MPA apresenta sua pauta nacional ao ministro Paulo Teixeira, do MDA

Documento formulado durante reunião da direção nacional do movimento foi entregue durante encontro em Brasília

Movimento reafirmou ao Governo Federal seu compromisso com a defesa da democracia. Foto: Mateus Quevedo

Por Mateus Quevedo e Marcos Antonio Corbari.

Dirigentes do Movimento dos Pequenos Agricultores e das Pequenas Agricultoras (MPA) se reuniram com o ministro Paulo Teixeira no final da tarde desta quinta-feira (23) no Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) para apresentar a sua pauta nacional ao Governo Federal.

Entre os pontos da pauta estiveram a apresentação da Missão Josué de Castro, ação construída com diversas organizações e que objetiva alimentar 5 milhões de pessoas e a proposta do MPA para o Programa de Alimentação Saudável e de garantia de crédito e fomento para as famílias que não acessam o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Também foram destacadas no documento a urgência de políticas para mitigação dos impactos das mudanças climáticas, com foco inicial no Rio Grande do Sul, que se encontra em estado de calamidade; ações emergenciais para potencializar a produção de alimentos para o conjunto do campesinato brasileiro, como, por exemplo, a garantia de compra e estruturação da cadeia produtiva do arroz; e, também, sobre compromissos já pactuados com o MDA em outras ocasiões.

“Nós sempre estivemos em luta no campo, nas ruas e nas redes, em defesa da democracia, denunciando e resistindo a todo tipo de injustiça e preconceito com o conjunto da classe trabalhadora” afirmou Anderson Amaro, dirigente do MPA no estado da Bahia, ao final do encontro.

“O Movimento entende que a transição agroecológica dos sistemas alimentares é uma ação decisiva para superar a fome e as desigualdades sociais, enfrentar as mudanças climáticas, proteger a biodiversidade e a recuperação dos ecossistemas associados à promoção da saúde pública”, complementa Francisca Souza, do MPA do Piauí.

Receptivo aos pontos de pauta apresentados, Teixeira afirmou que todos os tópicos serão avaliados e debatidos internamente e demonstrou confiança que muitos dos itens apresentados pelo MPA de fato são essenciais para que se construa a transição dos sistemas alimentares com o protagonismo da agricultura camponesa e familiar no país.

“Queremos aumentar nosso diálogo com o MPA e já, de imediato, coloco toda nossa equipe para avançar nas pautas emergenciais que vocês apresentam”, afirmou.

Segundo o ministro, neste momento a estrutura do MDA está voltada à “organização de um fundo de aval para que os pequenos agricultores possam ter acesso a crédito para avançar na produção, tecnificação e para as cooperativas, que será integrado ao Plano Safra”. Teixeira afirmou que pretende desenvolver a partir da pasta, ações e políticas que sejam estruturantes.

Conheça as proposições apresentadas pelo MPA:

O primeiro ponto discutido foi a respeito da Missão Josué de Castro, que tem como elemento fundamental a transição agroecológica, o abastecimento popular e o acesso a comida de verdade para cinco milhões de pessoas.

“Projetamos a produção camponesa e a rede de abastecimento popular de alimentos como um contínuo econômico, técnico, geográfico e cultural, capaz de combinar a alimentação de cinco milhões de pessoas com o acúmulo de força social para a defesa da democracia”, explica Leomárcio Araújo, também dirigente do MPA na Bahia. A missão é construída por diversos movimentos populares, sindicais, ONG’s e outras organizações e tem uma agenda de articulação com diversos ministérios e instituições estatais.

O segundo ponto apresentado a Teixeira, alerta para a necessidade de se construir no Brasil um Programa de Alimentos Saudáveis. “Entendemos que é necessário mudar a lógica de financiamento da agricultura, em uma lógica que supere o PRONAF, que se tornou em um instrumento de aprofundamento à financeirização da produção agrícola, com base nas commodities, em detrimento à produção de alimentos saudáveis”, explica Rafaela Alves, do MPA em Sergipe.

Quatro soluções foram apresentadas a partir deste ponto: combate à fome a partir da produção de alimentos da agricultura familiar camponesa, transição agroecológica massiva, fortalecimento da saúde pública e lançamento de nova geração de políticas públicas capazes de promover a participação popular, a consciência cidadã e a defesa da democracia.

