Irã-Estados Unidos: os riscos do alinhamento automático do Brasil a Trump

Foto: Alan Santos/PR

São Paulo – Na segunda-feira (6) veio a público a notícia de que a chancelaria do Irã pediu explicações ao Brasil por conta da nota do Itamaraty sobre a morte do general Qassem Soleimani, assassinado em um ataque promovido pelos Estados Unidos na sexta-feira (3).

A nota do Ministério de Relações Exteriores manifestava “seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo”, dizendo ainda “que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo.”

A conversa se deu com a encarregada de negócios da embaixada, Maria Cristina Lopes, que representou o governo brasileiro, já que o embaixador do país no Irã, Rodrigo Azeredo, está em férias. O teor da conversa não foi revelado.

Leia mais: Netanyahu: Irã terá ‘resposta retumbante’ em caso de ataque a Israel

“O apoio automático do Brasil aos EUA é humilhante. Não por outra razão, o governo do Irã chamou a representante da Embaixada brasileira para explicar a nota do Itamaraty em apoio ao assassinato de Soleimani. O perturbado Ernesto Araújo aplica a diplomacia da submissão. Vergonha”, escreveu em seu perfil no Twitter o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP). “Nenhum país do mundo soltou nota tão insana quanto a do Itamaraty”, criticou o também deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS).

O Irã é um importante parceiro comercial do Brasil. As exportações para aquele país, de 2008 a 2018, mais que dobraram, passando de US$ 1,13 bilhão para US$ 2,26 bilhões. O principal produto vendido para os iranianos é o milho, que representou 44% das exportações entre janeiro e junho de 2019, equivalente a US$ 940 milhões. Em seguida vem a soja e derivados, que representaram 39% das vendas; a carne bovina, com 10%, e o açúcar de cana bruto, 7,1%.

É o 23º país na lista de maiores importadores do Brasil e o 70º no ranking de importações, o que garante um saldo comercial volumoso. Entre janeiro e novembro de 2019, o saldo positivo foi de US$ 2,082 bilhões. A parceria é mais relevante quando se leva em conta que a balança comercial fechou 2019 com um superávit de apenas US$ 46,674 bilhões, representando um recuo de 20,5% pela média diária sobre 2018, o pior resultado para o país desde 2015.

Em entrevista ao Jornal Brasil Atual, o consultor internacional Amauri Chamorro falou sobre as possíveis consequências econômicas do alinhamento com os Estados Unidos para o país. “A gente sabe que o mercado do Oriente Médio é importantíssimo para o Brasil e os países árabes são grandes importadores, e o Irã também, de comida, da carne e produtos da agroindústria brasileira. Se o Irã decidir, pela postura patética do governo Bolsonaro de apoiar o assassinato do Soleimani, fazer uma retaliação econômica e comercial, isso vai gerar desemprego no Brasil”, pontuou.

1 COMENTÁRIO

Deixe um comentário para BEATRIZ ALVES DOS SANTOS SILVA Cancelar resposta

Please enter your comment!
Please enter your name here


This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.