Editorial

Florianópolis, 18 de junho de 2014.

A hora de refletir sobre o que vem depois da Copa está chegando. A oferta eleitoral, presente por enquanto nas primeiras escaramuças publicitárias, vai exigir, seriamente, uma reflexão de fôlego sobre os limites desta democracia representativa, que só representa o poder instituído antes de sua própria existência histórica.

Sabemos que a democracia não se resolve durante trinta segundos digitando números na urna eletrônica. Se a democracia representativa sequer nos representa, não é menos verdadeiro que a declamada democracia participativa só tem servido para homologar e legitimar o poder representativo e as migalhas que está disposto a jogar-nos pelo chão.

O orçamento participativo que na década dos 90 apareceu como uma aproximação à interferência organizada da sociedade na distribuição mínima da riqueza decaiu. Tinha que ser assim porque se burocratizou dentro das instituições ou se corrompeu em forma de clientelismo participativo. Foi trampolim para angariar quadros para os partidos ou ferramenta para disciplinar a reivindicação comunitária pontual.

Evoluiu-se muito pouco nestes anos. O governo satisfez algumas questões básicas. Não é para questionar o assistencialismo governamental, dada a situação desesperadora de setores imensos da sociedade. O que se deve questionar é a inexistência de iniciativa e decisão política de governo e partidos aliados em avançar numa política de distribuição urgente de terras e riquezas, e sua debilidade espantosa na relação com os poderosos, arvorando uma triste administração de conciliação de classes.

A democracia direta é um objetivo estrutural necessário à humanidade. Devem-se desconstruir as instituições que a civilização ergueu com a acumulação de riquezas e a instalação da escravidão dos capitalismos privado e de Estado. A sociedade deve se apoderar das decisões, buscar formas organizacionais novas. Não é mudar por mudar, é uma questão de civilização ou barbárie.

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