Alimentar o Brasil e enfrentar a emergência climática

Acerca da emergência climática o MPA citou a catástrofe socioambiental do Rio Grande do Sul como fato culminante, alinhado após uma série de alertas e de eventos isolados de menor porte. “É necessário uma mudança estrutural, uma vez que eventos como estes são cada vez mais frequentes e em intensidades maiores”, afirma Frei Sérgio Görgen, dirigente do MPA no RS.

“Sabemos que o modelo de produção da grande agricultura convencional é um dos fatores fulminantes para o desequilíbrio ecológico, sendo necessário mudar a lógica de financiamento para um sistema alimentar resiliente”, completa. Dentro desse ponto de pauta, o MPA aponta como um dos destaques a necessidade de Pagamento por Serviço Ecossistêmico junto aos agricultores familiares, camponeses, indígenas, povos e comunidades tradicionais que consorciam a produção de alimentos saudáveis com a preservação da natureza.

“Reivindicamos ainda ao governo federal, que priorize políticas públicas visando o aumento da produção de alimentos e o aumento da renda, combinado com a política de abastecimento”, comenta Leila Denise Meurer, do MPA em Rondônia, aludindo às ações imediatas necessárias para atender a base camponesa do MPA, quarto ponto da pauta apresentada.

Fazem parte das reivindicações apresentadas as ações voltadas à promoção da soberania alimentar, tecnificação integral para a agricultura camponesa, reajuste dos preços dos itens que integram o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), fortalecimento da Política Nacional de Convivência com o Semiárido, implementação de um Plano Nacional de Agroindústrias Multifuncionais, regularização fundiária e a afirmação da demarcação dos territórios camponeses e implementação de um Programa Público Nacional de Saneamento Básico Rural.

Ainda no quarto ponto de pauta são requeridos apoio à implementação de 25 mil biodigestores familiares, massificação da Transição Agroecológica, negociação das dívidas da Agricultura Familiar, Assistência Técnica e Extensão Rural, implantação de um Programa para instalação de usinas solares comunitárias (“Sol para Todos – Sol é Alimento”), universalização do acesso à água potável e condições de Permanência da Juventude no Campo, também foram apresentadas.

Produção de arroz no Nordeste

O ministro deu um prazo de 60 dias para o MDA apresentar respostas aos pontos mais específicos. Outros pontos mais estratégicos e emergenciais se darão a partir da instalação de um grupo de trabalho que envolva as secretárias da Agricultura Familiar e Agroecologia (SAF), Secretaria de Abastecimento, Cooperativismo e Soberania Alimentar (SEAB), Secretaria de Governança Fundiária, Desenvolvimento Territorial e Socioambiental (SFDT), a Superintendência Federal do Desenvolvimento Agrário (SFDA) e o MPA.

Um dos encaminhamentos mais importantes da conversa foi sobre a proposta de um programa para estruturar a cadeia produtiva do arroz, de forma a decentralizar e garantir a produção, beneficiamento e comercialização desde a agricultura camponesa e familiar, que integra o quinto ponto da pauta apresentada.

“Temos uma oportunidade ímpar de garantir um debate sobre a importância da agricultura familiar para a produção de alimentos, como o arroz, em grande escala, envolvendo diversas unidades de produção camponesa, a política de produção do arroz precisa ser com base na agricultura familiar, uma vez que temos muitos pequenos agricultores que produzem sem ajuda do Estado”, defendeu Palmeira.

Em resposta, o secretário Vanderley Ziger, da SAF, respondeu se comprometendo em ajudar nesta estruturação e defendeu que “será importante garantir que haja a compra antecipada da produção destes pequenos produtores para que de condições de acesso ao mercado, este é um ponto central, nos colocamos a disposição para ajudar o MPA nessa operação”.

Para conhecer a pauta integral apresentada pelo MPA ao governo federal através do ministro Paulo Teixeira, acesse o documento em pdf: Pauta Nacional do MPA / Maio de 2024.

Matéria enviada por Marcos Antonio Corbari.

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