Para o criminalista José Carlos Portella Junior, do coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia, a saída do ex-ministro da Justiça Sergio Moro selou o divórcio do presidente Jair Bolsonaro com os apoiadores da Lava Jato. “Cambaleante”, o governo se aproximou de figuras do chamado “Centrão“, partidos que se notabilizam pelo fisiologismo. Essa mudança representa o abandono, por parte do presidente, de um discurso “falacioso” de combate à corrupção.
Nesta segunda-feira (10), em depoimento no inquérito que investiga a suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, o ex-delegado-geral Maurício Valeixo afirmou que o presidente procurava alguém com quem tivesse “mais afinidade”. O primeiro substituto escolhido pelo presidente, Alexandre Ramagem, por sua vez, cobrou lealdade de Moro.
A indicação de Ramagem, próximo à família do presidente, que foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF), indica a ambição de Bolsonaro em transformar as instituições de Estado em “puxadinhos” que atendam seus interesses, segundo o advogado.
“Acabou pisando no próprio pé. Quando a coisa acabou pesando para o lado dos filhos dele, deu adeus a esse discurso falacioso de combate à corrupção. Vai usar todo o arsenal disponível para proteger a família”, afirmou Portella” aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (12).
Ele também disse que Moro e Valeixo não podem posar como “arautos da moralidade”, pois, enquanto estiveram no governo, as investigações contra a família presidencial foram “comprometidas ou paralisadas”.
Sai Moro, entra Roberto Jefferson
Concomitantemente ao racha com os lavajatistas, o ex-deputado e líder do PTB Roberto Jefferson publicou foto sua armado com um rifle, prometendo lutar “contra os comunistas”, o que ilustra a adesão de figuras do Centrão ao discurso “protofascista” da ala bolsonarista.
Estou me preparando para combater o bom combate. Contra o comunismo, contra a ditadura, contra a tirania, contra os traidores, contra os vendilhões da Pátria. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos. pic.twitter.com/wmS1tR5Kiv
— Roberto Jefferson (@blogdojefferson) May 9, 2020
Dado o declínio de popularidade do presidente, Portella Junior acredita que o apoio do Centrão deve ter “prazo de validade”. Ele também afirmou que Bolsonaro sabe “muito bem” do que gostam esses partidos, pois passou a sua vida parlamentar transitando em partidos como o PP ou o próprio PTB, expoentes do Centrão.