O segredo na Lava-Jato é diferenciar as acusações falsas das verdadeiras

Uma afirmação falsa no meio de muitas verdadeiras pode fazer todas parecerem verdadeiras; assim, na Lava-Jato, acusações sem provas ao PT (como instituição), ao Lula ou à Dilma podem se misturar a acusações com provas de diversos crimes cometidos por outras pessoas (inclusive petistas) e instituições

Por Nicolas Chernavsky, CulturaPolítica.info.

As eventuais condenações judiciais chaves para o futuro próximo da política brasileira no âmbito da Lava-Jato (com chances reais de acontecer) parecem ser a do PT (como instituição, não de pessoas do PT), do Lula e da Dilma. Assim, mesmo que empresários, doleiros, operadores, assessores, deputados, senadores, ministros, advogados, etc. sejam presos e condenados, se o PT (como instituição), Dilma ou Lula não forem condenados, não haverá mudanças decisivas na política nacional no curto prazo. Claro que todo crime de grande monta comprovado pelo sistema judicial em um país democrático é um impulso progressista; entretanto, mesmo que empresários, doleiros, operadores, assessores, deputados, senadores, ministros, advogados, etc. tenham crimes comprovados pelo sistema judicial, isso não inclinaria decisivamente a balança eleitoral do futuro próximo em favor do progressismo. Já se o PT (como instituição), Dilma ou Lula forem condenados pela mais alta instância do judiciário, isso inclinará decisivamente a balança eleitoral do futuro próximo em favor do conservadorismo.

Por isso, o segredo para a Lava-Jato levar a condenações por crimes de grande monta provados sem inclinar a balança eleitoral para o conservadorismo através de condenações por crimes não provados, é que as eventuais supostas provas apresentadas sejam atentamente examinadas quanto a sua validade não só pelo judiciário, mas por toda a população brasileira. Isso porque os três poderes da república (o executivo, o legislativo e o judiciário) precisam, para funcionarem adequadamente, de observação popular e periódica avaliação por parte do povo quanto à permanência ou não dos ocupantes de seus altos cargos. No executivo e no legislativo, o povo tem a cada poucos anos a oportunidade de decidir diretamente quem fica e quem sai de seus altos cargos. No judiciário, o povo não tem essa possibilidade direta, sendo que só pode fazê-lo através do executivo e do legislativo, e ainda assim, com regras complexas que dificultam a influência do sistema democrático no judiciário.

Assim, a defesa da democracia, da justiça e do futuro das brasileiras e dos brasileiros passa neste momento por que o povo brasileiro, em cada acusação da Lava-Jato e de outras operações do sistema judicial, deixe de lado impulsos generalizantes e consiga diferenciar as acusações falsas das verdadeiras. Como indica a obra do grande escritor francês Victor Hugo, o caminho do falso para o verdadeiro se mistura ao caminho do mal para o bem, que é o caminho do progresso. Clique aqui para se tornar um colaborador financeiro do culturapolitica.info.

Foto: Tali Feld Gleiser.

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