Brasileiros no Paraguai derrubam estereótipos

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Brasileiros no Paraguai em vídeo  derrubam estereótipos e se declaram ao país vizinho

Por Rodrigo Borges Delfim, do MigraMundo. Dados do Consulado Geral do Brasil em Assunção apontam que há cerca de 300 mil brasileiros no Paraguai, formando a maior comunidade estrangeira no país. O Paraguai é ainda o segundo país onde mais vivem brasileiros no exterior, superando o Japão e ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Mas embora tão próximo, o Paraguai é ainda um grande desconhecido do brasileiro em geral, que tem uma imagem distorcida do que se passa por lá. E quem diz isso são justamente brasileiros que vivem do outro lado da fronteira e que se sentem ofendidos com os estereótipos atribuídos ao país vizinho.

É o que mostra o documentário “Além da Fronteira”, produzido pelo jornalista Derlis Dario Cristaldo Jimenez como TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) sobre brasileiros no Paraguai.

 A produção pode ser vista aqui.

Paraguaio nascido e criado na capital, Assunção, Cristaldo vive no Brasil desde 2010, quando foi selecionado por um convênio da UFSC. Notando a falta de espaço que o país tem na mídia brasileira, resolveu usar as ferramentas que aprendeu com o jornalismo para tentar quebrar essa barreira e mostrar o “verdadeiro Paraguai” a partir da experiência dos próprios brasileiros no Paraguai. Conhecidos também como “brasiguaios”, esses migrantes brasileiros até aprenderam a expressar em guarani a gratidão pela nova casa: “Che rohayhu, Paraguay” (em tradução livre, “Eu te amo, Paraguai”).

“Quis que eles mesmos contassem para os brasileiros daqui como é a vida no Paraguai. Achei que dessa forma o vídeo teria um impacto diferente no público brasileiro. Eu não queria que tudo fosse contado por mim ou por outros paraguaios”, explica Cristaldo.

Na entrevista abaixo, Cristaldo dá mais detalhes sobre como produziu “Além da Fronteira” e dos resultados que colheu a partir do documentário. “Tem muitos brasileiros que não apenas moram no Paraguai por morar, mas que realmente amam o país e se identificam com ele e com a sua cultura. Da mesma forma que eu amo e me identifico fortemente com o Brasil. Foi uma bela descoberta”.

MigraMundo: De onde veio a ideia de fazer um documentário sobre brasileiros no Paraguai?

Cristaldo: A minha motivação para a escolha desse tema não veio de uma coisa só, mas de uma série de fatores que fui percebendo nesses 5 anos morando no Brasil.

Na universidade onde eu estudei há muitos paraguaios. Todos, em algum momento, já fomos alvo das piadas de brasileiros com relação ao Paraguai. Nunca são piadas mal intencionadas, mas o que é engraçado para eles, para nós não tem nenhuma graça. Infelizmente o preconceito e as piadas já vêm de muito tempo e acho que estão estabelecidos na sociedade. Acredito que a mídia brasileira em geral também tem um pouco de responsabilidade, pois a maioria das notícias divulgadas sobre o Paraguai tem a ver apenas com coisas negativas (tráfico, contrabando, falsificação etc). Pouquíssimas vezes vi matérias falando da cultura ou dos lugares turísticos do meu país. Porém, eles fazem isso com a Argentina ou com o Uruguai, por exemplo. Esse fato, na minha opinião, contribui para que o Paraguai continue sendo uma terra desconhecida para o público brasileiro. Ou pior, conhecida, mas só por causa da imagem ruim da fronteira, o que o torna pouco atrativo.

Percebendo essa falta de espaço que o “verdadeiro Paraguai” tem na mídia brasileira, resolvi usar as ferramentas que o Jornalismo me proporcionou para tentar mostrar um Paraguai diferente. Mesmo sendo o segundo destino mais procurado por brasileiros no mundo, o país continua totalmente desconhecido para muitos. Isso me fez pensar: “poxa, eles tem que conhecer as coisas boas do meu país”. E como tem muitos brasileiros morando lá, eu quis que eles mesmos contassem para os brasileiros daqui como é a vida no Paraguai. Achei que dessa forma o vídeo teria um impacto diferente no público brasileiro. Eu não queria que tudo fosse contado por mim ou por outros paraguaios.

Como você chegou aos brasileiros no Paraguai entrevistados para o documentário “Além da Fronteira”?

Alguns deles eu conheci quando ainda morava em Assunção. Conheci vários que moravam há anos lá no Paraguai, mas nunca tinha perguntado a eles o motivo, como foram parar lá, se pretendiam voltar e tudo mais. Outros entrevistados surgiram por indicação daqueles que eu já conhecia e também por indicação de outras pessoas.

Você já recebeu algum tipo de retorno sobre impressões de brasileiros que assistiram ao vídeo?

Graças a Deus, todos os comentários de brasileiros que recebi até hoje foram positivos. Quase todos os dias tem gente comentando na página do YouTube e também no Facebook. Tem vários comentários bem interessantes. Outros me mandam e-mails elogiando. Brasileiros que já conheceram ou moraram no Paraguai e se sentem identificados com o conteúdo, e até mesmo aqueles que nunca foram, mas que depois de ver o vídeo ficaram com vontade de ir conhecer. Isso me deixa muito feliz. É um retorno que eu não imaginava.

Também tem os comentários de paraguaios que moram em diferentes cidades do Brasil. Todos se identificam com o documentário porque também passaram pela situação de ter que lidar com as piadas, ou com a ignorância de alguns brasileiros, que não sabem nem sequer qual é a língua do Paraguai ou a capital.

Outra coisa que me deixou muito lisonjeado no inicio desse ano foi o convite da Embaixada do Brasil em Assunção para exibir o documentário no Teatro Tom Jobim, do Setor Cultural, e em seguida promover um debate sobre o tema com os entrevistados do vídeo e o público. A apresentação ainda não tem data porque não sei quando vou pro Paraguai. Mas deve ser esse ano.

Que mensagem você procura passar com “Além da Fronteira” e o que aprendeu com ele?

A mensagem que eu procuro passar é que o Paraguai é um país, que ele não é apenas um pedaço de uma cidade (Ciudad del Este). Que aquele lugar que todo mundo chama de “Paraguai”, como se fosse um todo, é apenas uma área de comércio, como é a rua 25 de Março em São Paulo, ou a Saara no Rio de Janeiro. Parece óbvio, mas por incrível que pareça ainda tem brasileiros que acreditam que o país inteiro é daquele jeito, bagunçado, sem estrutura e onde tudo é falsificado. O Paraguai está longe de ser um país perfeito, da mesma forma que o Brasil também não é, mas eu queria que o brasileiro visse que lá tem lugares bonitos, uma história interessante, uma rica cultura etc. Eu não busco fazer apologia ao turismo. Simplesmente quero que vejam um Paraguai diferente, que conheçam a capital, e dessa forma contribuir humildemente para aumentar um pouquinho a bagagem cultural do brasileiro. Porque eu sempre noto que ele conhece a maioria dos países da região, nem que seja por foto. Mas o Paraguai não.

O que eu aprendi com esse trabalho é que tem muitos brasileiros que não apenas moram no Paraguai por morar, mas que realmente amam o país e se identificam com ele e com a sua cultura. Da mesma forma que eu amo e me identifico fortemente com o Brasil. Foi algo que eu não imaginava que fosse tanto assim. Foi uma bela descoberta.

Foto: Reprodução, MigraMundo

Fonte: MigraMundo

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