Morreu o filósofo Enrique Dussel

Dussel, em novembro de 2022. Foto: Roberto García Ortiz/ La Jornada

Cidade do México. O filósofo Enrique Domingo Dussel Ambrosini, morreu neste domingo aos 88 anos de idade, informou seu filho Enrique Dussel Peters nas redes sociais.

“Muito triste para todos nós. Hoje 5 de novembro de 2023 às 20:50 faleceu Enrique Domingo Dussel Ambrosini, marido, pai, avô, professor, teólogo, filósofo, historiador, professor e pensador crítico. Que ele descanse em paz”, disse ele esta noite.

A reitora da Universidade Autônoma da Cidade do México (UACM), Tania Rodríguez Mora, lamentou a morte em sua conta no Twitter: “Enrique Dussel, nosso querido e admirado reitor, faleceu. Sábio e generoso. A @UACM sempre será grata a ele: obrigada, obrigada, obrigada”.

Dussel nasceu em Mendoza, Argentina, em 24 de dezembro de 1934, e em 1975 chegou ao México no exílio, onde mais tarde obteve a cidadania. Enrique Dussel é reconhecido internacionalmente por seu trabalho no campo da ética, da filosofia política e do pensamento latino-americano em geral, e por ser um dos fundadores da Filosofia da Libertação, corrente de pensamento da qual é um dos arquitetos.

Manteve um diálogo com filósofos como Karl-Otto Apel, Gianni Vattimo, Jürgen Habermas, Richard Rorty e Emmanuel Lévinas. Seu vasto conhecimento sobre esses temas, materializado em mais de 70 livros e mais de 400 artigos – muitos deles traduzidos para vários idiomas -, faz dele um dos mais prestigiados pensadores filosóficos do século XX, que contribuiu de forma original para a construção de uma filosofia comprometida.

Enrique Dussel era formado em filosofia pela Universidad Nacional del Cuyo, Mendoza, Argentina, em 1957, e em estudos religiosos pelo Institut Catholique de Paris, em 1965. Doutor em filosofia pela Universidade Complutense de Madri, Espanha, em 1959. Doutor em história pela Universidade de Sorbonne, Paris, 1967.

Passou a maior parte de sua carreira profissional no México, onde, entre outros cargos, foi professor de ética e filosofia política na UNAM; e professor-pesquisador no Departamento de Filosofia da Universidad Autónoma Metropolitana (UAM) Iztapalapa. Também atuou como reitor interino da Universidade Autônoma da Cidade do México (UACM).

Foi membro fundador da Filosofia da Libertação na América Latina e recebeu pelo menos seis doutorados Honoris Causa, entre eles pela Universidade de Friburgo (Suíça, 1981) e pela Universidad Mayor de San Andrés (La Paz, Bolívia, 1995). Ele também foi o fundador da “Revista de Filosofía Latinoamericana” e, durante a primeira década do século XXI, foi membro do Grupo Modernidad/Colonialidad, o principal coletivo de pensamento pós-colonial da América Latina.

De acordo com sua biografia, a tese fundamental de Enrique Dussel foi a Filosofia da Libertação, um pensamento que emerge de um locus enuntiationis (lugar de enunciação) situado na exterioridade, na periferia geopolítica, cultural, econômica, política e militar do Sul global, com uma posição ativa na vida em um mundo neocolonial dependente.

Como um ato de rebelião descolonizadora, a Filosofia da Libertação proposta por Dussel viu nos povos dominados, excluídos da civilização moderna – e, portanto, de seu pensamento – a oportunidade de desdobrar um horizonte mais amplo do que o do mero eurocentrismo.

Partindo da história mundial, Dussel situou esse pensamento filosófico a partir da alteridade do Outro, do nada, do não-ser, “da viúva, do órfão, do estrangeiro” e do pobre, uma alteridade a partir da qual pode ser feita a crítica de qualquer sistema (econômico, político, epistemológico, filosófico, de gênero, cultural, racial etc.) que se fecha em si mesmo.

Dussel se inspirou em seus autores favoritos (latino-americanos e europeus, de Salazar Bondy ou Freire a Sartre ou Heidegger, passando por Hinkelammert, Levinas, Ricoeur ou Benjamin) e os incorporou a um novo discurso descolonizador e crítico.

O resultado não foi apenas uma nova visão da história mundial, mas também novas categorias filosóficas que foram refinadas e aperfeiçoadas no decorrer dos debates, dos anos e dos lugares existenciais a partir dos quais pensar. A interpelação intercultural dos povos nativos fortaleceu as teses originais de sua Filosofia da Libertação.

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