CASAN atrasa indenizações para comunidade do Monte Cristo

Em meio a negociações insatisfatórias, moradores atingidos têm dificuldade de retornar à rotina após desastre ocorrido

Moradores na porta da sede da Casan, na capital catarinense. Fotos: Comunicação MAB

Por Isadora Dymow(*).

Tendo passado mais de um mês do rompimento do reservatório de água, os moradores do bairro do Monte Cristo, em Florianópolis-SC, atingidos pela tragédia ainda não foram totalmente ressarcidos pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan). A Casan promove atendimentos semanais com os moradores desde o ocorrido, e a comunidade relata desgaste diante da demora do processo. Assessorias jurídicas, junto do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Defensoria Pública (DP) e movimentos sociais esta?o prestando apoio a? comunidade, e pressionando órgãos públicos para que tomem as devidas providências. Apesar das dificuldades, moradores seguem se organizando coletivamente para reivindicar as indenizações e, acima de tudo, reconquistar sua dignidade.

As primeiras indenizações foram feitas com base numa lista de bens perdidos pelas famílias, cobrindo 70% do valor dos itens. A lista foi feita a partir de um formulário, preenchido no dia da tragédia e sem que os moradores soubessem de seu uso futuro. “Naquele momento, as pessoas não tinham noção do que perderam. Elas acharam que estavam preenchendo um formulário para ter um cadastro, não que seriam pagas com base naquilo”, afirmou Rodrigo Silva, um dos atingidos. Com o desacordo, o Serviço de Assessoria Jurídica Universitária Popular (Saju), o MAB, a DP e ativistas como o Padre Vilson Groh se reuniram junto da comunidade para calcular os valores justos a serem pagos aos atingidos. Agora, a comunidade está solicitando as revisões das propostas.

A Casan passou, então, a negociar com os moradores do Monte Cristo. Para ressarcir os atingidos pelo desabamento, a companhia dividiu as perdas em cinco núcleos: bens móveis, imóveis, veículos, lucros cessantes e auxílio emergencial. A cada semana, a empresa convoca, por meio de documentos oficiais, famílias a comparecerem no Centro Integrado de Operação e Monitoramento (CIOM), onde recebem propostas de indenização referente a um dos núcleos. Segundo Rodrigo, cada vez menos famílias estão sendo chamadas para os atendimentos. “No início, atenderam 24 pessoas, depois chamaram 15, 10… teve documento em que apenas três pessoas foram chamadas.”

De acordo com o Saju, o pagamento justo das indenizações “tem se alongado de maneira revoltante”. Isabella Morais, uma das integrantes do serviço de assessoria, relatou o desacato sofrido por moradores que buscam seus direitos, uma vez que são convocados para os atendimentos com pouca antecedência e, quando chegam lá, recebem propostas semelhantes de indenização. Ela também denunciou o caráter truculento da Casan. “Uma família foi despejada do hotel em que estavam sendo abrigados após perderem a casa no rompimento, e foram barrados na sede da Casan, onde foram buscar esclarecimento. O próprio Saju já foi barrado em encontros, e apenas nos permitiram entrar se ficássemos em silêncio durante a apresentação da proposta de indenização”, disse Isabella.

A demora do ressarcimento completo pelos danos dificulta a recuperação das famílias atingidas. Moradores afirmam que os 70% de valor pagos sobre bens perdidos não foi o suficiente para reconstruir casas destruídas ou comprar um novo carro, e que a espera dos chamados para negociar com a Casan, junto dos pagamentos segmentados, impedem a retomada da rotina. “Eles acham que as pessoas podem ficar meses esperando que eles paguem o que devem, mas contas começam a vencer”, disse um dos atingidos. O MAB publicou em seu website diversas denúncias de injustiças cometidas pela Casan, como a proposta de ressarcimento de R$77 por uma moto perdida, além da falta de resposta ao pedido de idosos pela indenização dos óculos que foram perdidos na tragédia.

Ademais, a comunidade do Monte Cristo relata que se sente desamparada pelo Estado. O prefeito de Florianópolis e o governador de Santa Catarina foram à comunidade somente na semana do rompimento do reservatório, e Rodrigo afirma que não há um apoio efetivo do governo: “ficaram um dia por aqui, e depois não apareceram mais”. Não há pronunciamentos oficiais dos políticos em questão há mais de um mês.

“As pessoas esperam respeito e dignidade”, disse Rodrigo. Ao considerar as famílias que não foram contempladas pelos auxílios, que passam fome, e que estão abatidas por não poderem trabalhar, o funcionário público afirmou que “algumas situações poderiam ser evitadas se tivessem tratado as pessoas com respeito”. Isabella Morais fez coro à colocação de Rodrigo, e disse que “não apenas tem sido morosa e desrespeitosa a postura da Casan, mas os valores de indenização propostos não contemplam toda a dimensão material do dano, muito menos a moral, que nem será paga administrativamente”.

Diante da pouca transparência entre os envolvidos no rompimento do reservatório, foi criada uma comissão mista para investigar o caso. Os pronunciamentos semanais da Casan tem sido feito por meio de cartas enviadas à comissão de famílias atingidas, sem possibilidade de acesso público aos documentos. Em entrevista à ND, o presidente da companhia afirmou que a Casan tem tomado todas as providências cabíveis para acolher as vítimas da tragédia, e que a empresa responsável pela construção dos reservatórios já foi contatada, mas sem sucesso. A Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) montou uma comissão mista para investigar o rompimento do reservatório de água, e o deputado estadual Mário Motta (PSD) será relator da comissão. Ivan Naatz (PL), Maurício Peixer (PL), Lunelli (MDB) e Marquito (PSOL) também compõem a comissão, que terá 60 dias para reunir depoimentos dos envolvidos no caso.

Em meio ao estado calamitoso em que a população do Monte Cristo se encontra, a união entre moradores e apoiadores permanece forte. De acordo com o Saju, apesar das dificuldades enfrentadas cotidianamente, “os moradores têm se organizado, e têm conquistado vitórias importantes com a força da pressão coletiva, como o pagamento do auxílio emergencial”. Na segunda-feira (16), as famílias atingidas acamparam em frente ao CIOM, pressionando a Casan por justiça e reparação. Ainda não houve um pronunciamento oficial da Casan desde a mobilização.

*NOTA: A notícia foi escrita na terça-feira (17), e portanto pode estar desatualizada quanto a acontecimentos e depoimentos que tenham acontecido desde então.

* Estudante do curso de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina.

1 COMENTÁRIO

  1. Como bom acometido da síndrome de Alberto Dines, observo todos os dias ,o serviço de homogeneização de pensamento, via lavagem cerebral, com sabão envenenado, feito pela mídia hereditária local. No portal nd ,da família petrelli, a casan é um anjo da guarda. Cumpre tudo que acorda, antecipa pagamentos, é vítima tbm… ” Fico triste de minha casa e de todos os meus , não estarem em área de risco” (perto das improvisações da casan). Um dos conselheiros no Conselho de administração casan ,é Cesar Souza , o “gestor ” . Aquele que arrendou a rádio guararema para o Sr ratinho, aquele que deixou um rombo superior a R$ 1 BILHÃO, ao brincar de ser prefeito em Florianópolis. “Ainda bem que em $C não tem corrupção .”

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