Apesar das ameaças, falta proteção

Por Aïda Delpuech. Tradução do inglês ao português de Barbara Arisi, da Amazônia Real


Paris (França) – Jornalista incansável ao denunciar corrupção e atividades ilegais, as investigações de Rafael Moreno também renderam a ele muitos inimigos. Ameaçado durante muitos anos, Moreno pediu medidas de proteção à Unidade Nacional de Proteção (UNP) da Colômbia, pela primeira vez em 2017. Naquela época, ele era presidente da Junta de Ação Comunal – uma organização local de solidariedade – em Puerto Libertador, sua cidade natal.

Sob a supervisão do Ministério do Interior colombiano, a UNP é uma organização de segurança que coordena a proteção e realiza a escolta de pessoas ou comunidades ameaçadas por conta de atividades políticas, judiciais, jornalísticas, sindicais, comunitárias, econômicas, entre outras.

Na Colômbia, mais de 10 mil pessoas estão atualmente sob proteção da UNP, incluindo 187 jornalistas, e quase 50 mil estão protegidos de forma coletiva, de acordo com números fornecidos por Augusto Rodríguez, diretor da UNP. No departamento de Córdoba, onde nasceu Rafael Moreno, 202 pessoas estão sob a proteção da organização.

Moreno recebeu proteção pela primeira vez em junho de 2017, ganhou um guarda-costas, um colete à prova de balas e um botão de pânico. Porém, mais de um ano depois, em novembro de 2018, os riscos que ele enfrentava foram descritos como “extraordinários”. Um veículo blindado e um guarda-costas foram então acrescentados ao seu esquema de proteção.

As relações entre a autoridade de proteção e o jornalista se tornaram tensas. Em 2021, as medidas de proteção cessaram por um período de três meses, com a UNP alegando que Moreno havia “abusado de seus meios de proteção”. Ele pediu várias vezes que esta decisão fosse reavaliada, à luz das numerosas ameaças que vinha recebendo.

Em 2022, as ameaças se intensificaram. Em julho, quase dois meses antes de seu assassinato, o jornalista encontrou uma carta com uma bala no porta-malas de sua motocicleta. “Você se acha intocável porque fala publicamente, mas aqui ninguém é”, estava escrito na mensagem anônima. “Sabemos tudo a seu respeito e não o perdoaremos pelo que está fazendo”. Depois disso, seu caso foi reavaliado e ele recebeu novamente um guarda-costas.

No dia de seu assassinato, Moreno estava sozinho no restaurante que ele administrava em Montelíbano. De acordo com um comunicado de imprensa da UNP, o jornalista havia dispensado seu guarda-costas na manhã anterior. O guarda-costas desapareceu então por um período de vários dias, antes de relatar os fatos a seus superiores dois dias após o assassinato do jornalista, de acordo com informações que recebemos. Forbidden Stories tentou, sem sucesso, entrar em contato com ele.

“A pessoa responsável pelo uso de medidas de proteção é a própria pessoa protegida e se ele pedir ao [guarda-costas] para sair do local, esta decisão está fora do controle da empresa contratante e da UNP”, disse um representante da UNP em resposta às perguntas enviadas pelo consórcio, admitindo ao mesmo tempo que havia “falhas óbvias” dentro das medidas de proteção de Moreno. “As coisas não são perfeitas, [porém] temos que avançar e modernizar todo o sistema”, acrescentou Rodríguez, o diretor da UNP.

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