Democratização da Comunicação (4): “Os barões da mídia não querem nem saber. A. Borges.”

Por Raul Fitipaldi, para Desacato.info.

Ontem, 13 de fevereiro, a jornalista Rosangela Bion de Assis entrevistou o coordenador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa “Barão de Itararé”, jornalista Altamiro Borges, no JTT – Jornal dos Trabalhadores e Trabalhadoras. A entrevista aconteceu dois dias antes da Plenária do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação em Santa Catarina. Portanto, oportuna para municiar aos leitores e leitoras sobre alguns temas centrais que percorrerão o debate em solo catarinense.

O debate sobre a comunicação é fundamental, mas não cativa

Borges realizou afirmações que seria importante que o público não habituado a estes debates da comunicação leve em consideração. Ao fim, rara vez as pessoas se detêm a pensar na influência que a comunicação possui na sua vida cotidiana. Gostos, decisões, educação, nível de stress e até o caráter podem ser influenciados pelo tipo e formato do veículo de comunicação que se lê, ouvi, assiste ou curte. E como o posicionamento editorial desse veículo ou mídia é capaz de nos levar ao caos que vivemos a partir do golpe jurídico, parlamentar e midiático contra a ex presidenta Dilma Rousseff em 2016.

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Afirma Altamiro Borges que “com a ascensão do fascismo iniciada no golpe a Dilma, a prisão do Lula e a vitória de Bolsonaro, ficou muito difícil debater a Democratização da Comunicação. Era prioritário defender a liberdade de imprensa. Agora que mudou o governo se abre uma janela para voltar a conversar sobre o assunto”.

Ante a pergunta de Rosangela sobre por que esse debate não cativa à população, Miro foi enfático: “As pessoas tem um dia duro, chato, com problemas urgentes e querem esquecer tudo. Preferem assistir escândalos, programas policiais ou futebol. Não é culpa delas. Os monopólios construíram uma sociedade violenta. E as pessoas vivem presas na rádio e na televisão. Além do que, para ‘acalmar’, tem uma grade enorme de programação religiosa dentro dos canais, que são concessões públicas.”

Manipulação

Borges afirmou que “a informação às vezes é manipulada e outras vezes diretamente mentirosa ou omissiva. Por exemplo, não fala da luta dos trabalhadores porque ao banqueiro não lhe interessa, à indústria no lhe interessa. Mas, as pessoas não percebem.” Tanto que “você não paga para assistir à TV aberta nem ouvir a rádio, mas, acaba pagando quando compra um produto que é anunciado lá. A mídia cria ondas de consumo e formata valores. Está tudo naturalizado. Tem programas violentos que não deveriam existir em horário diurno” arrematou.

Os “barões” da mídia e a regulação

“Quando se tenta levantar o debate da Democratização da Comunicação, dos monopólios, etc. os chefões a mídia reagem de imediato e argumentam que queremos limitar a liberdade de expressão, uma falácia. No mundo inteiro existe a regulamentação da comunicação, só Brasil não tem. Eles interditam o debate.

Eles que amam tanto os EUA poderiam aplicar a lei dos EUA que proíbe a propriedade cruzada, mas, aqui uma mesma empresa, como a Globo por exemplo, é dona de tudo, rádio, tv, jornalistas, revistas, sites. É preciso que se analisem as outorgas do Brasil. A regulação é central. Inclusive para coibir atitudes golpistas e contra a nação.

As big techs ganham dinheiro demais com a violência, por exemplo, e nem querem saber de regulamentação. O dinheiro vai todo para eles:342 milhões de reais do governo federal foram, em 2022, direcionados para publicidade nas empresas monopólicas, com amplo crescimento de recursos direcionados às big techs.”

Alguns objetivos para o Fórum Nacional

Precisa-se discutir a diversidade e pluralidade da informação, o fortalecimento da TV Pública, a regulamentação das big techs e reduzir legalmente a possibilidade das fake news tomarem conta do espaço.

As plenárias do Fórum são o momento de fazer o debate, não podemos cometer os erros dos governos anteriores de Lula e Dilma, onde não se fez tudo o que deveria ser feito e se pagou um preço alto por isso. O debate tem a ver com a democracia que queremos.

Edição e Publicação: Tali Feld Gleiser

Raul Fitipaldi é jornalista e cofundador do Portal Desacato e da Cooperativa Comunicacional Sul.

 

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