Inaiê e Ulisses: os estranhos que se encontraram. Por Carlos Weinman.

Imagem: Pixabay.

Por Carlos Weinman, para Desacato. info.

A essência da humanidade está na necessidade de interação com seus semelhantes. Na antiguidade grega, o filósofo Aristóteles chegou afirmar que a racionalidade humana depende das relações sociais, pois estimula o que está em potencial, isto é, a linguagem e a racionalidade. A sociabilidade constitui o estímulo necessário para desenvolver o que seria apenas uma possibilidade, uma potência. Desse modo, não seria possível haver a linguagem sem o processo de interação. Seguindo o mesmo raciocínio, não é possível desenvolver a racionalidade sem a linguagem. Por consequência, a capacidade de abstração, de racionalização, de explicação dos fenômenos sociais e naturais dependem dos estímulos sociais que são dados durante a vida.   

No entanto, algumas contradições aparecem na vida dos seres humanos. Entre as principais, está o fato em que o outro é imprescindível para seu desenvolvimento, mas, ao mesmo tempo, apresentam dificuldades de relacionamento, passam ser definidos como seres solitários ou individuais. Sobre essa problemática, Aristóteles chegou destacar o desafio de encontrar um amigo durante a vida.

A amizade era definida pelos gregos antigos como uma forma de amor, que pressupõe uma habilidade que está em falta, ou melhor, amigo é aquele que vai ao encontro do outro, sem querer posses, vantagens ou bens, a única recompensa que se exige é a reciprocidade. Por Incrível que pareça, o filósofo grego chegou a comentar que se um ser humano encontrar um amigo durante a vida já teria muito, isto é, teria conquistado uma das maiores façanhas humanas.

No contexto de Inaiê, o ser humano passou a não dar importância para os sentimentos como amizade e amor. A busca por poder e riquezas passaram a ser a motivação dos homens e mulheres, que desaprenderam a valorizar as pessoas que estão a sua volta. O outro passou a ser apenas a possiblidade de muitas faces no meio da multidão, mesmo sendo obrigados a conviverem no mesmo espaço. Nesse contexto, a vida dos indivíduos passou a ser cercada por outros, com muitas casas e grandes centros urbanos. O planeta cada vez mais tem a presença dos seres humanos, que desenvolvem novas tecnologias e as formas de comunicação foram e são aperfeiçoadas, juntamente com o fortalecimento do sentimento de solidão e de individualidade. O mundo passou ser constituído por bilhões de pessoas que representam de diversas  formas um sentimento generalizado de estranheza em relação aos outros.

Antes do nascimento de Inaiê haviam surgido novos viajantes, chamados de apáticos, que mudavam de espaço, conheciam mais o planeta, pois para muitos deles tornou-se fácil viajar, mas continuavam solitários e ignoravam as maiores riquezas do planeta que não são medidas por valores monetários. Nesse contexto, sentimentos confusos e questionáveis surgiam a todo momento. Entre eles o ódio, o medo, a traição, seguida da busca de prazeres momentâneos para uma vida medíocre, sem felicidade, por vezes, muitas alegrias que eram interrompidas pelo vazio do ser decorrente da falta do outro. Formas para superar o esvaziamento dos indivíduos foram criadas, entre elas, o registro através de fotografias, compartilhadas nas redes sociais. Esses registros deveriam mostrar a vivência, as experiências significativas dos indivíduos, mas não inventaram uma máquina para isso.

Dessa forma, antes de Inaiê e até agora, o desafio permanece em dar sentido e significado para a essência da vida humana, o que somente é possível se utilizarmos a expressão “andar com”. Na natureza de Inaiê está a essência de viajar, de ir para uma jornada em busca da humanidade.  Existem muitos viajantes, nem todos conseguirão alcançar a nossa personagem, pois o despertar do pensamento não ocorre individualmente, o caminhar deve se unir com o dialogar. Para isso, o outro que se apresenta deve ser encontrado, não ignorado. A felicidade de inaiê começou, pois encontrou um amigo. No centro da estranheza do mundo, um sorriso, um apoio solidário despertou uma amizade. Assim, Inaiê começou, de fato, percorrer a sua jornada em busca da humanidade com seu amigo Ulisses.

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Carlos Weinman

Carlos Weinman é graduado em Filosofia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (2000) com direito ao magistério em sociologia e mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (2003), pós-graduado Lato Sensu em Gestão da Comunicação pela universidade do Oeste de Santa Catarina. Atualmente é professor da Universidade do Oeste de Santa Catarina. Tem experiência na área de Filosofia e Sociologia com ênfase em Ética, atuando principalmente nos seguintes temas: estado, política, cidadania, ética, moralidade, religião e direito, moralidade e liberdade.

A opinião do autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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