A carta de Bebianno é a consagração do baba-ovo na vida nacional, por Luis Nassif

Foto: Pixabay

Por Luis Nassif, Jornal GGN.

Gustavo Bebbiano não era um terraplanista qualquer. Com formação no exterior, trabalhava no prestigiado escritório de advocacia de Sérgio Bermudez.

Seu perfil, traçado pela jornalista Thais Oyamma e, agora, sua carta póstuma é uma revelação chocante da maneira como a epidemia da mediocridade se espalha por todos os círculos.

Sua declaração de amor apaixonado pelo capitão é um despropósito. É típico de classe média do Paraná, de ruralista do centro-oeste, de marombados do Rio e São Paulo. Sua tentativa de reconquistar o perdão de Bolsonaro é um dos episódios mais ridículos da história política do país, deplorável em se tratando de um documento que se tornou carta-testamento. Vale apenas pela descrição psicológica de Carlos Bolsonaro.

O que mais chama a atenção foi a tentativa do PSDB de atraí-lo, como candidato a prefeito do Rio de Janeiro. O partido, que já foi polarizador de intelectuais e técnicos, hoje em dia aceita Joice Hasselman e aceitaria Bebianno.

Não sei o que ocorre. No caso da opinião pública brasileira – incluindo a mídia corporativa – a demanda cria a oferta. Isto é, jornalistas atuam pro-ciclicamente acentuando as tendências da opinião pública paa conquistar mercado, mesmo quando vão em direção ao ódio e à guerra interna.

Como explicar que um jornalista como Alexandre Garcia, por mais de quatro décadas comentarista da principal emissora do país, considere a coronavírus uma arma da China para dominar o mundo? Será que ele acredita que nós acreditamos que ele acredita no que falou? Mas desde que haja público, que se ofereça pão e circo.

Essa mesma posição inacreditável foi expressa por José Roberto Guzzo – jornalista com biografia na imprensa brasileira – ao saudar a primeira aproximação de Bolsonaro com o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu como o fato diplomático mais expressivo das últimas quatro décadas.

Quando Veja e a editora Record descobriram o público de ultra-direita – a partir da capa sobre a campanha do desarmamento – todos os veículos trataram de abrir espaço para o colunismo de ódio. O conservadorismo mais entranhado, o liberalismo mais anacrônico, o terraplanismo mais virulento, tudo isso foi encampado pela mídia, especialmente pela Veja – sob a influência maior de Guzzo.

De repente, cria-se uma nova divisão no público, diluindo a polarização esquerda x direita e surgindo uma nova,  ciência x terraplanismo, instituições x milícias, jornalismo x fake news. E personalidades que fizeram nome em um mundo supostamente racional – mesmo com todas as manipulações midiáticas da última década – de repente se arvoram em profetas do terraplanismo mais charlatão possível. A ponto de agredir em público jornalista que ouse confrontar suas crenças.

Essa loucura fundamentalista ainda não foi suficientemente analisada. Estudou-se apenas o ângulo dos zumbis do bas-fond, da chamada ralé política e econômica. Falta entender do ramo do marketing pessoal.

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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