Entenda os dados: números semanais indicam que a covid voltou a crescer no Brasil

Taxa de propagação fora de controle e crescimento mais rápido de óbitos e casos eliminam chances de estabilidade

Foto: Pixabay

Por Nara Lacerda.

Na semana em que o total oficial de brasileiros infectados pelo coronavírus ultrapassou a marca dos 6 milhões, o Brasil viu aumentar a velocidade de crescimento de diversos índices e dados relativos à covid. Os resultados jogaram por terra qualquer esperança de estabilização e escancaram o fato de que o poder público nunca conseguiu controlar a pandemia no país.

A média móvel de casos (soma de todos os casos dos últimos sete dias, dividida por sete), estava em 28.776 na segunda-feira (16). Pouco mais de uma semana antes, no dia 6 de novembro, o cálculo havia atingido o menor patamar desde maio e estava em  cerca 16,3 mil. A mudança rápida foi vista também nos óbitos. De 323 em 11 de novembro, a mediana de mortes subiu para 584 na quarta-feira (18), tudo isso em um intervalo de uma semana.

Na terça-feira (17), dados do Imperial College de Londres, mostravam que a taxa de transmissibilidade da doença voltou a alcançar patamares que indicam descontrole na propagação. O chamado “Rt” do Brasil ficou em 1,1. Isso significa que cada 100 infectados têm potencial de contaminar outras 110 pessoas, proporção que cresce a cada novo grupo.

Em participação no podcast A Covid-19 na Semana, a médica de família e comunidade Nathalia Neiva dos Santos, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que o grande potencial de multiplicação de casos representa o prosseguimento da pandemia, “quanto menor o Rt, mais a gente tem o controle e uma chance de interromper a cadeia de transmissão”, diz ela.

A médica ressalta que a taxa é diretamente influenciada pelas ações individuais, mas especialmente pelas políticas públicas. Um país ou região que consegue rastrear e dar condições de isolamento a todos os doentes e contatos desse infectado, diminui as possibilidades de que essas pessoas contaminem outras. A presença de assintomáticos e não infectados nas ruas completa a equação dramática.

“As pessoas não fazem [isolamento social] por conta própria sem condições de fazer, sem ter renda, sem ter comida em casa. Não se faz o isolamento social com fome.” (ouça o podcast no player logo abaixo do título desta matéria.)

Nathalia diz que a recente queda nos números pode ter causado o novo aumento: com a sensação de algum controle, as pessoas têm mais chances de optarem por não praticar o isolamento, sob a falsa percepção de segurança. “O que nos resta enquanto cidadãos? A gente tem muita responsabilidade”, defende a médica.

“Na perspectiva da gestão, não tem por que votar em candidato que nega a pandemia. É a primeira coisa”, reforça Nathalia. Ela também alerta para a manutenção de medidas individuais, que podem “reduzir bastante a capacidade de transmissão do vírus: higiene das mãos e uso de máscara.”

A médica pondera, no entanto, que “posturas individuais sem uma ação coletiva acabam sendo pequenas. A gente precisava mesmo é de mais seriedade do governo federal”.

No começo da semana, o governador de São Paulo, João Dória havia confirmado alta de 18% nas internações por causa do coronavírus. O situação do estado – até hoje o que mais contabiliza números absolutos de casos e mortes no país – tem peso grande nos números nacionais, mas os paulistas não foram os únicos a contabilizar aumento de contaminados. Apenas Rio Grande do Norte, Sergipe e Roraima tiveram números menores

Dados divulgados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na quinta-feira (17), confirmaram a percepção de que o cenário se agrava em diversas regiões. Pelo menos dez capitais brasileiras apresentam tendência de aumento nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).  Atualmente, o novo coronavírus é a causa da SRAG em quase 98% dos pacientes. A síndrome é uma das consequências dos quadros graves da covid-19.

De acordo com o Boletim InfoGripe da instituição, entre as 27 unidades da federação, pelo menos 15 têm uma de suas macrorregiões com tendência de aumento variando entre 75% e 95%. Na lista, estão: Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás.

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