Magnitude de Schwanke no Olho do Museu Oscar Niemeyer

Até o dia 15 de junho, o Museu Oscar Niemeyer (MON), no famoso Olho, abriga em Curitiba (PR), a exposição “Schwanke, uma Poética Labiríntica” que reúne 399 trabalhos de Luiz Henrique Schwanke (1951-1992), uma parcela expressiva apresentada de modo inédito. A realização aproxima o MON e o Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke que atua em Joinville por meio do instituto que leva o nome do artista joinvilense. No recorte curatorial da professora e doutora Maria José Justino estão trabalhos nunca expostos em Curitiba, onde Schwanke vive e estuda entre 1970 e 1985. Formado em comunicação social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), ele atua no campo da publicidade, do teatro e cria trabalhos como ator e cenógrafo.

Entre as décadas de 1970 e 1980, constrói uma produção vasta e vigorosa, um legado composto por cerca de 5 mil peças entre desenhos, pinturas, instalações, esculturas e projetos que resultam em inúmeras exposições individuais, coletivas e salões. Suas obras, que lhe garantem cerca de 30 prêmios nacionais, integram acervos de museus do Paraná, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

.Schwanke em sua casa, em Curitiba, onde viveu 15 anos entre 1970 e 1985
Antonio Jaques da Silva/Foto Divulgação

Na apresentação do catálogo da exposição “Schwanke, uma Poética Labiríntica”, Maria José Justino escreve que Schwanke rompe com a representação clássica, quebra a imagem antropomórfica, suspende o gestual e, nas últimas obras, volta-se à construção, abraça a imagem da pop art e deságua numa poética original. “Em seu labirinto, não há lugar para repouso. O artista se faz nessa travessia, manipula a matéria e dela extrai e constrói sentidos. Brinca, desafia, domina e transforma a matéria. Instiga os críticos, que se mostram assombrados na inútil tentativa em enquadrá-lo: Neoexpressionista? Hiperrealista? Minimalista? Cinético? Conceitual? Nada disso e tudo isso. Schwanke está fora de gavetas. Faz parte daquele time que vai além de ideias. Na concepção de Merleau-Ponty, ele é um instituidor de matriz. Um ponto fora da curva.”

Produção de Schwanke pode ser vista no MON até o dia 15 de junho
Alceu Bett/Foto Divulgação

Além de trabalhos mais conhecidos do grande público, como os “Perfis” ou “Linguarudos” – os mais conhecidos, desenhos, pinturas, obras criadas com baldes, maletas, mangueiras e pregadores de roupas no varal, a curadora inclui a produção da fase minimalista com uma envergadura temporal que permite compreender o refinamento dos conceitos do artista que se dizia obcecado pelo claro-escuro em direta referência à história da arte.

Três trabalhos emblemáticos estão em Curitiba, a começar por “Apogeu do Claro-escuro Pós-Caravaggio”, criado em 1980 para a Galeria Sergio Milliet, da Funarte, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Pela primeira vez, Curitiba recebe a montagem da instalação “A Casa Tomada (de Júlio Cortazar) por Desenhos que Não Deram Certo e Apogeu do Claro-escuro Pós-Caravaggio”. A montagem na capital paranaense assume significação pois se trata do primeiro trabalho em que o artista utiliza a energia elétrica como matéria-prima.  Nos desenhos, Schwanke retoma a obra de Canova, Leonardo da Vinci, Renoir, La Tour, e Caravaggio. A instalação é criada com 500 metros de papel branco e um velho projetor de cinema.

Os outros dois trabalhos que contemplam a energia elétrica são a instalação “Claro-escuro” (1990) composta de plotagem da obra “A Deposição de Cristo”, de Caravaggio, ferro, 24 spots de luz e 24 espetos de churrasco, e o “Sem Título” (1990), trabalho que ganhou o apelido de “Paralelepípedo de Luz”, detentor do Prêmio de Estímulo as Artes Plásticas SC em 1990 e apresentado pela primeira vez na emblemática exposição Panorama do Volume, no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), em 1990.

A seleção inclui também a chamada fase das revisitações, em que o artista descontrói a referência original de telas de Georges La Tour, Antonio Canova e Leonardo da Vinci, entre outras, adotando signos do design contemporâneo. O público também poderá apreciar desenhos e pinturas de diferentes fases, como os sonetos, os Cristos e os shorts.

Obra “Cobra Coral” ganha sua 11ª montagem no jardim do MON
Paulo de Araújo/Foto Divulgaçãoma

Idealizado como uma proposta de land art, “Cobra Coral” é um trabalho emblemático, pelo lúdico, que volta a ser montado no MON. Criado em 1989 para ser colocado, entre outros lugares, na ilha Feia de Piçarras (SC), o mais alto possível, e na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, é sua décima primeira montagem. Maria José Justino já tinha incluído a obra na exposição “O Estado da Arte – 40 Anos de Arte Contemporânea no Paraná (1970-2010)”, realizada no MON entre 2010 e 2011 e que lhe garantiu, pela curadoria, o Prêmio Maria Eugênia Franco concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).

