Por Caroline Oliveira, para Brasil de Fato.
O presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) afirmou que todos os criminosos que destruíram bens na invasão praticada por bolsonaristas nos prédios dos Três Poderes serão alvos de ações para ressarcir o Estado.
“Não é justo que o povo brasileiro pague pela depredação feita por esses criminosos. Eles pagarão”, disse Pacheco durante a sessão que aprovou a intervenção federal na Segurança Pública do Distrito Federal.
Câmara dos Deputados
Somente na Câmara dos Deputados, cerca de 400 computadores foram destruídos, com um custo de reposição estimado em aproximadamente R$ 2 milhões. Um relatório preliminar aponta para um custo de R$ 3 milhões somente acerca de vidros, veículos e itens de mobiliário que foram destruídos.
Duas viaturas da Polícia Legislativa foram danificadas e demandarão um custo de R$ 500 mil. O conserto dos vidros externos e internos que foram quebrados custarão R$ 100 mil. Já o tapete do Salão Verde, que indica a área da Câmara dos Deputados, custará R$ 20 mil. O tapete teve diversas partes queimadas e inundadas devido ao uso de hidrantes pelos bolsonaristas.
Os bolsonaristas também danificaram dois monitores, cadeiras e uma mesa de telefone do Colégio de Líderes, que custarão R$ 10 mil para ser repostos ou consertados. As televisões que foram destruídas custarão R$ 2 mil cada.
Esses custos não levam em consideração as obras de artes que foram danificadas ou subtraídas da Câmara.
Dos 46 presentes protocolares expostos no Salão Verde, cedidos por lideranças de outros países, seis estão desaparecidos ou são considerados irrecuperáveis. Uma pérola do Catar e uma bola autografada por Neymar foram levadas durante invasão.
No relatório ainda preliminar, algumas das obras foram encontradas com danos que podem ser recuperados: Muro Escultórico, de Athos Bulcão, de 1976, com um furo na base; Bailarina, de Victor Brecheret, que foi descolada da base; e Escultura Maria, Maria, de Sônia Ebling, de 1980, que foi marcada com paulada.
Os custos com mão de obra e material necessários para reparos emergenciais, como da rede elétrica da plataforma superior do Palácio do Congresso e limpeza dos ambientes não foram levantados.
Senado Federal
No Senado, os bolsonaristas deixaram um prejuízo entre R$ 3 a R$ 4 milhões, de acordo com uma análise ainda inicial, divulgada na segunda-feira (9).
“Nós identificamos primeiro essa questão dos vidros, segundo a questão dos carpetes, terceiro a questão das obras de arte que foram danificadas e tem que ser recuperadas. Temos também o nosso material da polícia do Senado, que foi utilizado ontem e que precisamos repor”, afirmou a diretora geral do Senado, Ilana Trombka à Agência Senado.
“A gente ainda não tem um calendário que eu possa cravar. O que eu posso dizer é que nós vamos trabalhar com o mínimo de gasto de erário, com o máximo de agilidade, mas temos aqui 24 horas do ocorrido e o que foi possível fazer foi a reunião de líderes hoje pela manhã e agora [estamos] fazendo o levantamento dos danos. Agora nós vamos buscar saber item por item, o tempo da restauração ou da compra ou da manutenção ou da troca de cada um desses itens”, disse.
Na entrada do Senado, as vidraças foram pichadas e quebradas; os equipamentos de raio X utilizados para viabilizar a entrada de visitantes, destruídos, assim como cadeiras, poltronas, outros móveis e câmeras de segurança. Os carpetes foram incendiados e inundados. Na estrutura interna, a porta de vidro da entrada principal ruiu. Os vidros das janelas de gabinetes de dois senadores foram estilhaçados.
No Salão Nobre, onde ocorrem sessões de solenidade, uma obra do artista plástico Athos Bulcão e a tapeçaria do Burle Marx foram vandalizados. No Museu do Senado, cinco quadros pintados em tinta óleo também foram danificadas. Uma tela do artista gaúcho Guido Mondim foi arrancada de uma moldura e um tinteiro de bronze da época do império foi destruído.
Na galeria de presentes do Senado, objetos valiosos também foram avariados, como um presente de ouro dado pela Embaixada do Catar e o Prêmio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) entregue à CPI que investigou o extermínio de crianças e adolescentes, em 1991.
