Final de Ciclo Final de Jogo. Por Michel Croz.

Por Michel Croz.

Tradução: Verônica Loss.

Começamos “4×5 = Poesia” em Calle Brasil Cultural (Brasil 456) surfando na onda de calor deste tórrido fevereiro que faz honra a seu nome, “mês da febre”. Aaaff! (grave suspiro). Nesta sexta-feira dia 25, completaremos as 4 sextas com 5 poetas-pensadores e as maravilhosas rodas de poetas, escritores, músicos, artistas, criadores, que tem aportado reflexão, afeto, beleza com suas palavras, corpo e escritura.

Iniciamos pelo “escrever” de Marguerite Duras (Indochina-França), seguimos com o Andaluz Federico García Lorca e seu “duende”, cruzamos o Atlântico e demos com o mexicano Octavio Paz de “O Arco e a Lira”. Nesta sexta passearemos por Buenos Aires e Montevideo do braço de Jorge Luis Borges e “A Poesia” em “Sete Noites” (conferência), e a entrevista realizada ao grande bravo poeta e ensaísta da geração dos 80, Luis Bravo.

Borges e sua concepção neoplatônica da poesia:

(…) “A poesia é o encontro do leitor com o livro, o descobrimento do livro. Há outra experiência estética que é o momento, muito estranho também, no qual o poeta concebe a obra, no qual vai descobrindo e inventando a obra. Segundo se sabe, em latim as palavras “inventar” e “descobrir” são sinônimas. Tudo isto está de acordo com a doutrina platônica, quando diz que inventar, que descobrir, é recordar. Francis Bacon acrescenta que se aprender é recordar, ignorar é saber esquecer; já é tudo, só nos falta vê-lo.

Quando eu escrevo algo, tenho a sensação de que esse algo pré existe. Parto de um conceito geral; sei mais ou menos o princípio e o fim, e logo vou descobrindo as partes intermediárias; mas não tenho a sensação de inventá-las, não tenho a sensação de que dependam do meu arbítrio; as coisas são assim. São assim, mas estão escondidas e o meu dever de poeta é encontrá-las.

Bradley disse que um dos efeitos da poesia deve ser dar-nos a impressão, não de descobrir algo novo, senão de recordar algo esquecido. Quando lemos um bom poema pensamos que também nós houvéramos podido escrevê-lo; que este poema pré existia em nós. Isso nos leva à definição platônica de poesia: esta coisa leve, alada e sagrada. Como definição é falha, já que esta coisa leve, alada e sagrada poderia ser a música (salvo que a poesia seja uma forma de música). Platão fez algo muito superior ao definir a poesia: nos dá um exemplo de poesia. Podemos chegar ao conceito de que a poesia é a experiência estética: algo assim como a revolução do ensino da poesia (…)

(…) Assim ensinei, atento ao feito estético, que não requer ser definido. O feito estético é algo tão evidente, tão imediato, tão indefinível como o amor, o sabor da fruta, a água. Sentimos a poesia como sentimos a aproximação de uma mulher, ou como sentimos uma montanha ou uma baía. Se a sentimos imediatamente, para que dilui-la em outras palavras, que sem dúvida serão mais frágeis que os nossos sentimentos?

Há pessoas que sentem escassamente a poesia; geralmente se dedicam a ensina-la. Creio sentir a poesia e creio não te-la ensinado; não ensinei o amor de tal texto, de tal outro: ensinei aos meus estudantes a que gostem da literatura, a que vejam na literatura uma forma de felicidade.” *(1)

E Bravo, por outro lado, aporta o seu talento à poesia performática, a que nasce da oralidade e comunhão entre palavra e cenário, a voz em cena:

(…) “Na minha concepção, o oficio de poeta inclui a voz em cena. Quem entenda que seu ofício é só escrever é um poeta que deixou de lado, às vezes sem dar-se conta, uma parte do seu ofício. A grande tradição poética, digamos que dos últimos 3.000 anos – pensemos em Homero e os aedos – nunca deixou de existir. Há um setor da modernidade que reduziu a poesia à escrita, mas entendo que o poema não termina aí. O poema está sempre reabrindo-se com a voz em cena.” (…) * (2)

*(1): JL Borges, fragmento da conferencia “La Poesía” em “Siete Noches” Colección Tierra Firme, Ed. Fondo de Cultura Económica. México, 1992.

*(2): Luis Bravo, fragmento de IN LIMINE / ENTREVISTA a Luis Bravo, poeta: “¿Por qué no se aplican la creatividad y se repiten fórmulas que solo funcionan como parches?” Sitio web Uypress por Daniel Feldman. Montevideo, 11.04.2016.

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