Amor, dor e revolta.

Foto: Claudia Weinman.
Por Claudia Weinman.

Hoje quero falar sobre amor, dor e revolta. Quero falar de um filho que viu seu pai pela última vez em um leito de UTI. Um pai que achou que podia voltar para casa depois de buscar ajuda no hospital. Um pai pedreiro, um trabalhador.

No domingo de manhã nos reunimos remotamente para estar com Wesley, nosso companheiro. Do hospital, ele pode chorar um pouco com suas companheiras e seus companheiros enquanto a família fazia a despedida de seu pai Valdir. Um caixão lacrado, uma despedida breve.

Esses dias estão carregados de dor. Tem noites que algumas coisas estranhas acontecem e nessas madrugadas rodeadas de silêncios, nem tão calados assim, sentimos por tanta dor, por tanta injustiça. São madrugadas que ficamos acordados e acordadas, pensando se o outro/a está bem e buscando manter a sanidade.

O que está acontecendo com a família do companheiro Wesley é a coisa mais desumana que vi nesses últimos dias. Bolsonaro nos tirou a dignidade de poder abraçar, de apertar as mãos de quem amamos. Nos tirou muita coisa até aqui e me preocupa o fato de termos pessoas ainda o apoiando. Enquanto existir um ser humano que pense de forma semelhante à ele, teremos grandes batalhas a vencer.

Considerei que era impossível conhecer alguém que investisse tanto em matar. E nós o conhecemos, em sua face mais perversa, mais cruel e impiedosa.

Te prometo companheiro Wesley, que por todos os dias de nossas vidas, seguiremos denunciando esses canalhas. Queria hoje levar um bolinho pra ti, te convidar para um chimarrão e conversar, enquanto o Pedro decide se toca o violão ou conversa também.

Hoje, depois da nossa conversa pela manhã, deixei o microfone aberto para que pudesse ouvi -lo dedilhar, uma melodia que nos remete a vida que construímos juntos. Pedro não participou da nossa oração, mas ele abriu o violão para te acalentar. Seu pai fez a passagem, mas de alguma forma espera que tu abras teu violão também, tua voz para seguir construindo a esperança nessa estrada de pedras.

Quando precisar chorar, chore, mas não te esqueças de levantar e não sinta vergonha de pedir ajuda quando cair. Teu lugar é fazendo luta e nós vamos nos apoiando uns nos outros, para não permitir os tropeços.

Receba uma flor, do jardim de minha mãe, para te abraçar nesse dia. Te amamos. Coragem.

_
Claudia Weinman é jornalista, vice-presidenta da Cooperativa Comunicacional Sul. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.