Fórum Social Temático: um fórum que é social só no nome

Por Erick da Silva.

Foi anunciada oficialmente a realização, em Porto Alegre, do Fórum Social Temático (FST) com início marcado para o dia 27 de janeiro.

Claramente promovido e organizado pela prefeitura de Porto Alegre, em um primeiro momento, algum desavisado poderá pensar que Porto Alegre, mais uma vez, será palco de um evento ligado ao Fórum Social Mundial (FSM). Infelizmente, esta não é a realidade. Teremos sim um evento, que de forma oportunista, tenta se utilizar do simbolismo e prestígio do FSM, mas com um sentido político muito diverso, para dizer o mínimo. Mas quais seriam estas diferenças que o distanciam do “espírito de Porto Alegre” presentes no FSM?

“Um outro mundo é possível”, sob esta insignia, o FSM representou um importante momento de virada na luta e resistência contra o neoliberalismo. A “Carta de Princípios do Fórum Social Mundial”, define que: “O Fórum Social Mundial é um espaço plural e diversificado, não confessional, não governamental e não partidário, que articula de forma descentralizada, em rede, entidades e movimentos engajados em ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de um outro mundo.” Esta diversidade foi a maior virtude do FSM, em um momento onde se buscava superar o refluxo das esquerdas a partir da ascensão do neoliberalismo, o FSM de Porto Alegre foi um espaço de grande importância, mesmo com todas as dificuldades e limites, para colaborar na reorganização e avanço da resistência contra o neoliberalismo.

Este sentido político do FSM está ausente do FST proposto pela prefeitura de Porto Alegre, aliás, este é um elemento problemático com relação à concepção deste evento: à centralização da organização pela prefeitura e à ausência de um envolvimento das organizações da sociedade civil e dos movimentos sociais, salvo aquelas com relação mais estreita com a administração municipal. A composição das entidades que estão no comitê do FST, junto com a prefeitura, é revelador de uma opção política conservadora. Coordenado pela Força Sindical, conta com apoio de representantes do velho sindicalismo “pelego” como a Nova Central Sindical, a UGT, etc e outras entidades pouco afeitas as lutas sociais, como a presença da loja maçônica do Grande Oriente do RS. Pode se argumentar que o FSM sempre caracterizou-se pela diversidade, mas esta diversidade se fazia forte a partir dos elementos comuns que a unificava, como a crítica ao neoliberalismo e à construção de um “outro mundo”, o que não se coloca nesta composição.

O FST está sendo proposto sem uma estreita articulação junto ao Comitê Internacional do FSM e a agenda global que está sendo construída para 2013, tendo em março o FSM na Tunísia, como destaque. O que é revelador da concepção do FST como um mero evento, não enquanto parte de um processo político. A participação do sindicato patronal das empresas de turismo do RS na organização é autoexplicativa.

Retira-se o conteúdo político e contestador que compõe a essência do FSM e o mantém apenas como um simulacro. Algo vazio, oco e desprovido de todo e qualquer sentido político de caráter transformador. A exemplo do que a atual gestão da prefeitura já havia feito com o Orçamento Participativo, mantido formalmente, mas esvaziado politicamente, desprovido de toda a centralidade que teve em outros tempos.

É nítido que este espaço do Fórum Social Temático será “Social” apenas no nome, sem guardar nenhuma relação ou compromisso efetivo com o FSM. Fica o alerta a todas e todos aqueles que construíram e se identificam com o FSM sobre o que está em jogo. O risco da vulgarização e esvaziamento do FSM em Porto Alegre é um perigoso processo que pode enfraquecer um importante espaço político de resistência, o que não podemos permitir que ocorra.

Fonte: Aldeia Gaulesa.

 

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