Um conjunto tão expressivo da produção do joinvilense que se alinhou a diferentes correntes e linguagens, da pop art ao neoexpressionismo, concretismo, construtivismo e ao minimalismo. Como poucos em Santa Catarina, embaralhou arte e ciência, tempo e espaço, luz e ausência, transparência e luminosidade.

Entre os 399 trabalhos expostos, a série que usa materiais do cotidiano para suas criações, como mangueiras para a mandala azul
Alceu Bett/Foto Divulgação

Novas leituras sobre o legado

“Ao realizar a exposição, que é inédita e idealizada especialmente para o espaço do Olho, o MON reverencia esse artista pesquisador tão importante que, com seu trabalho, explorou magistralmente as mais diversas linguagens, o que faz com que sua obra permaneça tão atual”, afirma a diretora-presidente do Museu, Juliana Vosnika. “Ao visitar a mostra, o público terá a oportunidade de encontrar um conjunto de obras múltiplas que permitem não apenas contemplar, mas que instigam”, comenta.

Mostra “Schwanke, uma Poética Labiríntica” tem curadoria de Maria José Justino
Paulo de Araújo/Foto Divulgação

Para Maria Regina Schwanke Schroeder, presidente do MAC Schwanke, a exposição “Schwanke, uma Poética Labiríntica” é um sonho realizado pela magnitude conceitual, pelo conjunto de trabalhos reunidos e pelas conexões que o artista tem com a cidade de Curitiba. “Estudiosa e parceira de nosso trabalho há bastante tempo, Maria José Justino ajuda a projetar o legado de meu irmão, amplia a compreensão sobre o seu pensamento artístico, propõe novas leituras e nos enche de entusiasmo para seguirmos adiante no propósito de manter a memória do artista, ser referência na arte contemporânea brasileira, investindo em instâncias educativas, acessibilidade, inclusão e a transformação das pessoas”.

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Sobre o artista

Nasce em Joinville, em 1951, desde a tenra infância demonstra pendor artístico. Formado em comunicação social, vive 15 anos em Curitiba (PR), onde amplia conhecimentos e práticas em torno das artes visuais em favor de um pensamento inquieto e quase obsessivo sobre questões do claro-escuro. Dono de uma produção impactante que não se sujeita a uma única rotulação, conduz a carreira com profissionalismo, potencializa o saber jornalístico em seu próprio proveito, faz viagens internacionais de estudos, lê teóricos fundamentais. A partir de meados de 1980, quando volta a morar com a mãe Maria Francisca, em Joinville, dilui as fronteiras entre centro e periferia, demonstra que em movimento é possível estabelecer articulações potentes e obter reconhecimento nacional. Seu nome está inscrito na história da arte brasileira.

 

Sobre Maria José Justino

Mestre em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1983), doutora em estética e ciências das artes pela Universidade de Paris VIII (1991) e com pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris/2008) vive e atua em Curitiba (PR), onde tem larga contribuição no campo das artes visuais. Seu vasto currículo aponta inúmeras curadorias, premiações e livros.

 

Sobre o MAC Schwanke

Criado em 2002, o Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke (MAC Schwanke), mantido pelo Instituto Schwanke, filiado ao Ministério do Turismo e ao Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), tem o compromisso de zelar pela memória de Schwanke e oferecer possibilidades de aprimoramento intelectual em torno da arte contemporânea. Com esse fim, organiza seminários e encontros de discussão, cursos e palestras com pesquisadores, críticos e artistas.

 

FICHA TÉCNICA DA EXPOSIÇÃO 

Realização: Promotion

Governo do Estado do Paraná, Secretaria da Comunicação Social e da Cultura

Museu Oscar Niemeyer

Diretora-presidente: Juliana Vellozo Almeida Vosnika

Diretor administrativo financeiro: Colmar Chinasso Filho

Diretora cultural: Glaci Gottardello Ito

Exposição: “Schwanke, uma Poética Labiríntica”

Apoio: Instituto Luiz Henrique Schwanke

Curadoria: Maria José Justino

Assistente de curadoria: Alena Rizi Marmo Jahn

Produção: Rebeca Gavião Pinheiro

Assistente de produção: Gabriela Koentopp

Expografia: Priscilla Muller Arquitetos Associados, Studio Arquitetura e Design e Gustavo Paris

Pesquisa: Maria Regina Schwanke Schroeder

Curadoria educativa: Alena Marmo Jahn e Nadja de Carvalho Lamas

Revisão: Mônica Ludvich e Altair Pivovar

Agradecimentos: É Iluminação e Livemax

 

Serviço

O quê: Mostra “Schwanke, uma Poética Labiríntica”

Quando: 1.5. a 15.6.2021, terça a domingo, 10h às 18h (ingressos e acesso às salas até 17h30. Quarta gratuita, 10h às 18h.

Onde: Museu Oscar Niemeyer (MON), rua. Mal. Hermes, 999, Centro Cívico, Curitiba (PR), tel: (41) 3350-4400

Quanto: R$ 20/R$ 10 (professores e estudantes com identificação; doadores de sangue; pessoas com deficiência; titulares da ID Jovem; portadores de câncer com documento)

Realização: Museu Oscar Niemeyer (MON) e Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke (MAC Schwanke)

Saiba mais: www.schwanke.org.br

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