brasil voltou. Voltou a se inserir, também, no contexto internacional, como a gente lá em Pernambuco diz, ‘de com força’. Ele [Lula] tem procurado fazer e restabelecer as relações diplomáticas em nível elevado, sempre levando a bandeira da paz e da cooperação. Então, eu acho que a gente vive um momento rico de reinserção no mundo com uma perspectiva muito propositiva”, disse a ministra na quinta-feira (8), em uma recepção ao lado do representante permanente do Brasil junto à ONU em Genebra, embaixador Tovar da Silva Nunes.

Luciana Santos lembrou alguns indicadores econômicos do Brasil atualmente. “A economia está reagindo, a inflação está caindo, o Real está se valorizando. Então, isso toma mais otimismo ainda no cenário de a gente fazer valer a confiança que a população depositou no nosso governo”, disse.

Depois da visita ao CERN, a ministra se reuniu com o cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Jeremy Farrar.

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