Eles formam a dupla de candidatos mais jovens (e sorridentes) da disputa. Juntos ou separados, têm muitas características em comum. Lutam por igualdade, anseiam por liberdade e justiça social. Parece contraditório persistir num sonho utópico num Estado em que a vida real parece mais uma novelinha digital.
Enquanto campanhas milionárias atentam em mostrar uma Santa Catarina americanizada (a libido fantasiosa em ser cada vez menos rica Desterro, e cada vez mais ter a pobre máscara intitulada Miami brasileira), estrategicamente para distoar do resto do Brasil, Leonel Camasão prova que o PSOL não é uma aventura, e Carlos Eduardo (Cadu) reacende, na prática, a essência militante do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras (PT). Não por acaso, desfila nas mídias do jovem uma foto ao lado do parecido Lindberg (senador pelo Rio de Janeiro).
Jovens na idade, protagonizando uma disputa popular e democrática que para os olhos descartáveis de setores mais conservadores e retrógrados da elite catarinense, é apenas uma etapa do jogo caricato para se perpetuar no poder. E que saudável, para todos nós, Leonel e Carlos Eduardo não concorrerem entre si.
Mas não comemoremos tanto: o jornalista e o historiador não serão colegas da chapa. Suas diferenças orgânicas e programáticas não são tão latentes – se observarmos o conteúdo das redes sociais e das defesas dos dois líderes (seria um produtivo tema para análise as campanhas passadas desses dois). Mas PT e PSOL divergem em teses decisivas da chamada esquerda. As discussões internas e os conceitos de luta, e para a luta, são diferentes- aquilo que podemos chamar de organização estruturante, mas eles têm um conteúdo programático muito parecido do que defendem e querem para um Estado mais justo, plural, igualitário e participativo.
Tanto PT quanto PSOL estão com mais motivos para seguir na batalha, e acreditar que vale a pena viver o sonho: se somarmos os números apresentados na pesquisa divulgada amplamente pelo grupo RIC, em 21/06, as siglas alcançam 16.6% na intenção de voto, em um cenário em que apenas Mauro Mariani (MDB) e Gelson Merisio (PSD) aparecem testados. O PT, muito bem representado pelo ex-prefeito de Blumenau, Décio Lima, sempre alcança um número maior que nessas pesquisas, quando as urnas são abertas. Em 2002, por muito pouco não foi ao segundo turno.
Lembram? Não faz tanto tempo assim. E o ex-deputado federal Claudio Vignatti já foi o candidato ao Senado mais votado por esse grupo, em 2010 (sem contar com o “efeito Lula”, vale sempre lembrar!). Por falar em Senado, Cadu será dos indicados para uma das duas vagas dos petistas. Trajetória, capacidade intelectual e biografia de luta, o menino-gigante tem de sobra. Já surpreendeu a muitos ao vencer um importante nome do partido nas eleições internas para a presidência do diretório municipal de Florianópolis, o PED. Cadu é aquilo que podem chamar de “eterno militante”. Sua indicação para a emblemática disputa é um presente que o PT concede à população.
O pacto de Camasão, candidato a governador que chega a 5.5% nas pesquisas (o candidato do partido do governador patinava em 3% durante anos, tirando o sono dos coronéis) e de Cadu, o historiador ativista da Ilha, é com os movimentos sociais e a sociedade civil. Desde o fim das eleições 2012, quando Cadu fez uma das campanhas mais belas, coloridas e alegres para a Câmara Municipal de Vereadores da capital, e arrancou da então candidata de sua chapa à Prefeita Angela Albino (PCdoB), ao microfone, no lançamento da candidatura dele, que seria um excelente líder de governo, é que não entendo o que fazia o PT a não investir nele em uma chapa majoritária. Cadu representa a Florianópolis de vanguarda, que quer e sabe vencer com discurso, argumento e sorriso no rosto, aconteça o que acontecer.
É a força da militância, motivadora por natureza. Simboliza todo o potencial criativo e a ansiedade inteligente que ainda pulsa nos trabalhadores, trabalhadoras e movimentos populares. Traduz o espírito do “novo”. E é tão diferente dos donos… Que bom que temos essas boas surpresas para colorir nossas eleições. Santa Catarina não é só aquilo que exibe a grande mídia. “Há muita vida lá fora”. Simples assim.
Maurício dos Santos é jornalista e Professor de Redação. Pós-Graduação: Marketing (2013) e Arteterapia (2015). Autor do livro: Acima da Cabeça só existe o Coração.