Segundo Ismail Carvalho, profissional do Laboratório de Conservação do Senado, é necessário ainda “fazer um diagnóstico minucioso em cada obra de arte que foi danificada, em cada bem cultural, mas um ato de vandalismo numa obra de arte deixa marcas perenes. Por melhor que seja o processo de restauração de uma obra, as marcas da agressão serão eternas”.
“Infelizmente, só uma tinta de restauro daquele painel [de Athos Bulcão], um tubo de 20ml, custa quase mil reais. Então o desrespeito com a história brasileira, desrespeito mesmo com o bolso de cada cidadão que vai financiar todas essas atitudes de restauro, é lamentável.”
Palácio do Planalto
Os estragos também foram expressivos no Palácio do Planalto. A comunicação do prédio afirmou que ainda não tem um levantamento detalhado de todas as pinturas, esculturas e peças de mobiliário destruídas. Mas, assim como nos outros prédios, já aponta para uma determinada quantidades de obras danificadas.
No andar térreo, a obra “Bandeira do Brasil”, de Jorge Eduardo, de 1995, foi encontrada boiando sobre a água que inundou o andar depois que os criminosos utilizaram os hidrantes. A galeria de fotos dos ex-presidentes também foi destruída. A foto de Jair Bolsonaro foi roubada. Já no segundo andar, quadros e fotografias foram danificados.
O terceiro andar, por enquanto, é o que tem mais obras destruídas. A “As mulatas”, do pintor brasileiro Di Cavalcanti, foi danificada com sete cortes de tamanhos diferentes. O valor da pintura está estimado em R$ 8 milhões.
A escultura “O Flautista”, de Bruno Giorgi, avaliada em R$ 250 mil, foi destruída e seus pedaços foram encontrados em diferentes espaços. Uma outra escultura, de Frans Krajcberg, também foi encontrada avariada em diversos pontos. O valor da peça é estimado em R$ 300 mil.
A mesa de trabalho utilizada por Juscelino Kubitscheck, feita com madeira de Jacarandá, foi usada como barricada pelos criminosos. O relógio de Balthazar Martinot, do século XVII e que foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI, foi destruído. Para o diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, a recuperação de outras peças é algo possível, mas a do relógio francês é “muito difícil”.
“O valor do que foi destruído é incalculável por conta da história que ele representa. O conjunto do acervo é a representação de todos os presidentes que representaram o povo brasileiro durante este longo período que começa com JK. É este o seu valor histórico”, comenta Carvalho. “Do ponto de vista artístico, o Planalto certamente reúne um dos mais importantes acervos do país, especialmente do Modernismo Brasileiro.”
Segundo Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), os criminosos levaram HDs e documentos levados do local. Da sala do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), também foram levadas armas letais e não letais e munições.
STF
O prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) aparenta ser um dos mais destruídos pelos criminosos. Computadores, móveis, objetos pessoais de trabalhadores, documentos e até mesmo lustres foram destruídos. Até mesmo um rasgo no teto de uma das áreas foi registrado.
No plenário do STF, as cadeiras foram retiradas e algumas levadas para fora do prédio, bem como o brasão da República que ficava atrás da cadeira da Presidência da Corte. Até mesmo a porta do gabinete do ministro Alexandre de Moraes foi arrancada e encontrada na área externa do prédio.
O ministro do STF Gilmar Mendes se emocionou, nesta terça-feira (10), ao observar o cenário de destruição deixado pelos bolsonaristas. “Me sinto um pouco muito destruído. Eu vivo há muitos anos”, disse o ministro.
O Salão Nobre do STF, que abrigava obras de arte com mais de 100 anos, também ficou completamente destruído. Os danos também chegaram ao Hall dos Bustos, onde havia bustos em homenagem a figuras como Rui Barbosa e abolicionista Joaquim Nabuco.
A obra mais antiga a ser destruída foi um vaso chinês da dinastia Shang, de cerca de 3.500 anos, que foi um presente da China à Câmara dos Deputados e que se encontrava no STF. O valor da peça era inestimável. As cadeiras utilizadas pelos ministros do STF também tinham seu toque artístico. Elas foram projetadas pelo arquiteto e designer polonês Jorge Zalszupin, sobrevivente do holocausto nazista.
Do lado de fora do STF, a famosa escultura “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti, de 1961, foi pichada com a frase “perdeu, mané”, dita pelo ministro Luís Roberto Barroso no ano passado, ao ser provocado por um bolsonarista em Nova Iorque.
O STF ainda não publicou um levantamento de todos os objetos destruídos ou roubados. O Brasil de Fato enviou um e-mail para a assessoria da Corte, mas ainda não houve um retorno.
Edição: Glauco Faria