Argentina: como entender Javier Milei?

A popularidade de Milei, candidato argentino comparado a Bolsonaro, é um fenômeno que não deve ser sobrestimado, tampouco desprezado.

Javier Milei, candidato de extrema-direita. Imagem: Celag

Por Alfredo Serrano Mancilla, Celag.

Tradução: Pedro Marin, Revista Opera.

Como acontece com qualquer novidade, é muito difícil avaliar Javir Milei, candidato de ultra-direita argentina, como um fenômeno político-eleitoral. Alguns tendem a ignorá-lo. Outros o ridicularizam. E não faltam aqueles que o engrandecem.

O segredo é não subestimá-lo, mas também não superestimá-lo. Daí a dificuldade.

Nesses casos, o mais aconselhável é evitar cair em uma perspectiva binária e simplista. Para isso, é essencial caracterizar o fenômeno de forma matizada.

Na última pesquisa da CELAG (2.002 casos, presencialmente, em todo o país, realizada entre 17 de abril e 7 de maio), Milei tem uma imagem positiva de 43% e uma intenção de voto de 29%.

O que é importante sobre essas informações não é a natureza hiperprecisa dos números. Não é assim que as pesquisas devem ser lidas. A essência está em outro lugar.

Por um lado, sua atual primeira posição nas intenções de voto deve ser relativizada. Por quê? Por dois motivos: 1) porque em termos estatísticos o que realmente existe é um empate técnico triplo (Libertários, Frente de Todos (FdT) e Juntos por el Cambio (JxC)), 2) porque quando se trata de simular o voto nas pesquisas, é apresentado um candidato definitivo com nome e sobrenome, Javier Milei, e, por outro lado, dois outros candidatos de rostos incertos.

Por outro lado, devemos diferenciar três variáveis que explicam por que parte da população está em sintonia com esse líder: 1) a ideológica, baseada em sua matriz de valores, que em algumas questões é ultraconservadora e em outras ultraliberal; 2) a messiânica, de seus modos e de suas soluções, sempre apresentadas como simples diante de problemas complexos e com efeitos imediatos (como se tudo pudesse ser resolvido por meio de um atalho); e 3) a raiva com a atual situação econômica, com a insegurança, com a maioria das instituições e, é claro, com os partidos políticos tradicionais.

Os três fatores não são mutuamente excludentes. Cada um tem sua própria intensidade, dependendo de cada caso.

Entre aqueles que estão dispostos a votar no candidato, por enquanto, o que predomina é a proximidade ideológica, embora o componente messiânico e de raiva não deva ser subestimado. Esse perfil é muito semelhante ao dos eleitores do Juntos por el Cambio, especialmente aqueles que preferem a presidenciável Patricia Bullrich. Em outras palavras, há uma rivalidade importante entre os dois.

Por outro lado, entre aqueles que têm uma imagem positiva de Milei, mas não votam nele, o que predomina é, ao contrário, os componentes da raiva e do messianismo.

Nesse grupo, em relação à questão ideológica, não há uma afinidade clara. Há uma grande heterogeneidade de ideias e posições políticas. Por exemplo, as opiniões se dividem sobre a nacionalização das empresas de lítio e eletricidade, a privatização da estatal Aerolíneas Argentinas, a eliminação de privilégios fiscais para poucos, o papel da economia popular, a importância dos direitos humanos e o reconhecimento do povo mapuche. Nesse aspecto, eles não pensam de forma tão compacta quanto os eleitores do Juntos por el Cambio.

Por outro lado, deve-se fazer uma menção especial aos jovens, com menos de 30 anos, entre os quais a imagem do Milei e a intenção de voto são muito mais altas do que a média nacional. E, nesse caso, não é a variável ideológica que explica essa maior afinidade. A causa está na raiva e no messianismo.

Por fim, também é muito necessário saber a origem do voto de Milei. A maior fuga de votos desde 2019 veio do Juntos por el Cambio (30%), especialmente de seus jovens (55%). No caso do Frente de Todos, também há uma fuga na mesma direção, mas em menor grau.

Em suma, não existe um cidadão monolítico que seja simpático a Milei. Tampouco se deve dizer que a sociedade argentina se tornou de ultradireita nos últimos anos. Não, de forma alguma. Tudo é muito mais complicado do que esse tipo de reducionismo.

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