Por Débora Mabaires, de Buenos Aires, para Desacato.info.
Enquanto os feitos políticos do governo de Maurício Macri contém uma violência feroz, a bonança que ainda resta nas carteiras, as férias e a operação midiática tendendo a disfarçar a realidade ao ponto de faze-la desaparecer das telas de televisão e dos jornais, faz com que grande parte da sociedade se mantenha na expectativa.
O que define esse modelo de governo é a tremenda transferência de riquezas desde os setores mais pobres para os mais ricos. A quitação de retenções das exportações agropecuárias, que encareceu a comida dos argentinos, se somam aos anunciados aumentos da tarifa de serviços elétricos em 600% e do gás em 250%. Ambas impactaram não somente no bolso dos trabalhadores e aposentados, mas também nos dos fabricantes e comerciantes, que aumentarão os preços dos produtos, que já haviam aumentado pela desvalorização da moeda, que Macri fixou em 40%. Não existe vontade política de exercer controle do Estado sobre os empresários, a cadeia de valor, nem sobre os distribuidores. O Secretário de Comércio, Miguel Braun, além de ser multimilionário, é dono de uma cadeia de supermercados e sua família é dona de um banco que, graças a desregulação bancária que ordenou Macri, financiará com juros de 70% ao ano as compras com cartões de crédito.
A repressão dos movimentos sociais quase não encontram eco nos meios de comunicação. E se aparecem tais notícias, são para justificar a utilização das forças de segurança, inclusive inventando uma operação política. Assim como ficou em evidência no caso das crianças baleadas enquanto ensaiavam para o Carnaval; a Ministra de Segurança, Patricia Bullrich, montou nas redes sociais uma farsa e publicou fotos de sua visita ao hospital onde se encontravam os supostos policiais feridos.
Com frases pomposas como: “Vamos defender nossos policias feridos. Não deixaremos que os ataquem com tanta impunidade”; escreveu a funcionária em sua conta de Twitter (@patobullrich), publicou essas fotos e foi levantada pelas mídias locais.
Como se pode observar, a máscara do paciente, não está conectada ao tubo de oxigênio que está ao seu lado, visivelmente não sendo utilizado, já que o manômetro está virado para a parede e não se vê a guia que deveria se conectar na máscara. Assim mentirosas são as manobras midiáticas que se veem por aqui nestes dias.
As cenas postas para influenciar a opinião pública, a partir de agora serão controladas desde uma “Secretaria do Discurso” criada para tal fim. Se vivesse, Joseph Goebbels estaria orgulhoso!
A dirigente social Milagro Sala leva 24 dias ilegitimamente presa, apesar das manifestações nacionais e internacionais de diferentes organismos de Direitos Humanos. Quando seu caso aparece nos meios mais importantes, é para semear calúnias contra sua pessoa, com o fim de que a dúvida seja instalada, mesmo quando a liberem e a absolvam posteriormente em juízo. “Uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”, dizia o ministro de propaganda alemão.
O Congresso Nacional que permanecia em recesso, foi ressuscitado por Macri ao chamar sessões extraordinárias para tratar alguns dos mais de 300 decretos que leva assinados, a maioria deles questionados quanto a sua legalidade. A mudança de atitude foi o que comprou a vontade de doze legisladores opositores, que garantiram apoiar sua gestão votando as leis mais controversas e mais graves para o povo argentino: as de endividamento com a banca estrangeira que mergulharam no inferno novamente a Argentina; e da nomeação de juízes relacionados as corporações, que garantem a impunidade das medidas econômicas vindouras.
A organização proposta aos fundos dos abutres, os garante cobrar em dinheiro vivo a dívida reclamada, com uma ganância superior a 1300%. De todos os fundos credores, somente um aceitou, o de Keneth Dart. Os outros dois fundos mais importantes, o MNL de Paul Singer e o Aurelius Capital de Mark Brodsky rechaçaram a oferta. Esta dívida, ilegítima e gerada no ano de 2001 pela mesma equipe econômica que hoje governa, havia sido reestruturada por Néstor e Cristina Kirchner, logrando uma importante quitação, e a aceitação de 93% dos credores, o que foi garantido através de uma lei em que ninguém cobraria mais do que eles haviam aceitado. Essa lei chamada “parafuso”(cerrojo) é a que hoje busca modificar Maurício Macri, já que lhe permitiria cumprir com os compromissos eleitorais que contraiu com Paul Singer, quem financiou sua campanha; mas também, lhe permitiria tomar novas dívidas. Caso se sucedesse e se chegasse a um acordo que supere o que já havia sido combinado com os 93% dos credores, esses investidores reclamariam o mesmo trato para eles que se desse para Paul Singer e seus amigos; o que geraria uma catarata de julgamentos sobre nosso país e sem dúvida, ganhariam.
Às calamidades econômicas, todas produtos das decisões políticas do governo que encabeça Maurício Macri, se somam as pragas de insetos. A de gafanhotos que afetou a 5 províncias e a de mosquitos, que proliferaram pelas intensas chuvas, somadas a inoperância do Ministro de Saúde Alberto Lemus, que não recomendou fumegar preventivamente, e não previu uma campanha de conscientização sobre a dengue, registrando-se já alguns casos fatais.
Para todos os afetados, já disse claramente que não terá ajuda econômica, por que não tem dinheiro.
Sem delongas, ordenou a compra de um avião para 12 passageiros, um Challenger 650 que custará 67 milhões de dólares. Sem dúvida um grande negócio para Macri: para Franco Macri, seu pai, dono da empresa Mac Air que venderá o avião ao Estado argentino.
Os insetos sempre possuem asas.
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Tradução: Thiago Iessim.
Foto de capa: Minutouno.com.ar