O home office só existe graças a uma mulher negra chamada Marian Croak

Atual vice-presidente de engenharia do Google, a doutora em análise quantitativa foi desacreditada no desenvolvimento de seu projeto VoIP, mas até hoje inspira outras mulheres negras

Imagem mostra a norte-americana Marian Croak, criadora da chamada de vídeo.
Imagem: Reprodução/Google

Quem pode usufruir dos benefícios do trabalho remoto – ou home office – deve tal privilégio a uma mulher negra, chamada Marian Croak. Doutora em psicologia e análise quantitativa pela Universidade do Sul da Califórnia, Marian desenvolveu a tecnologia central que torna possível a comunicação por áudio e vídeo via internet, a famosa chamada de vídeo.

De acordo com o artigo “Marian Croak – Heróis em Campo”, de João Ricardo Mendes, a engenheira e vice-presidente – que lidera a equipe responsável pelo desenvolvimento de tecnologias de comunicação do Google –, trabalha hoje em dia em atualizações de softwares usados no cotidianos de tantas pessoas, como o Google Meet e o Google Duo.

Mas sua história não começa aí: antes de se juntar ao Google em 2014, Marian Croak trabalhou na AT&T, empresa em que liderou o desenvolvimento de várias tecnologias de comunicação, incluindo a Voice over Internet Protocol (VoIP), que permite fazer chamadas de voz pela internet. O protocolo de Internet (IP) foi originalmente criado para redes de dados, mas devido ao seu sucesso, também foi adaptado para rede de voz.

Croak também foi uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento do 4G e 5G na AT&T. Dentre suas conquistas profissionais, Marian Croak detém cerca de 200 patentes e entrou no Hall da Fama dos Inventores Nacionais por sua patente sobre a tecnologia VoIP (Voice over Internet Protocol).

Ela é uma das duas primeiras mulheres negras a receber essa honra, junto com Patricia Bath. E sua invenção, hoje em dia tão comum, é vital para trabalho remoto, conferências e também doações por celular.

Em reconhecimento às suas contribuições para a indústria de tecnologia, Marian Croak recebeu vários prêmios, incluindo o Prêmio da Medalha Nacional de Tecnologia e Inovação, o Prêmio da Associação de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) e o Prêmio de Liderança em Engenharia da AT&T.

Na época em que testava a tecnologia, a inventora estava bastante desacreditada. Croak descreve que “muitas pessoas eram céticas. Mas com muito trabalho e muitos testes e experimentações, você vê o que realizamos hoje.”

Marian Croak desenvolveu essa tecnologia após o furacão Katrina e revolucionou a forma como as pessoas doam para organizações de caridade quando ocorre um desastre natural. Com isso, ela também recebeu o Prêmio de Patente Thomas Edison 2013 pelo feito.

Croak é conhecida por sua liderança em iniciativas para aumentar a diversidade e a inclusão na indústria de tecnologia. Ela também é um modelo e mentora para muitas mulheres e minorias que buscam carreiras em ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

Inspiração

Para a bolsista e estudante de engenharia mecatrônica Bruna Silva Almeida, é necessário que mais mulheres negras como Marian Croak recebam o reconhecimento necessário por seus feitos.

A estudante destaca que a engenharia em geral é um nicho bastante machista, sexista e racista, o que contribui para intimidar as mulheres negras. Logo, a norte-americana representa uma inspiração e uma referência para tantas meninas negras que se identificam com o nicho da tecnologia.

“Você só consegue perceber a grandeza de trabalhos como do de Marian Croak quando há espaço para mulheres negras criarem e deixarem que sua inteligência flua. E quando se trata de ciência e tecnologia, ainda é um desafio se fazer ouvir”, salienta.

Na universidade, a qual Bruna prefere não identificar com medo de represálias, ela afirma ser a única mulher de sua turma de engenharia mecatrônica e única aluna negra em todos os cursos de engenharia do período da manhã. Cursando o sétimo semestre do curso, a estudante destaca que trabalhos em grupo sempre representaram um desafio, pois os demais alunos sempre a deixavam de fora.

“Quando eu li uma matéria que a Marian Croak disse que se sentia desacreditada, eu me identifiquei muito, pois era a realidade que eu estava vivendo na vida acadêmica. Cansei de ter que implorar para cumprir atividades em grupos que não me queriam. Então, quando vejo mulheres como ela se destacando, vejo que há esperança para meninas como eu, que escolheram uma área que nos subjuga o tempo todo”, pondera.

“Existe muito mais de uma Marian Croak por aí”

A professora de História da Tecnologia Samantha Angelim leciona para diversas universidades de Tecnologia da Informação. Para a docente, o que mais é possível aprender com exemplo de Marian Croak é a fé no próprio trabalho apesar das circunstâncias sociais.

“É claro que a gente não pode esquecer do fato de que nem todo mundo tem acesso à vida acadêmica. Mas quem tem precisa lembrar que muitas mulheres negras tiveram seus nomes apagados, portanto, é nosso dever deixar nossos nomes marcados sempre que possível, para mostrar ao mundo que tecnologia e negritude são assuntos afins”, enfatiza a educadora.

Com seus alunos, Samantha tem o costume de mostrar figuras históricas que não recebem o devido reconhecimento, a fim de inspirar e mostrar aos estudantes as possibilidades de criação mesmo em situações com poucos recursos financeiros.

“Tudo é tecnologia e existe muito mais de uma Marian Croak por aí, criando maravilhas a partir da escassez. O pente é uma tecnologia. A caneta é uma tecnologia. As panelas, o teclado, o 3D. Então, que a gente possa enxergar essas mentes como brilhantes independentemente de seu exterior negro”, finaliza.

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