O voto impresso merece atenção, por Luis Felipe Miguel

A agitação que o bolsonarismo promove tem eficácia porque, de fato, o sistema de votação eletrônica é completamente opaco para o cidadão comum. Nós simplesmente confiamos nos especialistas.

Foto: Elza Fiúza/Arquivo Agência Brasil

Por Luis Felipe Miguel.

Há que separar a discussão sobre o voto impresso da agitação bolsonarista em torno do voto impresso.

O que Bolsonaro e Bia Kicis estão fazendo é – transparentemente – criar tumulto. Serve para alimentar a lenda de que Bolsonaro é a voz da imensa maioria do povo brasileiro e inimigo nº 1 da velha política, por isso as eleições de 2018 teriam sido fraudadas contra ele.

O fato de que ele ganhou as eleições – e o fato de que a fraude institucional que então ocorreu foi no sentido de beneficiá-lo? Bom, são só fatos. E fatos, como todos sabemos, nada importam para Bolsonaro e sua base.

Mais importante ainda, a agitação sobre o voto impresso serve para lançar uma sombra sobre as eleições do ano que vem, permitindo ao bolsonarismo contestar uma derrota hoje bastante provável, justificar uma tentativa de golpe e trabalhar para inviabilizar o próximo governo.

Justamente por isso, Kicis bate pé que o voto impresso tem que estar 100% implementado antes das eleições, o que mesmo ela sabe que é absolutamente inviável.

Tudo isto é verdade. Assim como é verdade que nunca houve suspeitas sérias de fraude em relação às urnas eletrônicas brasileiras.

E é verdade, sobretudo, que as maiores ameaças à lisura do processo eleitoral vêm de outros lugares: as pressões dos militares, a violência das milícias, a violência de outro tipo das igrejas, a parcialidade e a covardia do Judiciário, a manipulação da informação pela mídia, as redes de fake news, o poder do dinheiro.

Ainda assim, o voto impresso merece atenção.

Lembrando, em primeiro lugar, que voto impresso não é – ao contrário do que às vezes se tenta insinuar – a volta do velho voto manual, ele sim tão propício a fraudes de todo o tipo.

O voto impresso é o voto eletrônico em que a opção do eleitor é registrada em papel, de maneira que ele possa confirmar que está correto. Depois, a cédula em papel é depositada na urna, automaticamente ou pelo próprio eleitor, permitindo eventual aferição do resultado.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

 

 

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