Atravessamos a maior das crises, a de destruição da biodiversidade brasileira! Por Elissandro Santana.

Foto: Heiko Behn em Pixabay

Por Elissandro Santana, para Desacato.info.

De todas as crises pelas quais o mundo atravessa, em especial, o Brasil, o país que, até o momento, reúne a maior biodiversidade planetária, a crise de biodiversidade é, sem dúvida, a maior delas.

No caso brasileiro, o país vivencia essa crise de biodiversidade em decorrência de uma agenda política de destruição voltada para os interesses dos mecanismos da economia clássica e esse modus operandi é de longa data. É como se fôssemos escravos das mentalidades coloniais da época da invasão e tivéssemos absorvido, em latência, os imaginários do colonizador. Deve ser por isso que seguimos destruindo ou apoiando a política da degradação. Neste ponto residem as raízes para a mentalidade econômico-política colonial hodierna da desesperança.

Essa exploração de recursos de forma insustentável, no Brasil e no mundo, desencadeia impactos ambientais profundos em diversas frentes, com efeitos que são ou serão sentidos em cadeia, haja vista que tudo está interligado na Biosfera, ultrapassando os limites de nações e de povos. No que se refere às questões climáticas, o Brasil começou a sentir, nos últimos anos, os impactos da degradação, e essa crise se agrava ainda mais com a intensificação dos desmatamentos, das queimadas nos biomas do país e pela fragmentação de diversos habitats, fator que acelera velozmente a perda de espécies.

Diante de todo esse quadro de degradação, é preciso falar, com urgência, sobre biodiversidade com os familiares, com os amigos, com os vizinhos e com a comunidade em geral. Faz-se necessário o intercâmbio de saberes socioambientais para que a sociedade entenda parte da dinâmica da natureza e compreenda que na conservação e na preservação estão os alicerces para a continuidade de nossa existência. E mais importante do que tudo isso, é preciso fazer com que a sociedade capte que nossas escolhas políticas interferem diretamente nesta questão.

No momento, em muitas áreas do conhecimento, dentro e fora da academia, se fala sobre biodiversidade, mas pouco se aprofunda com os/as atores/atrizes sociais não acadêmicos sobre o que seria de fato isso, por isso, é urgente dialogar mais, de forma simples, a partir da educação ambiental, acerca desse fenômeno, seja em uma perspectiva conceitual ou exemplificativo-prática.

Por Biodiversidade, é necessário entender que esta se refere, diretamente, à variedade de seres vivos, considerando, sem exclusão, todas as formas e interações, porque tudo o que existe merece existir, partindo-se de uma concepção de Leonardo Boff e outros autores alicerçados em uma bioética. A biodiversidade é o caldeirão de misturas ecológicas que possibilita a continuidade da vida. É um fenômeno tão rico com características tão complexas que, por isso mesmo, demanda análises e estudos multidisciplinares para se chegar à montagem completa do quebra-cabeça. E aqui chegamos a uma noção didática muito importante, à de biodiversidade como um grande quebra-cabeça, em que cada peça se junta a outra peça para a formação de uma imagem do todo.

Para ampliar essa noção sobre biodiversidade, caro/a leitor/a, atentarei-me a três pilares que são discutidos em profundidade pela Ecologia e pela Biologia da Conservação: diversidade genética, diversidade de espécies e diversidade de ecossistemas. Nesse sentido, é importante salientar que esses três pilares se conectam diretamente e o Brasil, claramente, tem interferido nessas três linhas, basta acompanhar por meio da mídia a destruição em Biomas como o Pantanal, o Amazônico, o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica. Em meio a tudo isso, urge compreender que, ao se destruir a diversidade de ecossistemas, mexe-se, automaticamente, nos outros dois níveis, na diversidade de espécies e, consequentemente, na diversidade genética. A cada árvore derrubada, a cada área queimada, a cada lançamento de dejetos, sejam líquidos ou sódidos, a cada animal que morre nos incêndios Brasil adentro, a cada aceno para a política da destruição do meio ambiente, do qual também somos parte, morre-se um pouco a vida.

Por fim, podemos chegar a outro patamar da discussão, à ideia de que a biodiversidade ultrapassa os limites dos três pilares mencionados, da diversidade genética, da diversidade de espécies e da diversidade de ecossistemas. A biodiversidade, por ser um fenômeno complexo, como mencionado, se relaciona com todos os elementos que possibilitam a vida e pode ser discutida à luz da sociologia, das ciências políticas, das linguagens e todas as áreas do conhecimento. Nesse ínterim, vale a pena trazer a metáfora das peças de dominó ou do grande tabuleiro de xadrez, para a compreensão de que para a biodiversidade cada peça importa, da política, à economia, à cultura e fica fácil entender isso quando se percebe que a política interefre diretamente no meio ambiente e que esta se atrela aos interesses das elites dominantes. É por isso que, de forma simples, todos precisamos perceber que um voto sem compromisso com a vida pode representar a destruição ambiental e que somente a partir de uma consicência sócio-político-econômico-ambiental será possível arrancar esperança no futuro e conservar a vida!

Elissandro Santana é  Professor da faculdade Nossa Senhora de Lourdes, mestrando em Conservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável, pela ESCAS – IPÊ, membro do Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD, coordenado pela Professora Doutora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva, revisor da Revista Latinoamérica, colunista da área socioambiental, latino-americanicista e tradutor do Portal Desacato.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

 

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